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Saúde (do) Pública(o) (14) Sobre as vacinas, na Semana que comemora a Vida

“Mas, como a recusa da vacina se tornou mais frequente por alguns grupos de pessoas, uma tendência preocupante está a desenvolver-se: os casos de sarampo aumentaram, 42 casos nos EUA em 2023, 285 em 2024.”

O tema da semana: porque é que as vacinas são importantes?

Peter Gilligan é médico, microbiologista, há mais de 35 anos. Há pouco tempo escreveu um magnífico artigo sobre o valor das vacinas, baseado no que observou ao longo da sua vida. É sobre este artigo que me debruço esta semana.
Uma das primeiras inspirações do Dr. Peter Gilligan para se tornar microbiologista foi ler, aos 12 anos, sobre as experiências de Louis Pasteur e a sua coragem — ou imprudência — em administrar uma vacina experimental contra a raiva, a uma criança (Joseph Meister), que havia sido mordida por um cão com raiva, e assim salvar a sua vida. No artigo fala da sua experiência com as vacinas, ao longo da sua vida.
A sua primeira vacinação, contra a varíola, antes de entrar no jardim de infância, foi em 1956. Quando adolescente lembra-se de ver o pai, clínico geral rural, a administrar a vacina, com uma agulha bifurcada. Tal ajudou na erradicação global da varíola, concluída em 1977.
Contra a poliomielite a “luta vacinal” da Humanidade começou com uma vacina inativada, em 1955, e uma vacina viva atenuada, no início de 1960. Isto foi tarde demais para todos os que necessitaram de pulmões de aço para o resto da vida, ou ficaram permanentemente paralisados; mas, desde então, graças ao poder das vacinas, a poliomielite foi eliminada da maior parte do mundo.
Porém, até que a erradicação global da poliomielite esteja completa, a vacinação com a vacina inativada contra a poliomielite tem de continuar em todo o mundo, incluindo nos países onde a doença foi eliminada.
A vacina viva atenuada contra o sarampo apareceu em 1963; na década de 1950, estima-se que houve muitas centenas de milhar de casos de sarampo, anualmente. Em 1973, três vacinas vivas atenuadas – contra o sarampo, a papeira e a rubéola – foram combinadas, na vacina conhecida hoje como tríplice. Com a introdução da tríplice (e o seu uso generalizado), os casos anuais de sarampo caíram, de centenas de milhar para poucas dezenas.
Mas, como a recusa da vacina se tornou mais frequente por alguns grupos de pessoas, uma tendência preocupante está a desenvolver-se: os casos de sarampo aumentaram, 42 casos nos EUA em 2023, 285 em 2024. Como já aqui escrevi, está em curso um surto de sarampo no sudoeste dos EUA, com o epicentro no oeste do Texas, com mais de 400 casos em indivíduos que não foram vacinados. O epicentro desta epidemia foi o Condado de Gaines, que tem uma altíssima taxa de crianças não vacinadas. Tragicamente, 2 crianças não vacinadas morreram neste surto, em que mais de 90% dos casos são em indivíduos não vacinados. A queda nas taxas de vacinação para a tríplice, nos últimos 5 anos, representa um ponto de inflexão, prenunciando números muito maiores de casos de sarampo nos próximos anos, caso as taxas de vacinação não aumentem.
Nos anos 80 do século passado, nos hospitais onde eram observadas crianças com menos de 5 anos com doença invasiva por Haemophilus influenzae tipo B ou Streptococcus pneumoniae encapsulados, a complicação mais temida era a meningite bacteriana, que apresenta uma mortalidade de 15% para H. influenzae tipo B, e 17% para S. pneumoniae, nessa faixa etária.
A boa notícia é que vacinas conjugadas contra cada um desses organismos foram desenvolvidas: contra o H. influenzae tipo b, que ficou disponível em 1987; contra o S. pneumoniae, disponível em 2000.
Quanto às vacinas contra a gripe, elas são administradas no Hemisfério Norte no início de Outubro, porque a imunidade dura apenas cerca de 6 meses. As pessoas, por vezes, apresentam com a vacina sintomas semelhantes aos da gripe: dor no braço, mal-estar leve, febre baixa. Isto é um pequeno preço a pagar, pois estes sintomas mostram que o sistema imunológico está a construir protecção imunológica. Sabemos que os vacinados que se infectam têm doença mais branda, e são muito menos propensos a serem hospitalizados, do que pessoas não vacinadas. Confirmamos isto em São Miguel, há poucas semanas.
Esta vacina baseia-se nas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que determina a composição da vacina com base na actividade da doença influenza no Hemisfério Sul, no período prévio.
Sobre a vacina contra a COVID-19, o Dr. Peter Gilligan explica porque é que ele e a esposa se têm vacinado, continuamente: porque estas vacinas fazem duas coisas importantes, reduzem a probabilidade de hospitalização e a de morte por COVID-19. Assim como a da gripe, a proteção da vacina é limitada a cerca de 6 meses, e novas variantes antigênicas podem surgir, limitando a eficácia da vacina. Portanto, é essencial que as pessoas em risco, especialmente as com baixa imunidade ou com mais de 65 anos, tomem os reforços da vacina contra a COVID-19.

A homenagem da semana: as vacinas, uma das medidas de Saúde Pública que mais vidas salvou

Quando os nossos filhos nascem, todos os pais desejam para eles o melhor na sua vida, em particular Amor, Felicidade e Saúde. Por isso, e com bom senso, a esmagadora maioria dos pais segue as recomendações de vacinação da DGS e da DRS.
É importante que os adultos o façam também.
Dadas as limitações das vacinas contra a COVID-19 e a gripe, vamos continuar a precisar de receber ambas as vacinas no Outono, todos os anos.
As vacinas levaram ao desaparecimento de doenças infecciosas, até que algumas, como o sarampo, começaram a ressurgir devido a decisões (idiotas) de não vacinar as crianças. Vírus, como o do Sarampo, matam. Assim como a gripe e a COVID-19 continuam a matar pessoas frágeis, imunodeprimidas e idosas.
Há 5 anos atrás, nesta altura do ano, vivemos uma época única nas nossas vidas. Nunca esqueceremos a imagem do Papa Francisco junto da cruz… [Aqui: https://rr.pt/noticia/amp/religiao/2020/04/11/papa-reza-pelos-incontaveis-lugares-de-dor-da-humanidade-reveja-a-celebracao-da-via-sacra/188788/]. O regresso à normalidade devemo-lo à vacinação em massa.
Que nesta Semana Santa, em que recordamos a Paixão e Ressurreição de Cristo, nos recordemos de todos os que perderam a vida na Pandemia da nossa geração, sendo gratos por termos voltado à normalidade.
Uma Santa Páscoa para todos os leitores, e para a equipa do Diário dos Açores!

Mário Freitas*

  • Médico, Coordenador Regional da Saúde Pública dos Açores
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