No dia 25 do corrente mês, completaram-se 11 anos sobre o falecimento do nosso conterrâneo professor doutor Augusto de Athayde Soares de Albergaria, de seu nome completo. Nasceu em Ponta Delgada, nesta ilha de São Miguel, a 4 de Abril de 1941, tendo falecido em Lisboa a 25 de Fevereiro de 2014, aos 72 anos de idade. Foi filho de Augusto de Athayde Côrte-Real Soares de Albergaria, empresário, e de Maria da Graça Hintze Ribeiro Jardim, escritora.
Monárquico por convicção pessoal e tradição familiar, eu diria que o professor doutor Augusto de Athayde, politicamente, foi acima de tudo um conservador reformador. Enquanto secretário de Estado com a tutela dos Desportos, antes da Revolução do 25 de Abril de 1974, foi a França, então já um país em regime democrático, verificar localmente as políticas que o Governo de Paris desenvolvia no domínio dos Desportos e os respectivos resultados, procurando, dessa forma, replicar em Portugal algumas dessas reformas francesas. E isso aconteceu. Ele mesmo descreve isso no seu valioso e muito interessante livro “Percurso Solitário”.
Por isso e por outras razões obviamente, digo que ele foi um conservador reformador, que pensou e acreditou que seria possível, como aconteceu em outros países, reformar por dentro o regime político português de então, com vista a um horizonte de abertura democrática. Outros também pensaram como ele, que seria possível alterar para melhor a condução política nacional, sem necessidade de uma ruptura ou de uma revolução. Ele e esses outros eram bem intencionados, mas mais tarde compreenderam duas coisas. Por um lado, o regime político de então estava muito condicionado por pessoas que não admitiam qualquer alteração ou evolução, nomeadamente quanto à política ultramarina. Por outro lado, a dinâmica histórica tem os seus prazos e é imparável, com consequências tanto positivas como negativas, mas é – repito – mesmo imparável.
Em momento de recordação e de homenagem, sem dúvida muito justas, deixo aqui este pequeno e modesto apontamento como conclusão da leitura que fiz daquele livro do doutor Augusto de Athayde – publicou outros trabalhos, principalmente sobre questões de Direito -, que foi uma personalidade maior do nosso país, também como muito ilustre docente universitário, como muito competente jurista nomeadamente no domínio do Direito Bancário, como gestor empresarial e como homem de Cultura. Era um apaixonado pelo Direito, pela História, pela Literatura, pela Música e pelo Desporto. Ele vinha de um meio social muito intelectualizado, o que muito o influenciou e beneficiou. A sua vida foi muito completa, abrangente e útil à sociedade, fazendo sempre um “Percurso Solitário”, em grande parte porque tinha ideias muito próprias, fez reflexões longe de grupos ou ideologias e procurou objetivos de independência pessoal, como ele próprio assinala na sua mencionada e meritória obra.
O antigo Presidente da República dr. Jorge Sampaio foi contemporâneo do professor doutor Augusto de Athayde na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Jorge Sampaio teve sempre desde a sua juventude uma marcada posição política à esquerda. Quando fez uma “Presidência Aberta” nos Açores, em 1999, Augusto de Athayde fez questão de lhe oferecer uma recepção no Palácio do Jardim José do Canto. Eu diria que foi um reencontro histórico, de resto pleno de simpatia e de emoção. Apesar de percursos pessoais e políticos diferentes, manifestaram recíproco respeito e mútua consideração. Afinal, cada um à sua maneira, sempre defenderam um melhor futuro para Portugal.
Esta limitada nota ficaria de todo incompleta se não referisse o grande amor do doutor Augusto de Athayde ao Jardim José do Canto, de quem era trisneto, se não estou em erro. Como sabem, José do Canto (1820-1898) foi um grande proprietário agrícola, um distinto intelectual e um devotado amante da Natureza. No meio de algumas dificuldades familiares, o doutor Augusto de Athayde fez tudo para manter e preservar o Jardim José do Canto, que é uma relíquia botânica existente em Ponta Delgada. É propriedade privada, mas tem estado ao serviço da sociedade, da Cultura e do turismo.
Em suma, o importante legado do professor doutor Augusto de Athayde, como era mais conhecido, aqui muito resumido, merece o respeito, a consideração e a gratidão de todos.
Tomás Quental Mota Vieira