Nos Açores, tem-se verificado uma tendência preocupante nas eleições autárquicas: a aposta em candidatos com baixa probabilidade de vencer, enquanto as figuras de maior relevância política evitam submeter-se ao escrutínio eleitoral. Este fenómeno reflete uma falta de coragem política e uma desvalorização do próprio ato eleitoral, transformando-o numa mera formalidade de resultados previsíveis.
Ao invés de apresentar os seus melhores quadros, os partidos frequentemente têm optado por candidatos secundários, que não têm capacidade de mobilizar eleitores ou de apresentar projetos consistentes, contribuindo ara a perpetuação do status quo, onde as mesmas forças políticas continuam no poder sem enfrentar uma oposição eficaz. Esse cenário enfraquece a democracia local e afasta os cidadãos da política, pois o debate eleitoral torna-se cada vez mais desinteressante e pobre.
Em Ponta Delgada, por exemplo, o PS tem optado por candidatos sem expressão política, enquanto figuras de destaque, como Francisco Vale César, evitam se candidatar. A cidade, tradicionalmente um ponto estratégico para o governo regional, poderia ser uma plataforma para líderes ambiciosos se mostrarem como alternativas sólidas. Contudo, as figuras proeminentes preferem resguardar-se, evitando o risco de derrota, confiando que um mau resultado global na região não seja suficiente para a sua queda. A fasquia é colocada muito abaixo do aceitável. Essa postura enfraquece o debate e retira aos eleitores a possibilidade de escolherem entre opções qualificadas, mas também revela como a política regional se baseia em manobras políticas, onde os Açorianos e o seu melhor interesse ficam de fora.
Da mesma forma, no PSD, António Ventura, o homem forte da Terceira, também evita enfrentar a disputa pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. Ventura, com grande base de apoio na ilha e uma carreira consolidada, teria todas as condições para liderar uma candidatura forte e desafiar o domínio do Partido Socialista na câmara. No entanto, optou por não se candidatar, o que deixa a oposição sem uma figura capaz de mobilizar o concelho e apresenta um risco para a renovação política local.
A ausência de figuras de destaque nas candidaturas autárquicas, como Ventura, reflecte o receio de uma derrota em eleições locais complexas. Este comportamento é um reflexo da falta de confiança na renovação e na capacidade de liderança política. Ao se esconderem atrás de candidatos menos preparados, os partidos falham em oferecer aos eleitores uma verdadeira alternativa e a política local perde dinamismo.
Esse afastamento das figuras de proa da política regional e local cria uma lacuna no debate público e enfraquece a qualidade da governação. Quando os candidatos são fracos ou sem experiência, o debate público diminui e o desinteresse dos eleitores cresce, resultando em maior abstenção. Isso transforma as eleições autárquicas num processo morno e sem relevância, que não reflete as necessidades e as aspirações das comunidades.
As autárquicas, sendo as eleições mais próximas das bases e uma expressão fundamental da democracia, deveriam ser tratadas com maior seriedade. Quando os partidos perdem essa ligação com as bases, tornam-se elitistas e desligados da realidade das populações. Um projeto político que se afasta da sua base corre o risco de perder a sua relevância e de inverter a pirâmide de suporte político, tornando-se irrelevante.
A regeneração da política autárquica passa também pela escolha de candidatos que estejam verdadeiramente comprometidos com a transformação das suas comunidades. Candidatos que entendam a política local como um campo de ação e não como uma arena para resguardar figuras. A política autárquica não pode continuar a ser um jogo de conveniências e medos. O futuro dos Açores depende da coragem dos partidos em enfrentar as eleições com os melhores quadros possíveis. Os Açores merecem mais e melhor.
André Silveira