A pandemia trouxe, também, consequências para a imprensa.
Há duas, antagónicas, que foram mais notórias na fase crítica da crise: por um lado registamos uma maior procura de notícias locais por parte dos leitores, mas, por outro, a imprensa sofreu uma quebra enorme nas receitas publicitárias.
Não há jornal que sobreviva sem receitas e a crise, como todos sabemos, afetou sobremaneira as empresas e instituições, que cortam de imediato na publicidade quando se trata de emagrecer.
Os Açores já tinham perdido alguns títulos antes da pandemia, também por falta de viabilidade financeira, apesar da sua longevidade centenária, e ia perdendo mais alguns nestes anos angustiantes da crise sanitária se não fossem os apoios institucionais.
Agora é tempo de recomeçar, refazendo prioridades, como se fazem em todas as empresas, mas sem nunca perder o foco do “negócio”, que neste caso são as notícias locais e o jornalismo de proximidade.
John Garret, fundador e CEO da Community Impact News, foi dos primeiros a prever que as notícias locais seriam um bom negócio para a indústria, que a pandemia não iria interromper.
Na verdade, a crise sanitária, que provocou angústia e medo a tanta gente, com tantos confinamentos e restrições, fez com que a necessidade do jornalismo local e os meios de comunicação locais se tornassem a companhia fiel dos leitores, na procura das notícias dos locais onde habitam, nas informações de aconselhamento e alguma orientação num mundo carregado de informações em catadupa e com desconfiada fidelidade.
As redes sociais ampliaram este sentido de procura pelas informações fidedignas, daí que, elas próprias, dedicaram-se nesta pandemia a transmitir, com mais intensidade, as notícias dos jornais, pela confiança e crédito do jornalismo sério, sem interesses tribais e de discursos emocionais, como é frequente nas redes.
É a confirmação de um fenómeno histórico, pois nas horas de aflição pública, de catástrofes, de crises, de conflitos, a sociedade vira-se para os jornais à procura de um sentido e de uma explicação orientadora.
O conhecido investigador Sérgio Rezendes, Doutor em História Insular e Atlântida, descreve alguns exemplos, num excelente artigo que escreveu para esta edição especial, aquando dos conflitos militares entre 1850 e 1950, com o “Diário dos Açores” e outros títulos da imprensa a desempenharem um papel fundamental na informação e esclarecimento das populações.
A imprensa regional centenária, como o “Diário dos Açores”, tem ido mais além neste papel atento ao mundo externo, mas também internamente, na defesa de causas que nos são bastante caras, como a luta por uma administração regional nossa, uma Autonomia de recursos e de decisões, contra todos os tipos de centralismos e outras tentações inibidoras do nosso desenvolvimento como povo insular.
O jornalista mais veterano do nosso país, António Valdemar, possuidor da carteira profissional número 1, também dá um honroso contributo nesta edição especial, lembrando que, neste ano de 2022, assinala-se o V Centenário do nascimento, em Ponta Delgada, de Gaspar Frutuoso, o cronista das “Saudades da Terra”, que relata a descoberta e o povoamento das nossas ilhas, e cujas edições foram, nas primeiras tiragens, editadas nas oficinas do “Diário dos Açores”.
A História é riquíssima nas páginas deste jornal, há 152 anos.
É nesta senda, honrando este longo caminho, que o “Diário dos Açores” se mantém próximo dos seus leitores, em defesa da informação séria e das causas justas da nossa população.
Não abdicamos da informação séria, contra todas as redes de desinformação que grassam no campo da comunicação de hoje e continuamos a abrir as páginas a uma pluralidade de opiniões, que honram o vasto quadro de colaboradores deste jornal.
A imprensa pós-pandemia reorganiza-se, como todas as famílias, e reforça-se para novas etapas que tragam mais luz e maior confiança à informação de qualidade, porque ela existe na nossa rua, na nossa freguesia, na nossa ilha, na nossa região e no nosso país.
O “Diário dos Açores” renova-se para mais esta luta, 152 anos depois.
Obrigado a todos, leitores, anunciantes e colaboradores.