Hands on Azores, Fórum Artes e Ofícios – Pensar o Fazer, é um projecto desenvolvido pelo Centro de Artesanato e Design dos Açores (CADA). A 1ª edição deste evento, que começou no dia 2 de Junho e termina hoje, tem o objectivo de debater os desafios contemporâneos impostos ao sector das Artes e Ofícios.
Este fórum teve convidados nacionais e internacionais, tais como: Martín Azúa, Renato Imbroisi, Guida Fonseca, Helena Loermans, Josiane Masson, entre outros, que ambicionam provar que o saber-fazer artesanal pode estar no centro das actividades culturais e económicas.
O Diário dos Açores esteve à conversa com os curadores da 1ª edição do Fórum Hands on Azores, Kathi Stertzig e Álbio Nascimento, designers responsáveis pela plataforma Origem Comum, e Alexnadra Andrade, do CADA, para perceber a importância da preservação dos saberes e das práticas artesanais.
O que nos podem dizer sobre o vosso projecto?
A plataforma Origem Comum representa uma etapa natural na trajectória do The Home Project Design Studio. Desde 2004, temos vindo a trabalhar em estreita colaboração com artesãos, com o objectivo de preservar e transformar as práticas vernaculares. Através de um esforço contínuo de imersão em diferentes territórios, adquiriram um conhecimento profundo sobre a relação entre a paisagem natural, o clima e as comunidades locais que habitam esses lugares. Esse conhecimento manifesta-se nas várias formas de produção, interpretação do meio ambiente e atribuição de significado e valor aos objectos.
Com a participação activa de oleiros, cesteiros, tecelões, marceneiros, latoeiros, antropólogos e cientistas, foram exploradas várias áreas, como a tecnologia, os materiais naturais e os seus processos, o design contextualizado, o mercado, a economia local e os ciclos da natureza.
A equipa percorreu Portugal continental, onde se envolveu em diversos projectos, em colaboração com entidades locais, públicas e privadas. Fomos autores da Estratégia Nacional para as Artes e Ofícios Tradicionais - Saber Fazer, a convite do Ministério da Cultura de Portugal. Além disso, estabelecemos parcerias em Espanha, trabalhando em conjunto com a Artesania Catalunya, em Cabo Verde, colaborando com o Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design desde 2017, e nos Açores, em colaboração com o Centro Regional de Artesanato dos Açores. Em todos estes locais, foram desenvolvidas competências, ferramentas, serviços e produtos nas oficinas, ao mesmo tempo que se estabeleceram colaborações com entidades públicas e privadas para estudar o sector e criar novas estratégias de posicionamento, produção e consumo.
A plataforma Origem Comum surge como o epicentro desta viagem em constante evolução, onde a criatividade se alia ao conhecimento ancestral, dando “forma crítica” a um futuro brilhante e inspirador.
Como se envolveram no Fórum Hands on Azores, desenvolvido pelo CADA?
O convite para participar do Fórum foi estendido pelo Centro de Artesanato e Design dos Açores - CADA (antigo CRAA), uma parceria que já mantemos desde 2017. Durante o nosso trabalho nos Açores, fomos continuamente surpreendidos pela peculiaridade da condição insular que, aliada a um trabalho institucional exemplar, tem preservado muitas práticas tradicionais e garantido a sua actualização. Os projectos realizados aqui proporcionaram constantes desafios, exigindo que recorramos constantemente ao mais fundo da nossa experiência.
Nesse contexto, o Fórum revela-se como uma peça essencial nesse caminho e nessa relação estabelecida. É um espaço que nos permite aprofundar o diálogo e a troca de conhecimentos com outros especialistas e profissionais do sector, enriquecendo assim a nossa visão e contribuindo para o avanço das práticas artesanais. Agradecemos ao CADA por esse convite e por ser um parceiro fundamental na valorização e preservação das tradições nos Açores.
Qual a importância da preservação e promoção dos saberes e das práticas artesanais?
As práticas artesanais tradicionais são das actividades ecologicamente mais responsáveis, socialmente mais éticas, promovem o consumo consciente e têm enorme impacto na resiliência económica do país — pela independência financeira que proporciona a muitas famílias e a sua flexibilidade produtiva.
Actualmente, quais são os maiores desafios no sector das Artes e Ofícios?
O sector das Artes e Ofícios enfrenta os mesmos desafios que todos os outros: globalização de mercados, economias instáveis e alterações climáticas.
Como pode este evento ajudar os artesãos do sector têxtil açoriano?
Alexandra Andrade (Coordenadora do CADA): O primeiro momento do Hands on Azores foi uma Missão Empresarial que promoveu, em Abril, o encontro entre empresas internacionais de moda e Unidades Produtivas Artesanais do sector têxtil açoriano. Dois benefícios imediatos podem retirar-se desta Missão: a diversificação do mercado para o artesanato têxtil e o incentivo à actualização do produto artesanal e à inovação. Com um painel exclusivamente dedicado a uma reflexão sobre a Missão Empresarial, o Fórum Artes e Ofícios – Pensar o Fazer dará destaque, mais uma vez, ao sector têxtil, que será pensado também nos restantes painéis, uma vez que as grandes questões a debate são transversais a todas áreas artesanais.
O que esperam alcançar com a 1ª edição do Hands on Azores?
Voltar a juntar o sector em torno de questões pertinentes para a sua preservação e continuidade. No início deste século, realizaram-se muitos encontros no âmbito da profissionalização do sector. Após essas medidas serem implementadas, perdeu-se o hábito de criar encontros para discussão sobre os desafios das artes e ofícios. Aos poucos, essa discussão começou a ser captada para outras áreas como o design, o património e as indústrias criativas. O Fórum Internacional Artes e Ofícios – Pensar o Fazer pretende resgatar essa posição no centro do sector.
por Nicole Bulhões
*jornal@diariodosacores.pt