Nos últimos anos tem sido recorrente o Estado português sustentar-se dos dinheiros das Regiões Autónomas para resolver casos que são da inteira responsabilidade da República.
Os últimos governos de António Costa têm sido pródigos em prometer, mas é conhecido o rol de incumprimentos nos Açores, com o caso mais grave a atingir a autonomia financeira da Universidade açoriana.
Para a construção da nova cadeia de Ponta Delgada, este monte de imbróglio-bagacino, a região teve que avançar com o terreno, para o projecto da ampliação da pista da Horta tivemos que assumir parte do financiamento, para as esquadras apodrecidas da PSP, em várias ilhas, as autarquias açorianas lá vão fazendo obras e outros melhoramentos para que não haja mais degradação, temos que pagar a SATA pelas OSP do Estado, e a lista vai-se adensando conforme a gravidade de cada um dos serviços do Estado nesta região.
Ainda estamos para ver se a República aguarda que os Açores avancem com pessoal para manter em funcionamento as Conservatórias de Registo Predial e, daqui a nada, se calhar vão-nos pedir para construir quartéis militares e palácios da Justiça...
O Ministro da Administração Interna, conhecedor do estado degradante em que se encontram muitos dos seus serviços nestas ilhas, vai assobiando para o lado, mas agora inaugurou uma nova forma de “colaboração inter-administrativa”, metáfora de preguiça ministerial que significa sacar mais dinheiro das autarquias açorianas para resolver problemas do Estado.
A Presidente da Câmara de Vila do Porto, a socialista Bárbara Chaves, foi a Lisboa reunir-se com o ministro para “disponibilizar” a colaboração da autarquia na resolução do problema das esquadras da PSP e da GNR na ilha de Santa Maria.
Do encontro, ficou o compromisso de celebrar “um Contrato Local de Segurança, no âmbito da Estratégia Integrada de Segurança Urbana”, seja lá o que isto é, mas que as outras autarquias, com problemas semelhantes ou piores, nunca ouviram falar.
Mas há mais: o esforçado ministro das esquadras degradadas disponibilizou-se para “estabelecer o contacto com o Ministério da Justiça como forma de se estreitarem relações” ao nível do problema de consumo de drogas em Santa Maria, com vista à “possibilidade de realização de ações conjuntas por forma a atuar-se sobre este flagelo da sociedade”!
Ou seja, o ministro que não consegue resolver os problemas afectos ao seu ministério, desde as esquadras degradadas até à falta de viaturas e de efectivos da PSP, também vai “ajudar” a resolver o problema bicudo do consumo de drogas, que, como se sabe, espalha-se por quase todos os concelhos destas ilhas.
Isto só visto, porque contado, como está descrito em papel oficial, ninguém acredita.
E é assim que os ministros desta era se tornam como os salvadores da nação de outrora, no antigo regime, em que os governadores civis locais iam a Lisboa, de chapéu na mão, pedinchar a Suas Excelências que concedesse o favor de resolver problemas da inteira responsabilidade do Estado nas províncias além-mar.
É disto que está feito o poderoso Estado português, infestado de uma cultura miserabilista de só se lembrar das antigas províncias insulares quando batemos à porta dos seus sumptuosos gabinetes do malfadado Terreiro do Paço.
É por isso que a República não avança, nem as Regiões terão dias melhores, com este tipo de cultura.
A cultura da gosma à portuguesa.
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DE PAPO CHEIO - Isto de estar sentado nos gabinetes à espera que os problemas batem à porta, não é originalidade portuguesa. Também vamos assistindo a isso por cá.
O problema das pragas que deram cabo das culturas por estas ilhas fora, especialmente as vinhas, é caso paradigmático.
Ao tempo que os vitivinicultores vinham chamando a atenção para o desastre, nomeadamente na ilha do Pico, a nossa menina dos olhos do vinho açoriano.
Vai daí o Governo Regional veio em socorro dos queixosos, anunciando que autoriza o abate apenas da rola-turca. Do mal o menos.
A risota disto tudo é que a autorização para o abate vai de 11 de setembro a 11 de Novembro, ou seja, já depois de tudo vindimado e das rolas de papo cheio.
Como disse um sábio agricultor graciosense na TV, é o que faz os departamentos governamentais estarem recheados de rapazinhos que não percebem nada da poda, nem querem aprender com os mais velhos.
Boca santa!
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CONTAS DE MERCEARIA - As empresas públicas açorianas, do que resta delas, ainda vão seguindo a velha escola ‘sergiana’, em anunciar lucros de resultados trimestrais a coberto de subsídios e contratos-programas com o governo.
A Portos dos Açores é useira e vezeira neste tipo de engenharia, que faz corar de vergonha o mais humilde empregado de mercearia da minha rua.
Depois é a euforia dos resultados da SATA, que vai ganhando altura com “as maiores receitas de sempre”, mas depois é um tal borregar nos prejuízos costumeiros.
Agora foi a EDA, também a anunciar resultados positivos.
Mais uma dúzia de milhões de euros, que vão ser, certamente, distribuídos pelos accionistas.
E, como sempre, logo a seguir vai à banca endividar-se para poder investir.
Deve ser um enfado gerir empresas assim.
O merceeiro da minha rua não percebe como ainda não o convidaram para gerir as ‘lucrativas’ empresas públicas da nossa região.
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LAMAÇAL À PORTUGUESA - O futebol portuguès é um autêntico lamaçal. Por alguma razão nenhuma cadeia de televisão estrangeira se interessa pela nossa Liga, nem pelos nossos dirigentes de clubes, federações, conselhos de arbitragem e outras abencerragens.
Valham-nos os atletas, que, quando têm oportunidade, fazem como qualquer outro talento português e fogem para o estrangeiro.
Nas imensas e obsequiosas estruturas de toda esta indústria vão ficando os que se lambuzam com viagens, camarotes vips, carros topo de gama, despesas de representação, cartões de crédito e até fugas ao fisco, com selecionadores exemplos e conivência federativa.
Um fedor este lamaçal português. Que tresanda em todas as televisões, mas umas mais ricas na fossa do que outras.
Osvaldo Cabral *
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt