Abraçado pelo Oceano Atlântico, o Arquipélago dos Açores, detém no mesmo, uma das suas maiores fontes de riqueza. Quer seja pelas espécies marítimas que por cá passam e que deslumbram quem os avistam, quer pelo património marítimo presente em embarcações naufragadas em tempos longínquos, a verdade é que a preservação da riqueza do nosso mar é determinante nos dias que correm.
É da necessidade de valorizar e proteger o “nosso” mar, que nasce o programa Blue Azores, em parceria com o Governo dos Açores, a Fundação Oceano Azul e o Instituto Waitt, que conjuntamente ambicionam garantir um oceano saudável.
Para este feito, decorre de 19 de Setembro a 28 de Outubro um inquérito sobre o Mapeamento dos Usos dos Oceanos, cujo intuito recai na indicação e na classificação das zonas costeiras, que cada pessoa, mais usa e valoriza.
O Diário dos Açores, esteve à conversa com Ana Monteiro, activista ambiental, para ficarmos a conhecer um pouco mais sobre este projecto e percebermos como podemos contribuir com o mesmo na salvaguarda do mar que nos rodeia e encanta milhares que aqui “ancoram” para nos visitar.
Fale-nos um pouco sobre si.
Chamo-me Ana Monteiro e há muitos anos que me preocupo com a defesa do património ambiental dos Açores. Há um ano que trabalho no programa Blue Azores porque considero que é uma oportunidade de dar o meu contributo numa missão que considero estratégica e urgente: proteger o mar dos Açores que é único, extraordinário, mas também frágil.
Como surgiu o conceito do Programa Blue Azores? Em que consiste o mesmo? Quais os seus objectivos?
O Blue Azores nasce de uma parceria entre o Governo Regional dos Açores, a Fundação Oceano Azul e o Instituto Waitt, que se uniram em torno de uma visão comum que é a de proteger, promover e valorizar o capital natural marinho dos Açores. Esta missão é sustentada pela ambição de garantir um oceano saudável que sirva de base de uma economia azul próspera e sustentável.
Este programa, liderado pelo Governo dos Açores, é baseado no conhecimento científico produzido pela Universidade e cientistas dos Açores e apresenta como principais objectivos, proteger 30% do Mar dos Açores através de Áreas Marinhas Protegidas (AMP), com pelo menos 15% da área em novas AMP totalmente protegidas onde não são permitidas actividades extractivas; implementar planos de gestão para todas as áreas marinhas protegidas, as que irão ser designadas e para as já existentes; implementar um plano de ordenamento do espaço marinho e melhorar a gestão de pescas.
De 19 de Setembro a 28 de Outubro, decorre a terceira e última fase de um processo de inquérito do Mapeamento dos Usos do Oceano, junto da população açoriana, mais concretamente das ilhas de São Miguel, Terceira e São Jorge. Qual a finalidade do mesmo? Que factores impulsionaram a criação deste processo de mapeamento?
Este inquérito do Mapeamento dos Usos do Oceano visa conhecer melhor o modo como cada pessoa usa e valoriza o nosso Mar e é uma oportunidade para os Açorianos se pronunciarem acerca do seu futuro.
Os participantes são convidados a indicar e a classificar, por grau de importância, as zonas costeiras que mais utilizam e valorizam. A informação obtida neste inquérito será trabalhada e transposta para mapas ilha a ilha que indicarão, por exemplo, as áreas mais importantes para as pescas mas também zonas consideradas importantes para o turismo ou reservadas a actividades lúdicas.
Quem participa neste inquérito tem a oportunidade de contribuir para aprofundar os dados científicos existentes, ajudando a complementar a informação relativa às actividades que ocorrem nas zonas costeiras do arquipélago.
O conhecimento de cada Açoriano que participar será depois integrado e valorizado no processo de tomada de decisão para a definição e implementação da rede de Áreas Marinhas Protegidas dos Açores.
Os resultados obtidos serão apresentados de forma confidencial, pelo que nenhuma informação pessoal ou localização específica será tornada pública. É um processo participativo e democrático, que dá a hipótese a cada açoriano de poder contribuir para a protecção e gestão do seu mar.
Como tem sido, até ao momento, a participação por parte da população nos mesmos?
Nas 6 ilhas onde este processo foi já concluído tivemos uma excelente participação e estamos confiantes de que em São Miguel, Terceira e São Jorge decorrerá da mesma forma. Aliás, temos vindo a registar nestas ilhas um número bastante interessante de respostas, seja directamente na plataforma ou através dos nossos entrevistadores, o que sublinha a importância que os Açorianos atribuem ao Mar.
Caso as pessoas estejam interessadas em participar como o podem fazer?
As pessoas que estiverem interessadas em participar poderão fazê-lo através do nosso site https://pt.blueazores.org/mapeamentodosusosdooceano ou agendando uma reunião (através do email info@blueazores.org) com os entrevistadores que estão no terreno, que irão disponibilizar todo o suporte técnico. A sessão deverá durar cerca de 20 minutos.
No vosso site é possível constatar que têm um programa “Educar para uma Geração Azul”, cujo trabalho é direccionado para o aprendizado relativo a práticas relacionadas com o oceano. Com uma geração cada vez mais voltada para salvaguarda do planeta, como nós, enquanto espectadores podemos melhorar a nossa visão e conhecimento sobre os nossos oceanos.
O programa “Educar para uma Geração Azul” tem como objectivo aumentar a literacia azul nas escolas, formando professores do 1ºciclo do ensino básico, e disponibilizando-lhes materiais pedagógicos, um currículo sobre o oceano e um extenso manual, desenvolvido com conteúdos específicos sobre o Mar dos Açores e homologado pela Secretaria Regional da Educação e dos Assuntos Culturais.
Abordando a literacia azul de forma holística, os alunos aprendem sobre o oceano através de actividades de ensino práticas, que abrangem temáticas como a literatura, ecologia, geografia e economia.
No seu primeiro ano, o programa “Educar para uma Geração Azul” formou nos Açores 377 professores do 1ºciclo do ensino básico em 96 escolas distribuídas por 8 ilhas, alcançando assim mais de 4.000 alunos. Gostaríamos que este programa chegasse a todas as escolas da Região.
Esta é uma das formas de disponibilizar conhecimento sobre o nosso mar que, acreditamos, poderá ter impacto e, quem sabe, iniciar uma mudança. Mas não são apenas as crianças que deverão ter essa responsabilidade. Todos nós devemos procurar instruir-nos sobre a importância do Oceano e adoptar comportamentos que lhe sejam benéficos, ou, pelo menos, que não sejam prejudiciais.
O Programa Blue Azores possui novos projectos ou investimentos a fazer nos próximos tempos?
O programa Blue Azores está focado no que considera ser crucial neste momento, face à emergência climática e à extinção em massa das espécies: criar mecanismos de protecção do Mar dos Açores, como as Áreas Marinhas Protegidas, para que os efeitos nocivos das alterações climáticas e da sobre-exploração dos recursos possam ser mitigados.
Para isso contamos com o melhor conhecimento científico produzido pelos cientistas açorianos e pela Universidade dos Açores e com a participação de todos que estiverem dispostos a ajudar. Cada Açoriano deverá ter um papel a desempenhar na protecção do nosso Mar.
por Ana Catarina Rosa *
*jornal@diariodosacores.pt