Vai acontecer este fim de semana. Passados 52 anos, a tradição do carnaval terceirense mantém-se ativa por estas paragens dos EUA.
Os 7 bailinhos pela Nova Inglaterra apresentam-se em terras de outras gentes, outros costumes, outras tradições e outra língua, onde destemidos “heróis” comunitários, com especial referência a José Valadão, que em 1973 arriscou tal concretização, mantendo como pilares a língua, as vozes e o enredo em português. E só aqui já temos uma vitória como através de uma tradição se consegue manter a língua portuguesa como nossa identidade. E o mais relevante, na maior e mais poderosa nação do mundo.
Mas uma vitória com continuidade. E aqui e mais uma vez com exemplos concretos e reais. E senão vejamos: o exemplo de Manuel Costa, executante da banda do Clube Juventude Lusitana, Cumberland, que agarrado ao violão integra “os toques dentro” do bailinho “Há Sempre Lugar Para Mais Um”, do Clube Português Recreativo do Warren. E com ele dois filhos instrumentistas da mesma banda. Aproveitando a estadia nos Açores vai levá-los ao Pico, para ficarem a conhecer as origens.
Podemos acrescentar que todos eles falam português.
Por sua vez, Durval Duarte, regente e presidente da Banda de Santo António de Fall River, a mais antiga em terras americanas com 120 anos de existência, integra também os “toques dentro” do bailinho do Warren e faz-se acompanhar pela esposa e filha, integradas naquele acompanhamento musical.
A par com estes exemplos temos Victor Santos, dos Amigos da Terceira, que escreveu, ensaiou, coreografou, musicou o bailinho “A Tropa” para o carnaval sénior na ilha Terceira, mas que regressa a tempo de se inserir no desfile carnavalesco pela Nova Inglaterra. E aqui temos a curiosidade de Victor Santos estar em palco com as filhas Tânia e Chelsea e a esposa Maria João Santos.
Mas os exemplos não se ficam por aqui. Ali por Attleboro temos Liz e Steve Alves, mais dois pilares do carnaval que se fazem companhar pelos filhos.
E se formos mais a norte, em Lowell, temos a família Martins, entre filhos e primos, que constituem uma numerosa e relevante presença do carnaval pela Nova Inglaterra. São estes exemplos concretos de que os 7 bailinhos que desfilam pela Nova Inglaterra, além de serem uma diversão para as centenas de pessoas que os vão aplaudir pelos diversos salões da Nova Inglaterra, são pilares da nossa presença em terras americanas.
Vão desfilar 7 bailinhos
a norte e sul de Boston
Só esta divisão geográfica, tendo por fulcro, uma das mais emblemáticas cidades do mundo, já é uma vitória. A cidade da MIT, da Harvard University, dos melhores hospitais do mundo e das mais sofisticadas construções de biliões de dólares pela S&F Concrete Contractors, dos irmão Frias de Hudson.
A Norte deste colosso citadino vamos ter 5 bailinhos.
A sul vamos ter 2 a desfilar. Vão ser 7 na sua totalidade este sábado, 1 de Março, a encher os salões a sul e no Domingo, 2 de Março, a encher os salões do norte.
Carnaval com toda a sua beleza de executantes, trajes, enredos, música, num todo alegre e cativante, vai fazer subir ao palco os ensinamentos colhidos nos cuidadosos ensaios das letras, da música, da coreografia.
Onde mesmo um improviso é vivido pelas plateias atentas, que não regateiam aplausos a artistas amadores, quando no carnaval, nada se leva a mal. Tudo faz parte da festa.
Mas uma festa em terras de outras gentes, outros costumes, outra língua, outras tradições. Que nos abrem os braços para vivermos o que trouxemos na bagagem, sem esquecer que aliado à festa, temos as ocupações profissionais.
E é aqui que nos temos distinguido. Desde um mini mercado a grandes supermercados. Grandes empresas nos mais variados ramos. Somos até dos maiores. E é dentro destas conquistas que se elevam os valores tradicionais e culturais.
Sendo o Carnaval o tópico do momento podemos elevar o tom musical das nossas filarmónicas e dizer bem alto, já só há bandas filarmónicas portuguesas. E numa simbiose de valores, são os músicos, em alguns casos, famílias de músicos destas bandas a apoiar os bailinhos de carnaval. Se lá no assento eterno onde subiu memórias desta vida se consentem, José Valadão deve estar orgulhoso do legado que nos deixou. Nasceu na ilha Terceira, freguesia das Lajes a 30 de Janeiro de 1929. Faleceu a 4 de Junho de 2016 em Lowell, MA.
No ano de 1973 arriscou o carnaval terceirense, com o bailinho “Uma Petiscada”, que desfilou pelas associações de Lowell, e que passados 52 anos continuam de portas abertas a receber aquela tradição.
Foi fundador da Banda do Espírito Santo, junto do Portuguese American Center (clube dos Azuis) Lowell. Como se depreende, José Valadão juntou os acordes da pauta musical ao acompanhamento da letra e constituiu um bailinho de carnaval.
Estranho, para quem viu pela primeira vez. Glorioso, para quem aquela tradição serviu de berço e viu um destemido José Valadão reviver em terras americanas o popular carnaval terceirense.
Augusto Pessoa, nos EUA
Exclusivo Portuguese Times/
Diário dos Açores