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Santuário: compromisso com a Fé e a Justiça

“Quanta Fé anima esta gente, que não esmorece perante novos mundos, novas culturas, novos hábitos, outros credos! Dá que pensar esta íntima e quase inata ligação à Imagem que se venera no Santuário da Esperança, em Ponta Delgada.”

Naquele tempo, toda a ilha rezava perante a imagem do Senhor.
Era uma devoção que brotava da alma do povo que se ajoelhava, na manhã do Sábado da Festa, com profundo temor e recolhimento na calçada do Largo de São Francisco.
Vem de há séculos essas preces e rituais. Ninguém os ensina, ninguém os controla, ninguém os demove. Brotam das mais genuínas convicções cristãs que a piedade popular foi consagrando, no meio de tantas incertezas e privações e só a Fé se encontra alento para superar as adversidades.
Passam os anos, mas o dinamismo da religiosidade do Povo micaelense preserva a devoção da imagem do Ecce Homo, oferecida pelo Papa Paulo III, sem alterar os ditames tridentinos.
O busto do Senhor Santo Cristo dos Milagres é um ícone sagrado, cujo culto não conhece paralelo entre nós. Por isso ultrapassou fronteiras. Viajou na bagagem dos emigrantes que partiram para os brasis e acompanhou os que debandaram para outras latitudes e lá ergueram templos e altares.
Quanta Fé anima esta gente, que não esmorece perante novos mundos, novas culturas, novos hábitos, outros credos! Dá que pensar esta íntima e quase inata ligação à Imagem que se venera no Santuário da Esperança, em Ponta Delgada.
Os crentes mais fervorosos fazem-Lhe frequentes visitas e atrás das grades do Coro baixo do antigo Mosteiro confiam-Lhe as suas dificuldades, suplicam-Lhe ajuda para os seus males, assumem compromissos de fidelidade e agradecem-Lhe as graças dispensadas. Ninguém se esconde da sua condição de crente e de carenciado da Misericórdia e proteção divinas. E quem não assume essa condição, não fica indiferente às manifestações e convicções dos devotos.
As celebrações religiosas que ocorrem este fim-de-semana são momentos significativos que importa relevar e que devem merecer por parte dos responsáveis diocesanos uma cuidada e constante reflexão baseada na Teologia Pastoral dos Santuários.
Em 1999, antecipando a celebração do Grande Jubileu do ano 2000, o CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A PASTORAL DOS MIGRANTES E ITINERANTES, pronunciou-se sobre O SANTUÁRIO – Memória, Presença e Profecia do Deus vivo, tendo elaborado um extenso documento com fundamentação bíblica, definindo em três pontos a Missão que os Santuários prestam à vida da Igreja.
”O santuário oferece-se como memória da nossa origem junto do Senhor do céu e da terra; em relação ao presente da comunidade dos remidos, reunida no tempo que está entre o primeiro e o último Advento do Senhor, delineia-se como sinal da divina Presença, lugar da aliança, onde sempre de novo se exprime e se regenera a comunidade da aliança; em relação à futura realização da promessa de Deus, àquele “ainda não” que é o objecto da maior esperança, o santuário apresenta-se como profecia do amanhã de Deus no hoje do mundo.”
Esta tripla dimensão fundamenta-se na convicção de que: “o Santuário recorda que a Igreja nasce da iniciativa de Deus: iniciativa que a piedade dos fiéis e a aprovação pública da Igreja reconhecem no evento de fundação, que está na origem de cada santuário. Portanto, em tudo aquilo que se refere ao santuário e em tudo o que nele se exprime, é preciso discernir a presença do mistério, obra de Deus no tempo, manifestação da Sua presença eficaz, escondida sob os sinais da história.”
Em segundo lugar, o Santuário “Aproxima-nos do mistério com uma atitude de admiração e de adoração. (…) Entramos no santuário, antes de tudo, para agradecer, conscientes de que fomos amados por Deus antes que nós mesmos fôssemos capazes de O amar; para exprimir o nosso louvor ao Senhor pelas maravilhas por Ele operadas (cf. Sl 136); para Lhe pedir perdão dos pecados cometidos; para implorar o dom da fidelidade na nossa vida de crentes e a ajuda necessária ao nosso peregrinar no tempo. (…) E prossegue o documento: “Os santuários constituem nesse sentido uma excepcional escola de oração, onde especialmente a atitude perseverante e confiante dos humildes testemunha a fé na promessa de Jesus: “Pedi e dar-se-vos-á.” (Mt 7, 7)”
Por último, “para nada serviria viver o “tempo do santuário”, se este não nos impelisse ao “tempo da estrada”, ao “tempo da missão” e ao “tempo do serviço”, lá onde Deus se manifesta como amor para com as criaturas mais débeis e mais pobres.” E acrescenta: “o templo, sem a fé e sem o empenho pela justiça, reduz-se a um “covil de ladrões” (cf. Jr 7, 11; Mt 21, 13).(…) A liturgia sem uma vida baseada na justiça transforma-se numa farsa (cf. Is 1, 10-20; Am 5, 21-25; Os 6, 6”.
Mais direta ainda é esta recomendação dirigida aos fiéis do CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A PASTORAL DOS MIGRANTES E ITINERANTES: “A visita ao santuário mostrará então os seus frutos, de modo particular no empenho caritativo, na acção pela promoção da dignidade humana, da justiça e da paz, valores para os quais os crentes se sentirão chamados de modo novo.”
Durante largo tempo, a Fé e as celebrações litúrgicas traduziram-se em práticas meramente rituais e individualistas, sem “empenho caritativo na ação pela promoção da dignidade humana, da justiça e da paz.” Esta vertente cabe também aos Santuários dinamizar, através da proclamação da Palavra, da Oração e da Ação.
Que o Senhor Santo Cristo, através do Espírito Santo infunda na humanidade o amor e o empenho para cuidarmos dos mais débeis e dos mais pobres.

José Gabriel Ávila*

*Jornalista c.p.239 A
http://escritemdia.blogspot.com

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