[EasyDNNnews:IfMediaType:Image]
[EasyDNNnews:Title] [EasyDNNnews:IfExists:GalleryBackLink] [EasyDNNnewsLocalizedText:ViewInGallery] [EasyDNNnews:EndIf:GalleryBackLink]
[EasyDNNnews:EndIfMediaType] [EasyDNNnews:IfMediaType:EmbedMedia]
[EasyDNNnews:MainMedia] [EasyDNNnews:IfExists:GalleryBackLink] [EasyDNNnewsLocalizedText:ViewInGallery] [EasyDNNnews:EndIf:GalleryBackLink]
[EasyDNNnews:EndIfMediaType]
[EasyDNNnews:Author:Link]
[EasyDNNnews:Categories separator=", "]

[EasyDNNnews:Title]

[EasyDNNnews:IfExists:ArticlePreviousNext]
[EasyDNNnews:IfExists:PreviousArticleLink]
[EasyDNNnewsLocalizedText:PreviusArticle] [EasyDNNnews:PreviousArticle:IfExists:Image] [EasyDNNnewsLocalizedText:PreviusArticle] [EasyDNNnews:PreviousArticle:EndIf:Image] [EasyDNNnews:PreviousArticleTitle]
[EasyDNNnews:EndIf:PreviousArticleLink] [EasyDNNnews:IfExists:NextArticleLink]
[EasyDNNnewsLocalizedText:NextArticle] [EasyDNNnews:NextArticle:IfExists:Image] [EasyDNNnews:NextArticleTitle] [EasyDNNnews:NextArticle:EndIf:Image] [EasyDNNnews:NextArticleTitle]
[EasyDNNnews:EndIf:NextArticleLink]
[EasyDNNnews:EndIf:ArticlePreviousNext]

A comemoração de mais um aniversário da fundação do Diário dos Açores, mesmo quando não coincide com datas redondas, como por exemplo, bodas de prata, bodas de ouro, centenário e sesquicentenário, conduz-nos, inevitavelmente, a uma navegação em redor da história do jornal, dos seus objectivos, de sucessivas direções, do corpo redatorial, dos seus colaboradores permanentes ou eventuais, todos empenhados na defesa e na valorização dos Açores e dos açorianos.
O assinalar de efemérides, sejam elas quais forem, desperta a prolixidade lacrimosa do passado remoto e do passado mais próximo, deixando – nos envolvidos «sob a cinza do tédio». Um dos meus mestres, António Sérgio, a propósito de uma passagem d’ A Relíquia de Eça de Queirós, e de uma das personagens mais famosas do romance, o inesquecível Topsius – da «imperial Alemanha» – ao referir-se ao também inesquecível Raposão, o companheiro português na viagem à Palestina, comentava a insólita situação de andar sempre acompanhado pelos «ossos dos seus avós enrolados em papel de embrulho». A partir desta circunstância António Sérgio denunciou uma das tendências muito portuguesas, “a nossa obcecação do osso, do morto, do antepassado (...), em proporções atemorizadoras e quase trágicas”. Trata-se ainda – e no entender de António Sérgio, de uma componente fatídica da nossa cultura: «a preocupação excessiva com os mortos, em contraste com uma incapacidade generalizada para lidar com o presente». Daí a multiplicidade de comemorações, de trasladações, das guerras e das guerrilhas em torno da memória.
Em diversas conjunturas políticas e sociais, o Diário dos Açores constitui um repositório da realidade quotidiana de Ponta Delgada, da ilha de São Miguel, das outras ilhas e, simultaneamente, do panorama nacional e internacional, em particular da diáspora açoriana através do mundo. Conjuga as reminiscências do passado, com a necessidade de encontrar soluções para os problemas atuais e responder às exigências do futuro. Aposta na autonomia política e administrativa, na educação, na economia, na justiça, na saúde, na investigação da ciência, no investimento na construção e remodelação de hospitais, na formação de médicos, de enfermeiros, de assistentes operacionais e na mobilização de todos os recursos capazes de proteger a vida humana.
Faz parte da história centenária deste jornal a salvaguarda do património cultural, natural e imaterial. A candidatura de Ponta Delgada Capital Europeia da Cultura 2021-2027, não teve os resultados desejávamos. Contudo, já ficou assente que há espaço para a introdução de «novas formas de cumprir os desígnios a que a candidatura se propôs, alinhados com a Estratégia Cultural de Ponta Delgada» e, sobretudo, o que se deve «pensar sobre o que se aprendeu com este processo, o que correu bem, o que deve ser melhorado e o que deve ser continuado».  
Entre tantas e tantas prioridades, permito-me, numa edição do aniversário do Diário dos Açores, regressar a um tema muitas vezes debatido neste jornal: a requalificação da Calheta de Pedro de Teive, atingida por um dos «mamarrachos» que desfiguram a cidade. A Câmara de Ponta Delgada, como escreveu Tomaz Mota Vieira, não pode nem deve ficar reduzida «a meras promessas em vésperas de eleições autárquicas, para agradar à população» da cidade. O anúncio de requalificação feito por Maria João Duarte, na altura presidente em exercício do Município de Ponta Delgada, merece ser concretizado. Perante o cenário que deparamos, com indignação e tristeza, resta-nos, a revisitação ocasional da notável pintura de Domingos Rebelo ou das não menos notáveis fotografias de António Raposo e Gilberto Nóbrega, que retrataram, a autenticidade da Calheta de Pedro de Teive.
Não é despiciendo lembrar, por exemplo, que o Presidente da Câmara de Viana do Castelo, sujeitando-se um preço eleitoral bastante caro, não hesitou, nos últimos dias do mandato, em acelerar a total demolição do edifício Coutinho – a famigerada aberração arquitetónica de Viana do Castelo – onde habitavam mais de 300 pessoas, um pouco menos do que a população da ilha do Corvo. Voltou a explicar, em termos categóricos, que estava a cumprir uma reivindicação, com mais de 50 anos e agora de novo reclamada, para Viana do Castelo preencher as condições reclamadas para se candidatar a Capital Europeia da Cultura.
A decisão revelou coragem política e a consciência de que o património edificado e a paisagem natural são fatores primordiais.
O Diário dos Açores, por várias vezes, salientou a urgência da concretização da requalificação da Calheta de Pedro de Teive e, volto a citar, «símbolo do nascimento da cidade há mais de cinco séculos».
Que hipóteses terá Ponta Delgada em vir a ser Capital Portuguesa da Cultura em 2026, em competição com duas outras cidades: Aveiro e Braga?
Uma recente declaração do Ministro da Cultura revelou que esta disputa «traz consigo dois milhões de euros disponibilizados pelo Ministério da Cultura a cada uma das cidades, abre uma porta para a continuidade e para a garantia do legado».
Só que é preciso pensar – acentuou perentoriamente – que «o projeto CEC não é replicável à escala de uma Capital Portuguesa da Cultura, por isso há que tomar opções, estabelecer prioridades e definir estratégias».
Estamos perante um alerta dirigido aos responsáveis autárquicos e ao próprio Governo Regional.
Será autorizada a construção ou a permanência deste e de outros «mamarrachos concebidos por empresas privadas sob contrapartidas financeiras» susceptíveis de adulterar a configuração da Lagoa das Furnas, das Sete Cidades, da Lagoa do Fogo, do litoral dos Mosteiros, dos Fenais da Luz, da Ribeira Grande, do Nordeste, da Povoação, de Vila Franca e da Caloura? Os percursos das candidaturas das capitais europeias da cultura vão integrar os roteiros de Ponta Delgada e de outras cidades vilas e freguesias da região dos Açores. Todas estas cidades e as suas extensões geográficas terão, por múltiplos aspetos e qualquer deles da maior importância, uma significativa visibilidade regional, nacional e internacional
Paisagem é património. Requer a sua defesa e a sua valorização. Assim o tem feito o Diário dos Açores sob a direcção do meu colega Osvaldo Cabral, em artigos de opinião, em reportagens, entrevistas e outras componentes da agenda quotidiana. As arquiteturas contemporâneas têm sítios próprios, para a afirmação da modernidade. As novas construções inseridas em malhas tradicionais, não podem, nem devem descaracterizar o enquadramento urbano, as singularidades do interior e os contornos da orla marítima. Se assim não for, destroem-se os vínculos da cidadania, os laços da solidariedade e os fatores elementares da cultura que definem a permanência da nossa identidade.

António Valdemar*

*Jornalista, carteira profissional número Um

Share

Print

Theme picker