Diário dos Açores

Quem engana quem?

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O que estamos a assistir nos últimos meses, no país e nos Açores, na espiral de preços dos bens alimentares é pura especulação, para não lhe chamar, nalguns casos, autêntico roubo.
Alguém se está a aproveitar da crise inflacionista, que até está a abrandar, para encher os bolsos à custa da desculpa da guerra da Ucrânia.
Esta ganância é bem visível na nossa região, onde deparamos, todos os meses, com aumentos de preços de produtos que não sofreram alteração no custo de matéria prima, nem na origem do respectivo produtor.
O Presidente da Federação Agrícola dos Açores, Jorge Rita, ainda esta semana veio denunciar isso mesmo, a propósito da subida de preços de produtos lácteos, sem que o produtor tenha beneficiado ou contribuído para isso.
No final do mês do ano passado já tínhamos alertado aqui para a urgência das autoridades regionais aumentarem as acções de fiscalização e, depois, apelamos ao governo que dotasse a Inspecção de Actividades Económicas do reforço dos meios para uma acção mais consistente e frequente aos estabelecimentos comerciais da região.
Ao que parece, tal não aconteceu, verificando-se mais acções por parte daquela entidade fiscalizadora, é verdade, mas em número insuficiente para a quantidade de casos de subida de preços sem explicação, com relatos de consumidores que se sentem espoliados nalguns produtos que têm um preço na prateleira, mas quando pagam no caixa, o preço é outro... mais caro.
Esta ganância, que tem excepções entre muitos comerciantes, precisa de ser fiscalizada a pente fino e penalizar os prevaricadores com toda a justiça.
A percepção que existe nos consumidores é que há muito “deixar andar” e alguma impunidade, não se conhecendo nenhum caso concreto que sirva de exemplo a outros.
Uma inflação de 20% na categoria dos bens alimentares e bebidas não alcoólicas é um exagero face à inflação geral de apenas 8%, com a agravante de muitos produtos hortícolas, sem grandes custos de produção, registarem aumentos de mais de 50%!
Já tínhamos a ganância da banca portuguesa, a mais cara da Europa, que se está a “lambuzar”, por estes dias, com os lucros exagerados das suas operações, sem facilitar a vida aos clientes, cada vez mais esmirrados com aumentos de taxas e comissões, e agora também nos entra pelo bolso dentro a mão invisível de empresários, sem dó nem piedade.
É preciso seguir todo o circuito dos produtos com preços especulativos, desde o produtor ao comerciante, passando pela distribuição, para saber quem está a meter dinheiro ao bolso à custa do consumidor, porque a fiscalização é deficiente, demorada e sem recursos.
Se as autoridades querem uma sociedade justa e mais equitativa, então têm aqui uma bela oportunidade para demonstrarem que estão ao lado dos cidadãos.
Lá fora vemos a ASAE, todos os dias, a informar o público sobre as suas actividades nesta área. Por cá, reina o silêncio.
Há por aí muita gente a entrar no limiar da pobreza, mesmo com rendimentos de trabalho, porque existem outros que não têm um mínimo de justiça e bom senso, especulando com aquilo que é mais essencial à mesa das famílias.
É preciso olhar para o problema com emergência e prioridade, em vez de se ocuparem nas tricas políticas a ver quem mais engana quem.
Haja bom senso!

Osvaldo Cabral *
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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