Diário dos Açores

Mais um desaire do (deus) mercado a funcionar…

Previous Article Centralidades
Next Article E se os generais e os bispos fossem mulheres? (II)

Constituiu um autêntico fiasco a negociação, que mais parecia mendigagem, do governo misto das direitas do PSD/CDS/PP, para conseguir manter a presença da Ryanair nas rotas ditas liberalizadas dos Açores (S. Miguel e Terceira). Depois de muito espremido no Parlamento pela sua comadre (PS),a governação responsável pela negociação anteriormente em vigor com aquela empresa, o governo de Bolieiro, para espanto hipócrita dos seus aliados liberais da IL e do Chega, revelou finalmente na passada semana que foi sacar ao erário público regional mais 4 milhões de euros para conseguir evitar para já a concretização absoluta da vontade desta empresa em abandonar totalmente as rotas de e para S. Miguel e Terceira. 
Entretanto, na sequência destes acontecimentos, a Câmara do Comércio e Indústria dos Açores, antes tão recorrentemente assustada com o crescimento da dívida pública regional, num inesperado esgar de razão (eureka!), mudou de opinião e vem agora criticar a política cega do endividamento 0 do governo misto das direitas. Face à fria realidade do colapso da liberalização das rotas aéreas para o exterior dos Açores, que teve como aviso prévio o abandono daquelas rotas pela Easyjet, e que agora se vê reforçado pelo fiasco da continuidade da sua exploração pela Ryanair, a CCIA reivindica mais empenhamento público regional (financeiro, como obviamente se deduz) na promoção do destino Açores no exterior.
Só falta acrescentar que a comadre (PS) que anteriormente negociou a “liberalização” das rotas em questão, com a Easyjet e a Ryanair, já pagou com muito dinheiro de todos nós, apesar de tê-lo sempre negado, a mesma promoção do destino no exterior e, precisamente por causa da Ryanair, obrigou-nos a pagar antecipadamente rios de dinheiro pelas passagens de e para o Continente e Madeira, apesar dos preços máximos entretanto instituídos para residentes.
Não foram de admirar, portanto, os debates acalorados da passada semana no parlamento regional entre as comadres, isto é, os responsáveis do PS e do PSD, para espanto encenado do IL e do Chega, acusando-se mutuamente de ter cada qual ofendido as sacrossantas regras do funcionamento do mercado no negócio com as low cost, para as rotas de S. Miguel e Terceira, e que a imaginação fértil de cada um deles pressupunha ser livre e rentável.
Tudo isto demonstra bem quão importante, e mesmo decisivo, para o futuro dos Açores, em termos económicos e de mobilidade social, seria a reavaliação do processo de privatização em curso da Sata Internacional (Azores Airlines). Com o abandono da Easyjet e o definhamento da operação da Ryanair, estamos perante factos irrecusáveis de que, num arquipélago pouco povoado, distante e repartido por nove ilhas, o desenvolvimento económico e socialmente útil não pode ficar, nos aspetos mais estratégicos da questão, entregue à hipotética bondade do funcionamento do mercado.
Tudo isto demonstra de forma inequívoca, por mais que as zangadas comadres concordem em desmentir, quão importante, nas condições geopolíticas dos Açores, significa a sua Autonomia deter em mãos próprias (públicas) o controle dos setores estratégicos da economia, em particular os que digam respeito, em matéria de passageiros e mercadorias, tanto aos transportes de e para o exterior como aos transportes inter-ilhas. 


Mário Abrantes 
 

Share

Print

Theme picker