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Professor: missão educar i

A escola, habitualmente, abria a 7 de outubro. Era o início de uma nova vida.
Aos sete anos de idade meninos e meninas vestiam a roupa de louvar a Deus e, calçados com sapatos da América, ou descalços, transportavam na sacola a ardósia, o livro de leitura e a tabuada. Os mestres de escola não exigiam mais. Apenas vontade de “aprendera ser gente”.
A minha primeira mestra foi a D. Maria do Nascimento, senhora de semblante autoritário e voz grave, gasta a impor a disciplina e a “abrir cabeças”, fosse com a ajuda da cana da India, fosse com a régua de cedro que todos os alunos temiam. Que era uma boa professora, ninguém o contestava e quem passava pelas suas mãos ficava preparada para o exame de admissão ao Liceu e poder singrar na vida.
Tive ainda outros professores à antiga – gente que ultrapassava o horário de trabalho, com a única preocupação de levar os alunos a exame bem preparados. Nesse tempo, fazia-se exame na terceira e quarta classes e desse modo o sistema de ensino testava os alunos a prosseguirem estudos e, simultaneamente, avaliava o desempenho dos professores.
Pode bem dizer-se que a Igreja e a Escola eram instituições parceiras e os párocos e professores personalidades por todos respeitadas. Vivia-se o tempo da cristandade e do regime salazarista e, apesar de os dois regimes serem contraditórios, conviviam, aceitando as regras impostas “por Deus e pela Pátria”.
Para as docentes do sexo feminino, a lei impedia que o casamento fosse com quem não tinha rendimentos próprios para evitar que o consorte não vivesse na dependência da senhora professora, cujo vencimento, apesar de baixo, se destacava dos demais servidores do Estado. Essa limitação obrigou a que muitas senhoras optassem por ficar solteiras. Isso permitia-lhes uma dedicação quase exclusiva para o cumprimento das tarefas docentes.
A dedicação à causa do ensino tem sido reconhecida publicamente, seja por alunos, pais e educadores, seja pelos municípios, com homenagens públicas e insígnias de mérito.
Valha a verdade que, à falta de líderes locais, de quadros e de pessoas com maior grau de instrução e cultura, eram os professores, padres e médico concelhio que desempenhavam o papel de conselheiros e orientadores do futuro dos seus alunos. Não fora o incentivo e o alento junto dos pais relevando as qualidades dos filhos e estes não teriam seguido outros graus de ensino, desenvolvendo capacidades que os mestres de escola haviam descoberto.
Importa também sublinhar que, em início de carreira, muitos jovens professores, nomeadamente professoras, tiveram de abandonar as famílias e as suas localidades de origem e partir para terras estranhas e até para o continente onde “comeram o pão que o diabo amassou”. Essa fase de dificuldades de colocação, de carência de instalações e de material escolar quase todos os docentes do ensino “Primário” passaram até se efectivarem onde pretendiam.
Vivi essas situações por motivos familiares que obrigaram a separações prolongadas em localidades onde nem acessos havia ainda. Pode parecer pitoresco, mas conheci uma professora que no início de carreira, ia diariamente para a escola a cavalo, o único meio de transporte que havia.
Tempos diferentes, é verdade, mas que importa não esquecer.
A Escola e o Ensino, aos mais diversos níveis, conheceram enormes desenvolvimentos, fruto da democratização cultural e da melhoria das instalações.
Não foi há muito que ir para a Universidade era um patamar de difícil acesso e só possível a famílias com recursos. Presentemente quase todos os municípios disponibilizam apoios financeiros para facilitar o pagamento das despesas académicas. Dessa forma os jovens adquirem competências que beneficiarão as localidades mais pequenas e remotas e contribuirão para a fixação de jovens quadros.
A Escola não é apenas um espaço físico, nem é sobretudo um local para ensinar a ler, escrever e contar. É antes um espaço de potenciação da criatividade, da entreajuda, da descoberta do outro; uma instituição para abrir horizontes ao mundo e ao conhecimento, tendo por base o diálogo, o convívio e a afirmação das diferenças. Isto são os pressupostos de uma Educação humana, numa Escola sadia e responsável pelas jovens gerações.
Há uma semana celebrou-se o Dia Mundial do Professor – iniciativa da UNESCO tomada em 1994, para que a sociedade reconheça e valorize tão importante missão e dê condições aos profissionais de ensino.
Segundo um estudo da OCDE, 94% dos docentes manifesta-se satisfeita com a função que desempenha, mas um em cada quatro professores jovens pondera abandonar a profissão nos próximos cinco anos.
Se a estes dados associarmos que mais de metade dos professores em Portugal tem mais de 50 anos, e que alguns jovens licenciados na Universidade dos Açores viram-se impedidos de efectuar o mestrado em Ciências de Educação, por falta de vaga entende-se por que motivo não existem professores suficientes, para agravar a situação.
No passado, reconhecia-se a entrega, dedicação e competência dos docentes. Os próprios alunos, anos mais tarde e já adultos, em mensagens dirigidas relevavam e agradeciam esses méritos.
Seria interessante reunir esses depoimentos para memória futura e homenagem aos docentes.

i Texto de homenagem a minha mulher, Maria Odete Ávila que, como todos os docentes, deu o melhor de si ao ensino e à educação.

José Gabriel Ávila *

*Jornalista c.p.239 A
http://escritemdia.blogspot.com

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