Ao que chegámos!...
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- Publicado em 13-06-2016
- Escrito por José Gabriel Ávila
“A velhice é um problema humano, familiar e social, mas não pode ser considerado como “um risco financeiro”. O maior risco reside em dar a primazia ao dinheiro e em reduzir a pessoa humana a um objeto descartável e pouco valioso.”
As redes sociais colocam-nos, muitas vezes, perante afirmações da maior importância de responsáveis de instituições e organismos mundiais, que julgávamos impensáveis e indizíveis.
Esta semana fui alertado para uma declaração afrontosa de Christine Lagarde, Diretora Geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), sobre a terceira-idade, avisando que “a longevidade é um risco financeiro”. E acrescentou: “Os idosos vivem demasiado e isso é um risco para a economia global! Há que tomar medidas urgentes.”
As afirmações da antiga ministra francesa das Finanças revelando a mentalidade economicista e neoliberal que se vem alastrando pelo mundo ocidental, foram, no entanto, contestadas por muitos cidadãos. É que tão funestas ideias, revelam o desprezo a que organismos internacionais tão relevantes, atribuem a uma crescente parte da população.
Sendo certo que nos países desenvolvidos o índice médio de vida vem aumentando com a melhoria dos cuidados de saúde e com os avanços feitos no tratamento das doenças, isso não implica que os estados devam tratar os seu idosos como gente descartável e improdutiva. Pelo contrário. Há cada vez mais a noção de que a sociedade necessita de cuidar das pessoas da terceira-idade, porque são elementos chave na estabilização e continuidade das tradições familiares e porque, com a sua experiência de vida, transmitem valores humanos e uma herança que devem ser preservados, dando suporte à caminhada que as gerações mais novas estão a trilhar.
A velhice é um problema humano, familiar e social, mas não pode ser considerado como “um risco financeiro”. O maior risco reside em dar a primazia ao dinheiro e em reduzir a pessoa humana a um objeto descartável e pouco valioso. Isso sim é condenar os idosos à eutanásia forçada, à morte programada, a uma sociedade sem futuro, sem carinho, sem memória e sem presente.
Nas últimas décadas, governos e instituições sociais têm desenvolvido iniciativas de mérito para proteger e dignificar os idosos, sobretudo os desprotegidos da família ou abandonados na solidão dos seus lares, sobrevivem afetados pela doença e pelo desprezo.
Para contrariar estas situações condenáveis, muito há ainda a fazer, como: desenvolver relações intergeracionais que envolvam crianças, jovens e adultos, e integrar os idosos nas comunidades onde cresceram, vivem e deram o melhor de si à família e aos amigos.
Neste sentido, o Papa Francisco, no Encontro mundial de idosos e avós, realizado em Roma, em 2014, afirmou: Não há futuro para um povo sem o encontro entre as gerações. E acrescentou: “O futuro de um povo pressupõe, necessariamente, este encontro: os jovens dão a força para fazer caminhar o povo e os idosos revigoram esta força com a memória e a sabedoria popular.”
Referindo-se aos lares, Francisco defendeu que “eles não sejam como prisões, mas pulmões da humanidade numa cidade, num bairro numa paróquia”. Isto porque “apesar das dificuldades ligadas à idade, os idosos podem ser árvores que continuam a dar frutos”.
Quão diferente é a mentalidade economicista da Sra Christine Lagarde e a visão humanista do Papa Francisco!...
*jornalista c.p. 536
http://escritemdia.blogspot.com
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