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Bastam os Sussurros: Os democratas devem liderar, não ceder

“É que a falta de uma oposição robusta corre o risco de desmoralizar a base do partido, levando à diminuição da participação e do envolvimento dos eleitores. Nota-se através do país, que a nível das bases, há uma pressão significativa sobre os legisladores democratas para que adotem uma posição mais enérgica contra a administração Trump.”

“Protejam-se contra as imposturas de um pretenso patriotismo.”
George Washington, no discurso de despedida a 17 de setembro de 1796

A resposta do Partido Democrata às políticas hostis da administração Trump tem sido objeto de um intenso debate, com os críticos a argumentarem (eu sou um deles) que a oposição do partido não tem tido o vigor necessário para contrariar eficazmente estas medidas. A inadequação pode ser atribuída a divisões ideológicas internas, desacordos estratégicos e preocupações com as repercussões políticas. Independentemente da razão, ou das razões, a oposição americana não pode ficar de braços cruzados. Já em 1787, numa carta enviada a Abigail Adams, Thomas Jefferson escreveu: “O espírito de resistência ao governo é tão valioso em certas ocasiões que desejo que se mantenha sempre vivo. Será frequentemente exercido quando estiver errado, mas é melhor assim do que não ser exercido de todo.”
O Partido Democrata, é, como se sabe uma força política que engloba um vasto espetro de ideologias, desde pontos de vista progressistas a moderados e até alguns mais conservadores. Esta diversidade conduz frequentemente a opiniões divergentes sobre a forma de enfrentar as políticas da administração Trump. A ala mais progressista defende uma resistência assertiva, enfatizando a necessidade de desafiar as políticas extremamente prejudiciais às comunidades marginalizadas e aos princípios democráticos. Por exemplo, o senador Bernie Sanders emergiu como uma figura proeminente que lidera a resistência anti-Trump, atraindo grandes multidões durante a sua “stop oligarchy tour” e enfatizando a importância de se opor às tendências autoritárias desta administração. Sanders, entretanto, tem sido um outsider no Partido. A oposição constante de Sanders lembra-nos o que escreveu Louis Brandeis: “Podemos ter democracia neste país, ou podemos ter uma grande riqueza concentrada nas mãos de alguns, mas não podemos ter ambas.”
Os democratas mais conservadores, e estão por aí, (uma espécie de republicanos leves—light republicans) advertem contra tácitas excessivamente agressivas, temendo que tais abordagens possam alienar os eleitores centristas em distritos competitivos. Esta tensão foi evidente durante o discurso do Presidente Trump no Congresso, onde alguns democratas se envolveram em protestos visíveis, levantando cartazes e saindo da sala, apesar dos apelos da liderança do partido ao decoro. Esta dicotomia reflete uma luta mais ampla dentro do partido para equilibrar a oposição de princípios com considerações eleitorais pragmáticas. Porém poderá ser um grande erro do partido, porque não mostra coluna dorsal.
Para além de algumas diferenças ideológicas, o que é mais óbvio são as divergências estratégicas sobre os métodos mais eficazes para se opor à administração de Donald Trump. Alguns membros do partido defendem uma abordagem de confronto, incluindo manifestações públicas e críticas constantes, para galvanizar a base e chamar a atenção para políticas controversas que acabarão por mudar a América. Outros, defendem uma abordagem mais pacata centrada nos processos legislativos e na construção de coligações para contrariar a agenda da administração. Esta perspetiva sublinha a importância de manter as normas institucionais e de apelar a um eleitorado mais vasto. O debate sobre estas tácitas sublinha o desafio de formular uma estratégia unificada que aborde eficazmente as ações da administração, preservando ao mesmo tempo a coligação diversificada dos democratas. O que jamais se podem esquecer é que uma das razões que perderam as eleições presidenciais foi precisamente por esse apego às instituições. Em ambos os lados da esfera, a população questiona, e com razão, o funcionamento das instituições.
Há líderes democratas perfeitamente conscientes das potenciais repercussões políticas das suas estratégias de oposição, ou da falta delas. Há os que alertam para o facto de uma posição demasiadamente combativa poder sair pela culatra, conduzindo a perdas em corridas cruciais nas eleições intercalares de 2026. É um erro! O eleitorado democrata quer frontalidade. Os independentes também querem que a oposição defenda os direitos e as políticas em constante assalto por Donald Trump. Quanto mais cedo os democratas descobrirem que chegou o momento de serem o partido da classe trabalhadora, da classe média, melhores possibilidades terão de voltarem ao poder. É que a falta de uma oposição robusta corre o risco de desmoralizar a base do partido, levando à diminuição da participação e do envolvimento dos eleitores. Nota-se através do país, que a nível das bases, há uma pressão significativa sobre os legisladores democratas para que adotem uma posição mais enérgica contra a administração Trump. Os eleitores têm instado ativamente os seus representantes a tomar medidas concretas, refletindo o desejo de uma oposição mais assertiva. Este ativismo de base realça uma desconexão entre a liderança do partido e a sua base, com muitos eleitores a sentirem que as suas preocupações não estão a ser adequadamente abordadas.
O Comité Nacional Democrata (DNC) tem enfrentado desafios para unificar a resposta do partido às políticas desta administração. A eleição de Ken Martin para presidente do DNC marcou uma mudança no sentido de uma agenda mais centrada nos trabalhadores e nos sindicatos. O empenho de Martin em alinhar o partido com os interesses dos trabalhadores e em opor-se ativamente às políticas anti laborais reflete um esforço para reforçar a ligação do partido à sua base tradicional. Traduzir esta abordagem organizacional numa estratégia de oposição coesa e vigorosa continua a ser uma tarefa complexa. É urgente a necessidade de um partido com garra e determinação que vá além da queixa e da consternação. Lamentos e desalentos temo-los todos, e daí que precisamos de uma oposição pujante e audaz.
Apesar da procissão ainda não ter saído do adro da igreja, a resposta do Partido Democrata à agressão da administração Trump não pode ficar moldada por uma confluência de divisões internas, desacordos estratégicos e preocupações com as repercussões políticas. É urgente que os democratas enfrentem a tarefa de reconciliar estas dinâmicas internas para apresentarem uma resistência unificada e eficaz que ressoe tanto na sua base como no eleitorado em geral. A América e o mundo dependem de uma renovada e inabalável oposição. Os democratas não podem ficar cúmplices desta devastação do espírito americano.

Diniz Borges, nos EUA

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