“A Pedalar pela Fronteira” é o projecto de Pedro Gil que tem como objectivo percorrer Portugal de bicicleta e dar a conhecer o país de norte a sul nas redes sociais. Foi em plena pandemia que este projecto surgiu, face à dificuldade de viajar para fora de Portugal.
Para além de dar a conhecer todos os cantos do país, Pedro Gil não só quer incentivar mais o uso de bicicleta, como também pretende ajudar o ambiente através da recolha de lixo por onde passa.
Agora chegou a vez de Pedro pedalar pelo arquipélago dos Açores, sendo que amanhã já começa a sua jornada na ilha de Santa Maria. O Diário dos Açores esteve à conversa com Pedro Gil para saber o que o motivou a trazer o seu projecto até aos Açores.
Fale-nos um pouco sobre si.
Chamo-me Pedro Gil e sou natural de Leiria. Tenho 45 anos e sou Comercial de profissão. Tenho como hobby a pintura e o modelismo estático. Adoro viajar e procuro utilizar bicicleta quando me ausento do país. Preocupo-me com o ambiente e farei o que estiver ao meu alcance para ajudar a travar a sua destruição.
Como surgiu a ideia de criar o projecto “A Pedalar pela Fronteira” e quais os seus objectivos?
Surge em época de Covid e na dificuldade de sair do país, pois em 2021 tinha intenção de fazer a maior viagem que já fiz até agora. Embalado pelo livro que estava a ler, de dois portugueses que foram até Marrocos de bicicleta, achei que seria uma boa altura para criar um projecto de bicicleta e conhecer o interior de Portugal junto a Espanha.
Foi um projecto que para acontecer teve de ser criado algum dinamismo, como páginas do Facebook e Instagram, para assim contar com alguns apoios, como dormidas.
Mas na realidade não sabia onde me estava a meter, pois não estava preparado para fazer 1500 km em que todos os 19 dias pedalava, e em que esteve muito calor, foi muito complicado e extenuante. Foi o improvável Alentejo, com temperaturas mais baixas, que me deixou concluir o projecto de 2021.
O objectivo era apenas conhecer e dar a conhecer, mas com o acumular de lixo ao longo das estradas achei que tinha de implementar a componente ambiental, o que aconteceu em 2022 quando fiz toda a costa, juntando pessoas e recolhendo lixo nas praias e fora delas, como em matas por onde passei com a bicicleta. Mas a componente principal é o uso da bicicleta, incentivar mais o seu uso diário para ir ao supermercado, trabalho, escola, etc, quer seja pelo ambiente, ou para o nosso bem-estar físico e mental.
O que já alcançou com o mesmo?
Pessoalmente, tem sido uma riqueza conhecer lugares e pessoas que se fosse de carro nunca iria acontecer. Foi fisicamente e mentalmente um desafio bastante elevado para quem não está habituado a fazer tantos quilómetros seguidos, e onde um dia atingi o meu limite de forças e tiveram que me ir buscar no meio da serra do Gerês, já a anoitecer. No dia seguinte já estava novamente a pedalar.
E o dar a conhecer, fez com que outros já tenham ido visitar lugares, através da minha página, que desconheciam. Só isso já vale a pena. Tem sido uma aventura intensa, rica em emoções e das melhores “viagens” que já fiz.
De que forma a população e entidades locais colaboram com a sua iniciativa?
Nem sempre é fácil, já percebi que se fosse estrangeiro teria muitos mais apoios governamentais, seja do turismo ou das câmaras.
As pessoas por vezes surpreendem pela positiva, seja nas dormidas, ou nas refeições em restaurantes. Não me posso queixar do apoio, embora para que ele aconteça já foram centenas de emails. Já enviei cerca de 600 emails e outras tantas mensagens no Facebook a requisitar apoios e participação neste projecto.
Este mês irá pedalar em todas as ilhas dos Açores. Sendo que a 17 de Setembro começa na ilha de Santa Maria. Porque escolheu esta ilha para iniciar a sua aventura?
Porque era a mais próxima, e assim começar por uma ponta e acabar na outra ponta, que será a ilha do Corvo.
Para si, qual é a importância de dar a conhecer os Açores?
Fiquei estupefacto quando vi umas entrevistas na Feira do Turismo. As pessoas sabem muito pouco sobre os Açores e as suas ilhas, e diziam barbaridades. É uma falta de cultura tremenda. Devo confessar que embora só tenha ido a São Miguel, sabia o nome de quase todas as ilhas, mas poderia duvidar no número da totalidade das mesmas.
Também já tinha ido à Islândia, antes da minha ida a São Miguel, e adoro este tipo de paisagem, tem muita coisa em comum. Se este projecto levar as pessoas a ir visitar outras ilhas dos Açores devido às fotos, para mim já será uma vitória.
O que espera encontrar durante a sua aventura pelas ilhas?
Gosto sempre de ir com uma expectativa zero. Gosto de ser surpreendido, por isso tento não pensar muito e guardar as ilações para o final da viagem.
Que expectativas tem para o futuro?
Além de fazer, posteriormente, uma exposição deste projecto pelos Açores em vídeo e em aguarelas, acho que fazer as ilhas do arquipélago da Madeira será o próximo projecto, finalizando os limites de Portugal.
por Nicole Bulhões *
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