Do alto dos seus respeitáveis 153 anos de publicação ininterrupta, o Diário dos Açores é agora, porventura, o título açoriano mais comprometido com a nossa diáspora.
Tem um acordo de republicação com o Portuguese Times, da Nova Inglaterra, mantém correspondentes em Toronto (Rómulo Ávila) e Montreal (Norberto Aguiar), acolhe colaboradores da Califórnia (Diniz Borges) e de Santa Catarina (Lélia Nunes).
O quotidiano mais antigo dos Açores, fundado a 5 de fevereiro de 1870 por Tavares de Resende, assume assim boa parte da Açorianidade no mundo, trazendo-nos importantes comunidades de açorianos e açordescendentes dos Estados Unidos, do Canadá, do Brasil.
Honra a boa tradição de uma imprensa resistente nas duas margens do “Rio Atlântico”, como diria Onésimo Teotónio de Almeida, também ele colaborador pontual do Diário dos Açores a partir da sua “L(usa)lândia”.
De facto, lá como cá, a imprensa portuguesa de inspiração açoriana é símbolo de identidade e troféu de perenidade.
Nos Açores
Estamos nos Açores há 600 anos. Desde há 400 anos que emigramos. Desde há 200 anos que comunicamos.
A distância, a dimensão e a descontinuidade do nosso território determinaram a necessidade de comunicarmos, nas ilhas, entre as ilhas, do exterior e para o exterior.
O primeiro órgão formal de comunicação social conhecido nos Açores foi o periódico liberal Crónica da Terceira, fundado em Angra no ano de 1830.
Desde então, cerca de dois mil títulos foram publicados em todas as nove ilhas, com diferentes propósitos e caraterísticas, com diversa periodicidade e longevidade.
De entre todos impõe-se destacar os três diários centenários que ainda hoje se publicam na cidade de Ponta Delgada.
O Açoriano Oriental, fundado logo em 1835, que é o mais antigo jornal português e um dos títulos mais resistentes de toda a imprensa europeia, mas também o Diário dos Açores, já com mais de um século e meio, e o Correio dos Açores, que se fez centenário em 2020.
Na rádio, o Emissor Regional dos Açores da Emissora Nacional assegura o serviço público desde 1941, hoje como Antena 1 Açores, partilhando o espectro radiofónico açoriano, ainda nos anos quarenta, com os persistentes Clube Asas do Atlântico, em Santa Maria, e Rádio Clube de Angra, na ilha Terceira, a que se acrescentaram as novas rádios de frequência local, a partir de 1989, um pouco por todos os 19 concelhos.
Na televisão, o Centro Regional dos Açores da RTP mostra as ilhas aos próprios açorianos e ao mundo exterior desde 1975, conhecendo depois projetos alternativos de esforço privado, como a SMTV e, agora, a VITEC Azores TV.
Hoje, temos nos Açores cerca de duas dezenas de jornais, duas dezenas de rádios, duas estações de televisão, para referir apenas os formatos convencionais, sem contar com inúmeros instrumentos informativos em suporte digital.
Na América
No outro lado do Atlântico, considerando aqui somente as comunidades portuguesas dos Estados Unidos, maioritariamente açorianas, é também antiga e importante a presença e a missão da comunicação social, para manter e afirmar a marca distintiva da nossa identidade.
Remonta ao século XIX o histórico legado da imprensa luso-americana, com A Voz Portuguesa fundada na Califórnia em 1870 – o mesmo ano do Diário dos Açores – ou o Jornal de Notícias editado na Pensilvânia em 1877.
De entre os títulos ainda em publicação destacam-se o Luso-Americano, com 95 anos em Newark, New Jersey; o Portuguese Times, com 52 anos em New Bedford, e O Jornal, com 48 anos em Fall River, ambos em Massachussets; ou ainda o Tribuna Portuguesa, com 44 anos em Modesto, Califórnia.
Sem esquecer as indispensáveis presenças de rádio e televisão que preservam a língua portuguesa e afirmam a cultura açoriana, de costa a costa, na grande nação americana.
Portanto, a par do novo paradigma das redes sociais, a comunicação social tem e mantém uma importância estruturante para a boa “Açorianidade” de Nemésio nas duas margens do “Rio Atlântico” de Onésimo.
Nem podia ser de outra forma.
Segundo os censos norte-americanos do ano 2000, com as estimativas subsequentes, residem oficialmente nos Estados Unidos cerca de 1 milhão e 370 mil portugueses e lusodescendentes.
Destes, 160.000 ainda vieram de Portugal, mas 1 milhão e 100 mil já nasceram nos Estados Unidos – o que suscita uma reflexão pertinente sobre novos conteúdos mediáticos para as novas gerações contemporâneas.
A Califórnia é o Estado com maior presença portuguesa, totalizando oficialmente mais de 330.000 imigrantes, maioritariamente provenientes do Arquipélago dos Açores e, especialmente, das cinco ilhas do grupo central.
No Estado de Massachusetts, a população portuguesa oficialmente registada era de 280.000 imigrantes, também sobretudo de origem açoriana, mas aqui especialmente provenientes das duas ilhas do grupo oriental.
Também na Nova Inglaterra, o mais pequeno dos estados norte-americanos, Rhode Island, regista uma presença portuguesa proporcionalmente significativa, com cerca de 90.000 imigrantes registados, maioritariamente da ilha de São Miguel.
Portanto, só nestes três estados, estamos a falar de um número potencial de emigrantes açorianos e açordescendentes que é três vezes superior à atual população dos Açores.
Ora, isso justifica todos os esforços que possamos fazer – poderes públicos e entidades privadas – para aproximar os Açores e os Estados Unidos, como a América do Norte em geral, afirmando a identidade açoriana no lado de lá e aproveitando o potencial americano no lado de cá.
Nas Duas Margens
É imperativo que se conheça nas ilhas, cada vez mais e melhor, a dimensão e o dinamismo da diáspora açoriana da América Norte, ao mesmo tempo que importa atualizar e intensificar o conhecimento exterior dos novos Açores.
Nos Açores, quanto mais conhecidas forem as nossas comunidades, mais estimada, considerada e respeitada será a nossa diáspora – como, aliás, bem merece.
A comunicação social é fundamental para essa consciência. E a cooperação mediática é determinante para essa aproximação.
Foi por isso e para isso que nasceu a ADMA – Azores-Diaspora Media Alliance, em 2022, por impulso da Direção Regional das Comunidades e por decisão dos diretores de órgãos de comunicação social dos Açores e da América do Norte.
Ela foi coletivamente desejada num primeiro encontro realizado em maio, em Ponta Delgada e Angra do Heroísmo, e foi formalmente constituída num segundo encontro realizado em outubro, em Fall River e New Bedford.
Pode ser um ponto de viragem nas relações bilaterais entre os órgãos de informação dos Açores e da Diáspora. E, considerando a importância dominante da comunicação contemporânea, pode ser o momento fundacional de um tempo novo no mútuo conhecimento da realidade açoriana nas nossas ilhas e nas nossas comunidades.
Ficam assim criadas as condições para que se conheça melhor nos Açores a realidade atual da diáspora açoriana e, ao contrário, para que as nossas comunidades acompanhem, sempre e cada vez mais, a atualidade informativa das suas ilhas de identidade materna e de referência permanente.
Foi detetada a necessidade, foi manifestada a vontade, foi criada a oportunidade, está concretizada a capacidade.
Só no último trimestre de 2022, a ADMA somou mais de meia centena de meios de comunicação dos Açores, Estados Unidos e Canadá, sob a dinâmica coordenação executiva do PBBI – Portuguese Beyond Borders Institute da Universidade Estadual da Califórnia.
Agora, esta plataforma pioneira de entendimento e cooperação, tanto pode ser uma ilusão efémera, como uma duradoura realidade, concreta e consequente.
Aos órgãos de comunicação que asseguraram a sua fundação e aos órgãos de comunicação que se associarem à sua evolução caberá determinar a utilidade, a operacionalidade e a perenidade desta boa intenção.
Trata-se aqui de um imperativo histórico. Por causa da comunicação social e por causa da diáspora açoriana.
Alargamos assim o espírito diaspórico do próprio Diário dos Açores, que bem merece este tributo em dia de aniversário.
José Andrade*
* Diretor Regional das Comunidades