Diário dos Açores

Construir o futuro com memória

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A diversidade cultural e etnográfica inculcada pelos povoadores na sua vivência insular foi um processo contínuo e dinâmico.
Em cinco séculos de inculturação dificilmente se consegue pormenorizar com quem, onde, quando e como ele se iniciou e desenvolveu.
O que desde então nos une - e essa é uma certeza insofismável - é a língua. As manifestações culturais, o folclore, o artesanato e o “modus vivendi” afirmaram-se consoante as condicionantes geográficas.
O mesmo não aconteceu com as manifestações religiosas, certamente fruto da unidade dogmática, catequética e ritual que as ordens monásticas, nomeadamente a franciscana, promoveram na sua ação educativa.     
A presença e organização da Igreja Católica nos Açores ajudou não só a unir as ilhas e o arquipélago, como a instalar a administração pública e o processo económico, com a natural anuência dos povoadores na construção dos seus destinos. Tendo certamente em conta as regras e ideologias de então e a natural evolução dos tempos.
Sendo certo que a construção das sociedades é lenta e progressiva – só as revoluções operam ruturas – muitas das vivências mantiveram-se ao longo dos séculos.
Hoje é hábito recordar a diversas formas de vida e os antigos divertimentos, seja, por exemplo, através da música folclórica, da culinária tradicional, ou do artesanato.
Este voltar atrás na roda imparável do tempo tem a vantagem de compreendermos melhor como se chegou até aqui e como viveram os nossos antepassados.
É um processo saudável que nenhuma sociedade, por mais desenvolvida que seja, pode desvalorizar.
A “heritage” (herança) como designam os norte-americanos, ou as instituições museológicas abrangem todas as atividades humanas, sendo autenticas escolas da nossa história coletiva e do nosso processo identitário.
Vem todo este arrazoado a propósito de uma iniciativa realizada pelo Município de Leiria intitulada: “Leiria há 100 anos”.
No passado fim de semana, cerca de mil figurantes procuraram transmitir como era a cidade do Liz em 1923, no rescaldo II Guerra Mundial.
A iniciativa organizada pelo Município e pela Associação Folclórica da Região de Leiria – Alta Estremadura (ver fotos), procurou transmitir como se divertiam e jogavam os habitantes daquela época, a sua gastronomia, casas de pasto e tabernas, o artesanato e os mercadores que então animavam a cidade duas vezes por semana, como hoje ainda acontece.
A recreação histórica teve atuações musicais, animação itinerante, jogos tradicionais e jogos infantis de outros tempos, realizados por 18 Ranchos Folclóricos, 12 grupos de teatro, 4 grupos etnográficos, convidados de várias regiões do país, que garantiram a animação fixa e deambulante pela Cidade.
Neste tempo do ano em que a maioria das localidades, vilas e cidades açorianas celebra as suas festas de Verão, julgo que os bons exemplos devem ser seguidos.
Angra do Heroísmo já o faz há anos, sempre com uma criatividade invejável. Outros municípios, como a Ribeira Grande, na festa da flor, têm idênticas iniciativas, sempre com o aplauso e envolvimento das populações.
Noutras localidades, porém, as manifestações etnográficas tendem a repetir-se de ano para ano. Falta imaginação para encontrar outras formas de reviver o que fomos em épocas recuadas, talvez por não envolvermos nessas iniciativas grupos cívicos e culturais.
Os cortejos de carros alegóricos são manifestações interessantes, mas há que ir mais longe, instalando, nas zonas urbanas mais centrais e movimentadas esses ambientes antigos para avaliarmos como era o viver de então.
Também aqui nos Açores, certamente por influência do ensino e do conhecimento da história local, estamos a assistir à divulgação nas redes sociais de imagens antigas dos mais variados espaços urbanos e rurais dos Açores. Uma das páginas “Ponta Delgada, antigamente”, (https://www.facebook.com/pdlantigamente) conta já com 23 mil seguidores. Outras mais há que mostram a evolução que estas ilhas tiveram no espaço de um século.
Importa agora associar a essas imagens vivências animadas de há 100 anos, por exemplo,  para podermos demonstrar e criar nas gerações mais jovens o orgulho pelo caminho percorrido pelos pais e avós e o legado que lhes compete prosseguir com valentia e amor à terra.

José Gabriel Ávila*

*Jornalista c.p.239 A
http://escritemdia.blogspot.com

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