Quando no País e nesta Região se discutem formas de agir para que a comunicação social escrita sobreviva, o «Diário dos Açores» felizmente inicia o 156º. ano de publicação, com mais de 43 600 edições, um número que nos deve orgulhar, pois preserva o compromisso assumido em 1870 por Tavares de Resende, continuado pela mesma família, até há poucos anos.
Nessa altura já se previa a «livre administração dos Açores pelos açorianos»; e, a Redacção do Jornal passou a contar com personalidades que tinham subscrito a I Comissão Autonómica.
O desejo de ajuda à comunicação social escrita mereceu, em períodos cíclicos, novos apelos ao Governo sobretudo nos anos do pós-guerra e que se estendeu por todo a década de 50, obrigando os jornais» «Diário» e «Correio dos Açores» a publicar, diariamente, uma só página…
Salazar entendia que era só através do Secretariado Nacional de Informação, dirigido pelo jornalista do regime, António Ferro que a Imprensa regional poderia sobreviver só com o noticiário que dali fosse produzido e também utilizassem as agências noticiosas como a Havas!
E isso ainda acontecia quando em 1953 comecei a fazer parte da Redacção deste jornal -já lá vão 72 anos – e habituei-me a viver com os altos e baixos do dia-a-dia: ou era a compra de papel, a renovação de tipos; o recurso aos anúncios das pequenas e grandes empresas locais, obrigando muitas vezes a recorrer à banca, pagando os juros das letras e livranças.
Era assim este jornal de família que, com elevado sentido de cidadania, queria honrar os antepassados e servir a terra!
A primeira «tirada» que me coube foi acompanhar e dar conta dum dos acontecimentos mais importantes realizados nos Açores nos últimos tempos: a I CONFERÊNCIA INSULAR AÇORIANA, cuja iniciativa coube ao Governador Aniceto dos Santos…
… que entre 26 a 31 de Julho de 1954 reuniu, em Ponta Delgada, no Palácio da Conceição, com representações abrangendo os corpos administrativos, técnicos de serviços públicos e ainda dos jornais, de rádios particulares e do Emissor Regional dos Açores, com a presença dos outros governadores civis, doutores António de Freitas Pimentel e Manuel de Sousa Menezes, respectivamente da Horta e de Angra do Heroísmo.
Dizia-se que era um renovado «Congresso Açoriano», que visava continuar a promover a unidade do povo açoriano, bem como encontrar pontos comuns para aperfeiçoar os serviços locais e levar ao Presidente do Conselho – nas conclusões a que chegassem – problemas de investimento em obras publicas, em comunicações, na lavoura e da necessidade da revisão do Estatuto dos Distritos Autónomos, com aumento de receitas para as juntas gerais.
Na secção da Imprensa e da Rádio fui encontrar directores e colaboradores dos jornais de Angra do Heroísmo, da Horta e também sócios, no activo, do Rádio Clube de Angra e do Emissor Asas do Atlântico.
A mesa foi escolhida por eleição dos seus membros, cabendo a presidência a jornalista Manuel Ferreira de Almeida, director do histórico «Açoriano Oriental» e secretário o Padre Júlio Martins, micaelense, natural da freguesa da Feteiras e chefe da redacção do jornal «A União», órgão oficial da Diocese.
Como primeiro vogal, o jornalista Cícero de Medeiros director do Jornal «Açores».
Discutimos a forma como se debateriam os trabalhos: a unidade e prestígio da Imprensa insular; o quanto a Imprensa poderia fazer para levar o nome dos Açores tão longe quanto possível; e, sobretudo, os auxílios governamentais que se esperavam, face aos desafios económicos e sociais que os jornais enfrentavam, como as rádios.
O senhor Cícero de Medeiros, nesse ponto de discussão, acompanhou-me: o «Açores», que fundara, era uma empresa que vivia da «carolice» do seu proprietário, dos anunciantes, assinantes, simpatizantes e colaboradores… a mesma linha do «Diário dos Açores» e também do «Telegrafo», representado chefe de Redacção, Rogério Contente.
Nas conclusões finais «todos por um e um por todos», assentaram no seguinte:
-A Imprensa Açoriana lutava com grandes dificuldades, por razões diversas, sobressaindo a insularidade e os problemas ligados à sua vida interna, como aquisição de papel, recepção de noticiário nacional e internacional;
- Valorização das informações fornecidas aos jornais, sobretudo gratuita, através do Emissor Regional dos Açores;
- Estabelecimento de um serviço de comunicações telegráficas e telefónicas entre os Açores e o continente, sem interrupções;
-Preferência para as empresas proprietárias dos jornais na execução dos trabalhos gráficos de que os serviços públicos necessitassem para o seu expediente.
Por fim acordaram manter a unidade permanente e uma íntima colaboração entre todos os jornais do arquipélago com a preocupação dominante de evitar tudo quanto possa isolar ou levar ao desentendimento dos distritos insulares em que exercem a sua missão…
…e até sacrificar, se necessário for, a valorização informativa dos jornais – nunca a sua orientação – quando o concurso da imprensa a não for verdadeiramente reconhecido e apreciado.
De tudo o que ali se concluiu, o técnico de Comunicações Carlos de Lima Araújo, director do Emissor Regional dos Açores, manteve o compromisso de, diariamente, enviar os noticiários emitidos de Lisboa.
Entregava-nos cópias dactilografadas do noticiário das 11 horas, considerado como «últimas notícias» para o nosso Jornal pois, sendo o único vespertino, levava essa vantagem…
O espírito de unidade açoriana foi sempre o lema que «aprendi» neste jornal e que continua nos dias de hoje.
Mas o «Diário Insular» e o Dr. Cândido Forjaz, seu director – mesmo com a Conferência a decorrer – não se coibiu de exaltar os valores históricos da cidade de Angra do Heroísmo, «secundarizando» Ponta Delgada, a cidade dos patriarcas da autonomia, o que muito embaraço provocou ao Governador do Distrito de Angra e se repercutiu por todos os participantes, que sempre declararam que a Conferência era oportuna e muito servira para aperfeiçoar os serviços.
Quanto às ajudas solicitadas ao Governo, tudo ficou como dantes: o «Diário dos Açores» continuou a tratar de si, gerindo-se conforme o andar dos tempos…
Quanto à preferência de serviços tipográficos, havia na nossa praça «lobys» que se movimentavam para ganhar os concursos, sobretudo em Departamentos do Estado, a favor de empresas particulares…
…e o «Diário dos Açores» ficava com aquilo que lhe atribuía a Junta Geral, câmaras municipais e outros serviços da administração local.
Com a nomeação, nos anos 60 dos governadores Machado Pires e Vasconcelos Raposo, para Angra do Heroísmo e Ponta Delgada, ouvia o Dr. Manuel Carreiro afirmar que eram personalidades que assegurariam essa unidade atlântica.
Após o Vaticano II, logo apareceram encíclicas dos Papas João XXIII e Paulo VI- e até aos nossos dias, com o Papa Francisco – todos a apelar aos responsáveis pela opinião pública que, por intermédio da imprensa, da rádio, da televisão, do cinema, de concursos ou de exposições de todo o tipo, escritores, artistas, produtores nunca se prestassem à falsificação da verdade.
Por estas bandas dizia-se que um dos alvos a atingir pelo Papa João XXIII era o Governo português, com a censura…
Há tempos, na realização dum congresso da Imprensa Regional, debateram-se muitos dos assuntos que se admitia continuavam a pôr em risco a sua sobrevivência, mas as providências a tomar não podiam ser resolvidas só com jornalistas, mas agregando a sociedade, incluindo o Governo.
Daí que este feliz aniversário do «Diário dos Açores» acontece quando, de novo, se levantam vozes para apoiar toda a comunicação social desta Região e o Governo estudou essas formas de ajuda, que foram aprovadas em plenário da Assembleia Regional, e contêm um sistema de incentivos que reforçam, como todos desejamos, «o pluralismo da democracia açoriana»!
É que, aqui chegados, batemos no fundo, pois como disse o Secretario Regional, Paulo Estevão «a comunicação social privada dos Açores, está à beira do esmagamento, se nada for feito».
Acompanhei quanto pude o debate e lamento que a unânimidade não tivesse prevalecido…
…e, assim continuamos de pieguice em pieguice… em diplomas que são estruturais para o nosso desenvolvimento.
Como disse da sua tribuna o deputado Paulo Simões – que sabe por dentro e por fora o que é manter um jornal com Independência – «por estarmos a ser inundados por informação que não constitui verdade e há um risco que é o de essa informação ser muitas vezes intencionalmente deturpada, havendo até forças politicas que usam templates de órgãos de comunicação social oficiais para obter credibilidade para a informação que passam».
Auguro que tudo parece correr a nosso favor!
E, neste Ano Jubilar -2025, o JUBILEU DOS JORNALISTAS celebrado em 24/25 de Janeiro, tomou a dianteira e teve a presença de mais de 230 jornalistas de todo o mundo livre, com o objetivo analisar e discutir temas que se ligam com a uma comunicação, em verdade e isenção.
Como disse o Papa Francisco: «Comunicar significa sair um pouco de mim mesmo para oferecer o que é do outro, por ser um trabalho que dignifica, ao construir a sociedade, a Igreja e leva todos a progredir».
Parabéns ao «Diário dos Açores»!
Que continue, em liberdade e verdade a sua missão informativa e formativa, sobretudo para captar os jovens.
Rubens Pavão