Manda a lei do bom senso que desvalorizemos os disparates que por aí se dizem. Mas manda também a soberana e sábia lei do povo que, se nos calarmos, lhes damos força.
Durante anos, defendia-se que era necessário desmilitarizar a Europa e o Ocidente, pois não se vislumbravam conflitos ou ameaças à paz mundial. Tudo não passava, diziam, de uma paranoia militarista de fanáticos obcecados por bombas e canhões. Das latitudes da esquerda europeia e norte-americana erguiam-se vozes contra a guerra: intelectuais neo-hippies, filósofos pacifistas, organizações não-governamentais e toda a sorte de movimentos que clamavam pelo desmantelamento dos exércitos, pelo fim da NATO e por um mundo sem armas. Um reacionarismo ingénuo, típico de uma certa esquerda sem juízo.
Terão realmente acreditado num mundo “fofinho”, onde líderes liberais se sentariam com déspotas para falar de paz? Onde cristãos e não-cristãos partilhariam harmoniosamente o maná dos deuses, enquanto nas sombras se sentenciava o fim dos nossos valores e do nosso modo de vida?
Nós, ocidentais, gostamos de nos ver como fundadores da tolerância, da modernidade e do ideal de um mundo sem fronteiras. Mas a realidade não perdoa ilusões. Acreditar nisso foi um erro infantil. Agora, confrontados com o perigo, não há alternativa senão o pragmatismo: rearmar-nos o mais rápido possível.
E, por ironia do destino, foi Ana Gomes, socialista e pacifista, quem declarou em plena televisão nacional que não deveríamos ter ilusões: “A guerra chegará à Europa e a Portugal. Precisamos de forças armadas europeias para defender as infraestruturas críticas. Isso faz-se com recursos europeus, com recursos nacionais.”
Haja decoro!
Luís Soares Almeida*
- Professor de Português
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