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O Rosto do Senhor Santo Cristo, é imagem e símbolo de saudade em festa!

A tradição cristã açoriana “micaelense” inicia o ciclo Quaresmal, tempo favorável e especial nas igrejas, católica e ortodoxa, onde as leituras dominicais apresentam nobres exortações proféticas à penitência, na síntese de todo o mistério da salvação, focando os principais passos Evangélicos, que nos primeiros séculos eram ditadas aos catecúmenos, como preparação para a cerimónia batismal em noite pascal, inserido no mistério da iniciação cristã, em observância à unidade da fé no caminho à misericórdia de Deus.
Na primavera, onde a noite se iguala ao dia, nasce um novo sol que brilha e aquece a natureza em geral, onde o calor da nova luz solar, clareia e acende na igreja a renovada liturgia pascal, festividade que em cada domingo, a igreja abre a sua oratória matutina com o “Hino de Laudes, Pascal”, de: Nasceu o sol da Páscoa gloriosa /ressoa pelo céu um canto novo/exulta de alegria a terra inteira, aleluia. Desça sobre a Igreja e sobre o mundo/como penhor de paz e de esperança,/a luz da tua Páscoa esplendorosa. Cantemos a Deus Pai e a seu Filho, / louvemos o Espírito de amor, / agora e pelos séculos sem fim. Aleluia, Aleluia.
O sol da Páscoa, é chama viva da esperança na nova primavera, onde tudo brota, renasce e floresce, tornando os campos verdejantes de rebentos novos aromáticos, frutos de uma nova Páscoa florida de vida.
É o ciclo do tempo novo, onde se busca a paz entre os gentios, como refere o magnífico hino do Jubileu, “Peregrinos da Esperança”, a celebrar no corrente ano de 2025, momento importante na continuidade social-cristã, e evangelização da igreja, como menciona o texto da palavra e sua composição musical, de Francesco Meneghello e Pierangelo Sequeri.
Texto-Refrão: – Chama viva da minha esperança, /este canto suba para ti! /Seio eterno de infinita vida,/no caminho, eu confio em Ti!
Estrofes: 1- Toda a língua, povo e nação, / tua luz, encontra na palavra. / Os teus filhos, frágeis e dispersos, / se reúnem no teu Filho amado. 2- Deus nos olha, terno e paciente:/ Nasce a aurora de um futuro novo. / Novos céus, terra feita nova:/ Passa os muros, Espírito de vida. 3- Ergue os teus olhos, move-te como o vento, /não te atrases: Chega Deus, no tempo. / Jesus Cristo por ti se fez Homem:/Aos milhares seguem o caminho.
A Páscoa festiva da humanidade, acontece em plena primavera, e torna-se inesquecível na comunidade micaelense e ilhéus, por tratar-se do ciclo litúrgico fortemente religioso, lembrando as seculares tradições e devoções, originando momentos e tempos de partilha e de encontros fraternos, que engrandecem toda a festividade em honra ao Senhor Santo Cristo, celebrada no 6º domingo da Páscoa.
Na oitava da Páscoa, o frontispício do Santuário da Esperança, é cuidado e preparado para receber a ornamentação dos artefactos lampadários de arte manual, onde meticulosamente cada lâmpada colorida ou não, tem lugar próprio, a ornar os motivos decorativos, que, na noite festiva, a sua beleza colorida se torna luzeiro iluminante, que, atrai a atenção popular num olhar de admiração e gesto de resplendoroso regozijo de festejo, tornando o brilhantismo da noite numa frescura inaudita de luz, que clareia a noite como obra de arte criada por trabalho humano, e de inspiração divina.
Bem cedo, e com antecedência, Ponta Delgada, prepara-se e veste-se de brilho e decores, onde o ar
Fresco matutino, parece aquecido e perfumado, para em animação festiva, receber os que por tradição ou não, pretendem em tempo útil participar na festa do Senhor, agregando na devoção, o consentido estado de espírito alimentado na qualidade de crente ou não, onde justifica a sua fé.
Na alegria festiva, a procura do Senhor Santo Cristo, centra-sena imagem iconográfica do seu sofrido e maltratado rosto, aquando do momento da sua Paixão.
A cidade, e a comunidade, torna-se um santuário aberto, onde todo o crente com fé ou não, alimenta, no seu viver diário festivo, o potencial instinto pessoal e espiritual, na crença de se justificar rezando num olhar direcionado atento ao Rosto do Senhor, e no silêncio íntimo de si mesmo, penitencia-se e agradece as muitas graças recebidas no decurso das vicissitudes duras da vida.
O rosto do Senhor, é ícone e foco presente no imaginário pensamento do humano ilhéu; é janela aberta para Deus, onde inicia as laudes, oratória matinal primeira, que irradia a luz que ensina e ajuda a percecionar o mundo como um símbolo, que oculta e desvela o mistério de Deus, que ensina a estimar e respeitar o mundo nas mais variadas inconstâncias e transparências das coisas.
O rosto do Senhor, transporta no humano a caridade e o arrependimento numa mudança de vida, para ajustá-la ao cumprimento temporal da sua orgânica familiar, incutindo a relação de proximidade na vivência confortável da justa alegria no uso da sensibilidade e responsabilidade cristã, num equilíbrio de justiça, humildade e igualdade.
A imagem do Senhor, é justamente o rosto retrato humano de todo o que sofre, na medida em que a nossa visão humana-cristã o recolhe como sendo gesto de compaixão e ajuda; o rosto do Senhor, é a imagem que exposta na exata hora do tempo, nos toca em particular, revelando um sentido novo de compromisso de vida, deixando-nos penetrar na luz da sua presença; Deus único de terapia espiritual.
Deixai-me Senhor, saborear em silêncio, a alegria em saber, que tenho diante do meu olhar, o Teu santo rosto, onde o meu coração se inunda de felicidade, para comungar da Tua festa, levando comigo em lembrança alimentara vida espiritual, do corpo, sangue, e divindade eucarística do teu banquete pascal.
O rosto do Senhor, é espaço de saudade contemplativa, que invade não só o povo ilhéu nascido no seio da obscurecida atlântida, mas também a comunidade humana emigrante ou não, sitiada nos mais dispersos lugares geográficos, que, sem medos e sem receios, se habilitam em aventura de fé e esperança peregrina, atravessando no tempo o espaço do atlântico norte, rompendo a muralha ou fronteira do espaço livre, carregado de bruma, onde circula a parada da saudade desejada na rota da festa do Senhor Santo Cristo.
Não Te ausentes de mim, Senhor! A minha voz, é canto e silêncio no teu olhar!
O sentimento espiritual da fé no humano, é nostalgia de quem procura ver de perto, o rosto do Senhor ensanguentado e sofrido, mas resistente à dor perante um silêncio magoado e fragilizado.
A festa do Senhor, gera sentimento e compromisso peregrino, que transporta no silêncio do tempo, uma nova oportunidade de felicidade espiritual, centrada em diálogo de palavra íntima de cada homem e mulher, ao validar o encontro visual da veneranda imagem, do Ecce Homo.
O(a) orante peregrino (a) enquanto dialogante crente, faz-se cumpridor (a) fisicamente presente, e na (s)sua(s) promessa, (s), prepara-se para a espiritual caminhada que a festa oferece, circulando passo a passo, e sem pressa, a senda da rota geográfica da urbe, demarcada no tempo e espaço que não se contabiliza, porque, todo o ilhéu presente, também se associa à saudade emigrante peregrina comungando na partilha da oração fiel e perseverante, ao som do matinal canto oratório comum, em silencioso caminhar:
-Eis-me aqui, eis-me aqui! Senhor, aqui estou! Eis-me aqui! Senhor, para fazer a tua vontade com afeição viva, e de ardente apreço espiritual, entregando todo o meu ser e servilismo cristão.
A sede espiritual de graças ao Senhor Santo Cristo, reveste-se de um momento sempre novo e especial, quando o amontoado peregrino de devotos ou não, se aproximam do recinto “Porta do Carro”, onde a imponente imagem surge esplendorosamente à hora marcada por tradição. A multidão, aplaude jubilosamente o Senhor Santo Cristo, revestido de esplendor e majestade em seu trono!
A ansiosa espera popular, fixa o seu olhar no rosto do Senhor, que, há longo tempo O procura, e ao som do hino de Hossana! Hossana, no mais alto dos céus, Ele, sai ao encontro dos gentios em cortejo de festa.
O ciclo dos sentidos humanos, livremente comovidos, humedecem lacrimosos o olhar e a face, em resultado purificador do seu ser, ao sentirem a presença do Senhor. Os lábios, perante a forte comoção, tremem estacionários, não mexem, mas interiorizam a forte ligação espiritual à grande emoção contida ao ouvirem, o canto dos gentios em brados de alegria em festiva proclamação de Hossana no alto dos Céus, Hossana! Hossana! Ao Filho de David. (Slm.118,25) Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Este hino, é manifesta aclamação de alegria da multidão, semelhante à do povo hebreu na receção ao Senhor Jesus, em domingo de Ramos, aquando da sua entrada triunfal em Jerusalém.
As presenças humanas ao cumprimento de promessas, avançam exaltando manifestos acontecimentos do tempo presente, reacendendo no ardor da crença, a fé contida; o acreditar-se em algo, para além de nós mesmos sem qualquer prévia explicação.
O cumprimento de promessas, é o instante momento fiel e firme ao avocar corporalmente o suporte físico de um peso prometido, ou outro, de forma especial/pessoal mais rígido, o doloroso circuito de joelhos, onde o empedrado ladrilho alheio, se torna sofredor, em sequente graça invocada e recebida.
O processional cortejo, segue a via da promessa feito a Deus, porque a procura do rosto do Senhor, é imagem que por si mesma, manifesta e transmite no humano, a saudade da fé sem qualquer preço, mas por ser identificada como uma espécie de terapia transformada em cura espiritual.
O rosto do Senhor, é imagem que, no tempo de qualquer vivente peregrino devoto, continua a circular sem mancha de visualização humana, quer no trabalho, quer em tempos de separação da ilha mãe, onde a distância, tenta por vezes ganhar solidão, não olhando, nem considerando a idade, nem o ambiente social-cristão, mas sim, uma perseverante fé contínua em ordem a uma misericórdia evangelizadora de diversificada missão humana no fiel cumprimento de dever, em cada tempo, e momento.
O rosto do Senhor, é saudade que transforma o longe no perto, tornando a vida suave, para tranquilizar a esperança de vida, tornando os tempos mais encurtecidos na luta de momentos novos, onde reine a pacificação das famílias.
Na verdade, no princípio era a ilha, e a ilha esquecida e desconhecida em sua simplicidade geográfica e humana, soube harmonizar e conciliar com equilíbrio e humildade, as suas raízes, alimentando-a numa nova e viva esperança, tornando-a num mundo novo conhecido além-fronteiras, porque ela foi e, é também uma obra-prima da criação.
Nela, esmerou-se o criador, que lhe colocou no cerne o universo em miniatura aumentada em todas as direções como espelho e suporte, onde cada pedaço de ilha(s) refletida (s) caiba (m) sempre inteira (s), no seu espaço geográfico do arquipélago, porque o peregrino do Senhor, ao entoar hinos de louvor e ação de graças, vibra e afina em diapasão, as cordas da sua voz no canto, para levar por diante, uma narrativa possível de cada dia em cada tempo, criando em doação comum, a paz de Deus, partilhada em felicidade de vida incessante.
Boas Festas, na Alegria Pascal do Senhor Santo Cristo!…

José Gaipo

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