O Presidente da Eletricidade dos Açores (EDA) disse que a produção de energia na Região ainda é mais cara do que no continente português e alegou que a liberalização do mercado podia implicar uma diferenciação de preços por ilha.
“Na mera hipótese de se avançar para uma liberalização do mercado elétrico regional, é legítimo perguntar se estamos disponíveis para aceitar preços de electricidade diferentes em cada ilha, uma vez que os custos de produção são muito diferentes de ilha para ilha”, questionou o Presidente do Conselho de Administração da EDA, Nuno Pimentel.
O responsável pela empresa, detida em 50,1% pela Região Autónoma dos Açores, falava, em Angra do Heroísmo, na inauguração do novo sistema de armazenamento de energia da ilha Terceira.
As câmaras de comércio e a Federação Agrícola dos Açores contestaram o aumento do preço das tarifas da electricidade de baixa tensão especial e média tensão, aplicadas em Janeiro de 2023, na Região, alegando que podiam rondar entre 40 a 60%.
O Presidente da EDA reconheceu as “enormes dificuldades” que os aumentos, “decretados pela entidade reguladora [dos serviços energéticos]”, estão a provocar nos “consumidores afectados”, mas disse que é preciso ter “noção” da realidade e da dimensão dos Açores.
Nuno Pimentel salientou que os Açores têm “nove mercados isolados”, porque não é “técnica e economicamente viável” transportar electricidade por cabos submarinos na Região.
Segundo o Presidente da EDA, o arquipélago ficou excluído do mercado liberalizado europeu “por decisão da Comissão Europeia”, por se integrar nas “micro-redes isoladas”.
“A maior ilha da Região, São Miguel, teve um consumo anual de energia de 424 gigawatts, em 2022. Também em 2022, o consumo total dos Açores foi de 768 gigawatts, ou seja, estamos muito distantes dos 3.000 gigawatts, dimensão considerada mínima para um mercado liberalizado eficiente”, apontou.
Nuno Pimentel sublinhou que os custos de produção de electricidade nos Açores “sempre foram e são muito superiores aos do continente”.
“Antes da aplicação do princípio de convergência tarifária, as tarifas de electricidade dos Açores eram cerca de 39% superiores às do continente”, apontou.
O “custo real” do sistema eléctrico dos Açores é, segundo o Presidente da EDA, “muito superior às tarifas que são cobradas aos consumidores na Região”.
“Em 2023, este sobrecusto vai ascender a mais de 117 milhões de euros, que serão suportados pelo sistema eléctrico nacional”, referiu.
Novo sistema na Terceira
Quanto às reivindicações de redução do preço da electricidade, devido ao aumento da penetração de energias renováveis, o responsável da eléctrica açoriana frisou que essas energias “não se conseguem a custo zero”.
“São necessários investimentos significativos e as tecnologias de produção e armazenamento utilizam metais raros, que são escassos e na maioria também localizados em países com limitações geopolíticas equivalentes aos combustíveis fósseis”, vincou.
A EDA inaugurou um novo sistema de armazenamento de energia na ilha Terceira, que vai permitir reduzir o consumo de fuelóleo e aumentar a quota de renováveis “para mais de 50%”.
“Mais de 1.000 toneladas de fuelóleo que deixam de ser gastos, por ano, na ilha Terceira, na economia da importação a que estamos sujeitos quanto a este recurso, menos de cerca de 3.600 toneladas de emissões de CO2 por ano. Eis uma vantagem para, em futura elaboração de mercados voluntários de créditos de carbono, apontarmos relativamente à sustentabilidade ambiental das nossas ilhas”, afirmou o Presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, na inauguração da infra-estrutura, em Angra do Heroísmo.
Orçado em cerca de 14 milhões de euros, o novo sistema de armazenamento de energias por baterias foi financiado em 85% por fundos comunitários.
Tem uma potência instalada de 15 megawatts, distribuída por seis inversores, e uma capacidade de armazenamento de 10,5 megawatts/hora, no fim de vida útil.
O novo sistema inclui um ‘software’ de gestão de micro redes, instalado pela primeira vez em Portugal, que foi concebido pela EDA e desenhado por um consórcio formado pela Siemens e pela Fluence, com a colaboração de outras entidades.