A escolha de Ponta Delgada para Capital Portuguesa da Cultura representa uma oportunidade ímpar para valorizar a identidade açoriana, promover diálogo intercultural e repensar o papel da cultura na educação. No entanto, a polémica que envolve a gestão do projeto, abrangendo nomes que outrora estiveram, ou ainda estão ligados à cultura, está ao rubro nas redes sociais e nas colunas dos jornais, por vezes de forma descontextualizada.
A cultura não é apenas espetáculo ou património: é também ferramenta de aprendizagem, de cidadania e de inclusão. Neste sentido, o projeto Ponta Delgada 2026 deve ser pensado como laboratório educativo, onde escolas, associações e comunidades locais podem participar ativamente na construção de uma programação didática e representativa. Mas, por outra via, também abre espaço para a reflexão.
Mais do que criticar, importa educar. Se a cultura é de todos, então todos devem poder contribuir para ela — não apenas como público, mas como protagonistas.
Na verdade, importa integrar o maior número de interlocutores. Há sempre quem se sinta excluído. Alguns dos que hoje se sentem à margem da discussão, foram os mesmos que no passado recente excluíram uma livraria de expansão nacional, mas com expressão em Ponta Delgada, dos debates em torno da cultura, justificando que a dita Livraria, onde na época eu exercia funções de gestão comercial, pagava impostos em Lisboa. Como se isso alguma vez fosse argumento, e não uma, nem duas, nem três vezes, mas sempre que ocorreram esses debates, a entidade que eu representava, promotora de autores locais e nacionais para mais de dez anos (foram cerca de 200 eventos), apadrinhada pelo imortal Daniel de Sá, nunca foi convidada, em benefício do status de outra livraria e livreiros.
Ponta Delgada 2026 deve ser um marco, sim — mas só se for vivido como processo coletivo, pedagógico, transformador e colaborativo. Cabe aos educadores, agentes culturais e cidadãos exigir transparência, inclusão e diálogo. E cabe às instituições responder com abertura, escuta e compromisso.
Luís Soares Almeida