Em setembro de 1982, assumi as funções de Director Regional da Educação Física e Desporto (DREFD), que estava integrada na Secretaria Regional da Educação e Cultura, então liderada pelo Dr. Reis Leite. De imediato, fizemoso levantamento das instalações desportivas escolares e autárquicas de todas as ilhas do nosso arquipélago. À medida que me fui identificando com a situação verifiquei que o parque desportivo açoriano era práticamente o mesmo do meu tempo de aluno no Liceu Nacional de Angra do Heroísmo, jogador de futebol do Sport Club Angrense e de basquetebol dos Escuteiros da Base.No decorrer do levantamento também constatei que os pavilhões desportivos escolares,então construídos,apresentavam erros de palmatória. A dimensão dos espaços interiores não tinham as medidas regulamentares para a prática de diferentes desportos. Também não existiam bancadas para os espectadores e balneários adequados a pavillhões polidesportivos, que pudessem ser utilizados para treinos e competições das equipas federadas nos períodos extra- curriculares. Para além disso, os campos exteriores, quando existiam, tinham pisos de alcatrão nada aconselháveis à prática desportiva escolar.
Transmitida esta informação ao Dr. Reis Leite fomos encaminhados para a Secretaria Regional das Obras Públicas tendo em vista a formação de uma equipa de trabalho que integrasse a DREFD, que passaria a ser responsável pela elaboração do programa das instalações desportivas escolares. Assim, assumimos essa responsabilidade com a feitura do programa das instalações desportivas da Escola Secundária das Laranjeiras que foi utilizado posteriormente na construção das Escolas Secundárias de Angra do Heroísmo, Praia da Vitória, Horta, Madalena e Lajes do Pico, Velas e Calheta de S. Jorge, S. Maria e Santa Cruz das Flores.
Simultâneamente, organizámos reuniões (Cimeiras do Desporto) com osdirigentes da estrutura federada existente:3 associações de futebol, 3 associações de desportos e 1 associação de patinagem. Face ao elevado número de clubes interessados em participar nas futuras competições desportivas, sugerimos a substituição das associações de desportos, sobrecarregadas com inúmeras actividades, por associações de modalidade nas ilhas em que os clubes locais concordassem. Nesta conjuntura também propusemos que as instalações desportivas escolares fossem utilizadas gratuitamente pelos clubes federados, de acordo com as solicitações das associações de modalidade e a concordância das respectivas escolas.
No período em que exerci o cargo (1982-1989), efectuei inúmeros contactos com os presidentes das diversas autarquias, no sentido de os sensibilizar para a melhoria das antigas instalações desportivas da autarquia e da hipótese de construção de outras inexistentes. Os que melhor corresponderam foram o Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Dr. Joaquim Ponte que, confrontado com a queda da cobertura do ringue de patinagem devido a um ciclone, rápidamente encontrou uma solução para colmatar aquela situação através da manutenção do ringue em actividade (sem a cobertura) e avançou de imediato para a construção de um pavilhão multidesportivo, dotado das condições fundamentais para o treino e competições locais, regionais, nacionais e internacionais. Um enorme investimento da autarquia com provas dadas ao longo das últimas 4 décadas. De igual modo, o Presidente da Câmara Municipal da Madalena do Pico, Manuel Furtado que, para além de ter construído um campo de futebol e pista de atletismo na freguesia de S. Mateus, onde se realizaram diversas provas regionais, também construíu uma pista de corridas em patins na vila da Madalena. Esta pista, então única no nosso país, foi palco de competições regionais, nacionais e internacionais (campeonatos europeus com a participação de inúmeros países).
A grande conclusão que eu retiro, em relação ao apoio que as autarquias têm dado às crianças e jovens desportistas nas últimas décadas, foi muito pobre. As escolas do 1º ciclo não têm material adequado ao jogos pré-desportivos e ao desenvolvimento motor.As autarquias lavaram as mãos do processo.Entenderam que cabia únicamente ao sistema educativo essa função e que as instalações desportivas escolares eram suficientes para dar resposta ao treino e quadros competitivos das equipas de formação dos clubes. Os transportes escolares (School Bus) como dizem os nossos emigrantes, de casa para as escolas e vice-versa, é nulo. Os transportes dos praticantes de casa para os treinos e regresso a casa tem sido feito pelos pais e pelos clubes. As instalações desportivas autárquicas não acompanharam a evolução do número de treinos e jogos necessários ao aperfeiçoamento desportivo dos jovens praticantes. Depois, ficam admirados que a rapaziada nova abandone precocemente a prática desportiva e se entretenha com coisas menos saudáveis. Qual a verba prevista para se investir no desporto, sem contar com aquela que dão aos clubes de futebol para contratar jogadores de fora da região. Quais os requisitos para desempenharas funções devereador do desporto?
Eduardo Monteiro