“Um símbolo nacional que em estruturas comemorativas, como esculturas ou bustos, alinda e enobrece, de modo marcante, a paisagem de muitos espaços públicos de cidades portuguesas.”
2004 é o ano em que se comemoram os 500 anos do nascimento de Camões, o maior poeta português e símbolo cimeiro da língua portuguesa e da nossa cultura. Nas palavras do tradutor e poeta húngaro Árpád Mohácsi, o autor do poema épico do povo português, Os Lusíadas, é “um poeta de primeira classe, um dos melhores escritores de sonetos da literatura mundial”.
Uma das maiores figuras da literatura lusófona e um dos grandes poetas da tradição ocidental, Camões foi adotado, sobretudo a partir do séc. XIX, como símbolo de portugalidade. O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, celebrado anualmente a 10 de Junho, data da morte do poeta, e assim designado desde a Revolução de Abril, presta, portanto, homenagem a Portugal, aos portugueses, à cultura lusófona e à presença portuguesa no mundo, através da figura de um dos maiores nomes da literatura universal.
Não é, pois, de admirar, que um pouco por todo o território nacional tenham sido erigidos, ao longo dos anos, inúmeros monumentos alusivos a Luís de Camões. Um símbolo nacional que em estruturas comemorativas, como esculturas ou bustos, alinda e enobrece, de modo marcante, a paisagem de muitos espaços públicos de cidades portuguesas.
Menos conhecidos do público em geral, mas não menos repletos de simbolismo e sentimento pátrio, são também vários os exemplos de monumentos alusivos a Camões erigidos no seio da Diáspora.Perpetuando e dinamizando na esteira de D. Rui Valério, patriarca de Lisboa, “a valorização da portugalidade integrada e interpretada numa mundivisão mais ampla”.
Por exemplo, em França, a mais numerosa das comunidades portuguesas na Europa e uma das principais comunidades estrangeiras estabelecidas no território gaulês, rondando um milhão de pessoa, foi inaugurado no dia 19 de outubro de 1987 por Jacques Chirac, então primeiro-ministro e presidente da Câmara Municipal de Paris, na presença de Mário Soares, então presidente da República Portuguesa, um busto do poeta que fica no final das escadas da Avenue de Camões, Paris 16ème, bem perto dos jardins do Trocadero.
No entanto, a primeira estátua de Camões na capital francesa foi inaugurada no dia 13 de junho de 1912, nos anos iniciais da Primeira República. Um busto, enorme, encomendado ao escultor italiano Luigi Betti, e instalado num pedestal com cerca de 5 metros de altura, que após vários imprevistos se encontra atualmente no Jardim Camões da Casa de Portugal André de Gouveia, na Cidade Internacional Universitária de Paris, um centro de irradiação da cultura portuguesa na capital francesa.
Já no Luxemburgo, onde cerca de 100 mil portugueses representam praticamente 15% da população total do Grão-Ducado, assumindo-se como o mais importante grupo estrangeiro no país desde os anos 80, foi oferecida em 2006 à capital luxemburguesa, pela CCILL– Câmara de Comércio e Indústria Luso-Luxemburguesa, e a Santa Casa da Misericórdia do Luxemburgo, uma estátua de Camões. Resultado da generosidade de três empresários portugueses no Grão-Ducado, mormente António Silva, José Veiga e Manuel Cardoso, o busto de Camões no Luxemburgo foi transferido em 2016, de Bonnevoie para a Praça Joseph Thorn, onde se encontra presentemente, em frente às instalações do Instituto Camões.
Na América do Norte, concretamente em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá, desde o alvorecer de junho de 2013, ano em que o espírito empreendedor e benemérito do comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos empresários portugueses em Toronto, impulsionou as obras de revitalização da praça de Camões (Camões Square). Encontra-se, no centro da maior cidade do Canadá, entre outros relevantes símbolos e estruturas de engrandecimento da portugalidade, um imponente busto de Camões, o maior poeta da língua portuguesa.
No seio da dispersa geografia da Diáspora, a comunidade portuguesa em Macau, cifrada em milhares de compatriotas, e elo fundamental da cultura e presença secular lusa no Oriente, usufrui desde a centúria oitocentista, e após vicissitudes várias, um dos mais afamados bustos do poeta, na Gruta de Camões. O próprio, terá vivido em Macau durante dois anos, apontado a tradição lendária que terminou nesta gruta, local incontornável de visita na hodierna região autónoma na costa sul da China continental, Os Lusíadas, a obra mais importante da literatura de língua portuguesa.
Estes monumentos, e outros que se encontram ou possam vir a ser projetados nas pátrias de acolhimento dos portugueses espalhados pelo mundo, são uma indubitável mais-valia na perpetuação e dinamização da cultura e identidade lusa na Diáspora. De tal modo que é nestes autênticos marcos de portugalidade, que as comunidades lusas espalhadas pelos quatro cantos do mundo realizam incontornavelmente as celebrações simbólicas do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Revivendo assim anualmente um sentimento inefável, paradigmaticamente expresso por Fernando Pessoa: “O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo”.
Daniel Bastos