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Na senda do seu fundador

Desde muito novo habituei-me a ler no semanário O DEVER, dirigido então pelo seu fundador e Diretor Padre Xavier Madruga, as notas celebrativas dos aniversários da imprensa, com quem aquele semanário picoense fazia permuta.
As mensagens mais encomiásticas eram dirigidas ao “Diário dos Açores” cujos directores de então, Manuel e Carlos Carreiro mantinham uma ligação estreita e amistosa com aquele distinto jornalista picoense.
Mal sabia eu que, mais tarde, desde 2004, também eu, tal como o meu pai Ermelindo Ávila, iria colaborar com o mais antigo diário açoriano, cujo primeiro número foi publicado em 5 de Fevereiro de 1870.
Manuel Augusto Tavares de Resendes (1849-1892) tinha 21 anos, quando concretizou o sonho de jovem empreendedor. E embora fosse um autodidata, inovou na forma e no conteúdo da informação e tomou iniciativas pioneiras na captação de correspondentes e de assinantes ao redor da Ilha de São Miguel, distribuindo folhetins e oferecendo brindes em dinheiro. 1
Tudo em prol da educação do povo, como definia o lema do jornal: “publicação noticiosa, de instrução e recreio”.
M. A. Tavares de Resendes, diz a citada nota, lança o Diário “no contexto da por vezes chamada geração de ouro açoriana, onde se incluem os irmãos Ernesto e José do Canto”, a criação da “Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense” e a “Sociedade dos Amigos das Letras e das Artes. Por esta altura, a economia da laranja entrava em declínio devido não só a pragas que dizimavam os pomares, mas também às dificuldades de transporte para os mercados consumidores europeus.
A alternativa à laranja foi a cultura do milho e da batata doce, utilizada na produção de álcool, a produção de bovinos e a plantação de ananás, exportado para o mercado britânico.
À época, a nível nacional, um grupo de escritores e intelectuais da “Geração Coimbrã”, também designada por “Geração de 70”, entre os quais se contava Antero de Quental, manifestavam-se a favor de mudanças de mentalidades na literatura, na política e na sociedade, face aos novos ventos surgidos na Europa.
Do velho continente, cujos acontecimentos eram muito raramente difundidos pela imprensa micaelense, foi o novo “Diário dos Açores” o primeiro a noticiar e acompanhar o conflito franco-prussiano, certamente pelas consequências comerciais que ele provocava no mercado local e no relacionamento luso-francês.
Anos antes (1861) dera-se a Unificação da Itália.
Entre 1861-1865, do outro lado do Atlântico, decorrera a Guerra Civil Americana, pelo que os Estados Unidos estavam a recuperar-se desse conflito em que também tomaram parte imigrantes açorianos. Dez anos depois (1871) dá-se a unificação da Alemanha e a criação do Império Alemão.
O surgimento de novos Impérios e o ambiente militarista em que vivia a Europa deu origem ao primeiro conflito mundial já no início do século XX.
Foi nesta conjuntura local, nacional e internacional que Tavares de Resendes concretizou e desenvolveu o mais antigo “Diário dos Açores” que chegou até hoje.
Ao longo dos 155 anos, as 43.590 edições reflectem as vicissitudes humanas e sociais, as normas por que se regiam as sociedades e os regimes políticos da altura, o pensamento dos seus directores, a narrativa e interpretação dos fatos feita pelos seus redactores e as opiniões dos seus colaboradores.
É deste modo que se constrói a liberdade de informação e de opinião – direitos de difícil afirmação e construção, mas de permanente conquista.
Por tudo isto há que valorizar o valioso espólio guardado nas páginas deste jornal – fonte indispensável e relevante da História do nosso viver colectivo.
É de justiça salientar o empenho de quantos contribuíram com seu saber e dedicação – dos anónimos tipógrafo, paginador e distribuidor ao mais ilustre director, jornalista e colaborador – para que a sociedade açoriana e micaelense fosse mais instruída, culta, livre, dinâmica e solidária.
Na pessoa do seu Diretor, Paulo Hogo Viveiros e do seu Diretor Executivo, Osvaldo Cabral, que perseguem, diariamente, um jornalismo livre, independente e dinâmico, homenageio todos quantos fazem do “Diário dos Açores” um jornal de referência no Arquipélago e nas Comunidades Imigrantes.
Ad multos annos!

1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Di%C3%A1rio_dos_A%C3%A7ores

José Gabriel Ávila*

*Jornalista c.p.239 A

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