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José Enes:Pensamento, Ser e Conhecer, em Verdade e Universidade: Educação, Linguagem, Pessoa-Humanidade e Relações Internacionais. (II)

(Continuação)
E em José Enes vemos como a Filosofia é fundamental para a Ciência Política e para as Relações Internacionais. Pude testemunhar, também na Primeira Pessoa, e os Escritos assim o demonstram. Mas não basta ficar pela Ciência Política e pelas Relações Internacionais, há que ir à Filosofia e nela à Ontologia, a Ontoética, como está expresso na sua Magna Obra e a partir daí irrigar, compreender e ter uma inteligibilidade da Ciência Política e das Relações Internacionais. Urge o cuidado, desde logo, também, o cuidado com as palavras, nas quais recriamos e interpretamos o mundo. O Conhecimento do Mundo e a sua (re)construção tem de dar-se na Verdade, na Busca da Paz, duradoira, em Cristo, neste Mundo com tantas Guerras e conflitos, sem fim à vista. Sem o vínculo à Verdade o conhecimento degenera e de nada serve, até pode ser nocivo e prejudicial. O Conhecimento tem sempre uma raiz orgânica e/ou um sentido de luz, que irradia dos objetos e dos sujeitos. O filósofo José Enes, põe logo o sentido forte do seu caminhar: “a língua regressa ao seu vigor genésico, ou seja, ao seu génio próprio. Estranhas, então, ao comércio da conversação pública, aquelas vozes vêm à matriz donde nasceram, e aí se abrem à confidência da expressão só possível na intimidade.” (Enes, 1969, p.5). Deixar a língua falar a verdade que vem da fala da sua intimidade, a sede da sua verdade, que o ser sujeito escuta e, ao ouvir, dizer, em verdade. Quando assim é, o dizer não trai a fala. Quando, pelo contrário, a verdade é distorcida, mutilada, ou sufocada, o ser irá rebentar, em rebentos da natureza, porque o outro rebentar é o explodir da mentira que é invenção maligna e que tudo corrompe. Nunca se falou tanto em corrupção, mas é difícil vê-la. Aceder a ela é difícil, exige a longa espera da parábola do trigo e do joio. A palavra espera, e esperar, é da família da esperança. E só acredita, em verdade e na Verdade, quem é verdadeiro, quem sofre na e pela Verdade. Conforta-me Saber, acima de tudo, vivenciar, também, e muito, com José Enes que a Verdade há-de ser Sempre a Mentira, na sua Procura, na sua Transparência essencial de ser. O filósofo põe em relação íntima conhecer e ser.
Nesta época de tanta comunicação, pelo menos aparente, – dos e nos órgãos de comunicação social e nas redes sociais – parece que há, já, paradoxalmente, ou talvez não, uma carência e uma indigência de comunicação, de comunicar, isto é, um vazio, um vácuo, de não-ser. O comunicar e a comunicação genuínas exigem e levam à compreensão, e isto não está a acontecer na vida entre as pessoas e nas instituições. A formação de educadores e de professores exige cada vez mais também esse vínculo e fortalecimento ontológico, gnoseológico e fenomenológico da comunicação, como movimento de compreensão, no sentido do Ser e no ser do Sentido. Edgar Morin escreve sobre “Ensinar a Compreensão”, isto vai para além do explicar e do compreender, inscreve-se na força do ser, de sermos, numa dinâmica expectante. Essa expectativa não é – não deve ser – de fora para dentro, mas de dentro para fora, em que cada um se coloca na expectativa do ser, em atenção, no que a fala vai dizer na fala do professor autêntico e genuíno, do Professor Culto, que é mais do que a expressão vulgarizada de “Professor Reflexivo”. Só assim é possível resgatar e acreditar na Educação. A formação está desacreditada. Não basta certificar, é preciso, acima de tudo, qualificar. Certificar é um ato administrativo que deve ser precedido da prática e vivência do ser. Por isto nos documentos, oficiais, verificados e exarados em verdade, a anteceder a assinatura, se escreve: por ser verdade, e me ter sido pedido, assino e autêntico. Assistimos a um “falseamento do Direito”, como salienta Bento XVI, ou seja, onde se espalha a mediocridade todo o falseamento pode acontecer, mas nunca tira a evidência da Verdade. E só instituições com a Prática da Verdade são Credíveis. E o Tempo faz prova. Por isso a minha Convivência com o Professor Doutor José Enes e com o Professor Doutor Gustavo de Fraga permitiram, no seguimento de toda a minha vida, ver de perto o que significa a Verdade como realidade vivida e testada, na Universidade, quer em termos filosóficos quer em termos administrativos, ou outros. Ensinaram, de modo direto e indireto. Nos Cargos que Ocuparam foram sempre idóneos e sérios, nunca instrumentalizaram ninguém, muito menos para a prática da maldade, que reprovavam, severamente, quer em termos pessoais quer em termos católicos, filosóficos e institucionais, com veemente respeito pela Verdade, que era – e deve ser – o trabalho sério e honesto de um Verdadeiro Filósofo. E eu, desde o meu Berço, assim sou e permaneço, em Essência e Dinamismo, nos Princípios e Valores Cristãos, Católicos e verdadeiramente humanistas. Portanto, evocar o Nome José Enes é evocar um Homem de Verdade, evocar o Nome Gustavo de Fraga é evocar um Homem de Verdade. A vida é um caminhar, em autenticidade, de autenticação na autenticidade original do Ser e de Ser, a Ser. Hoje coloca-se uma peculiar premência na questão da verdade, em todas as dimensões da vida, pessoal, cívica, profissional e institucional, devido à decadência das instituições por não terem Figuras com Caráter e Moral, à prova de bala.
Desde o início, o Instituto Universitário já é concebido em termos concetuais e ontológicos como Universidade. No dia 18 de outubro de 1976, o Professor José Enes escreve:
“Saúdo estes homens com coração reconhecidamente emocionado por me haverem restituído à sociedade em cujo seio nasci, cresci e me fiz homem e por cujo aperfeiçoamento sonhei, trabalhei, lutei e sofri. Cá estamos de novo lutando pela realização do sonho da nossa juventude e da nossa idade adulta, prontos a servir e a cooperar com todos os que trabalham na mesma obra comum, ou seja, na construção de uma sociedade açoriana, (…)” (Enes, 2016, p. 37)
“fazendo do nosso IUA uma autêntica universidade” (Enes, 2016, p.38)
“A Universidade dos Açores somos nós: os professores, os alunos, os investigadores. Os diretores de serviços e os funcionários. Não há razões para dúvidas, para confusões, para mal-entendidos, para boatos, para manipulações demagógicas, (…) (Enes, 2016, p. 40).
As afirmações de José Enes falam por si mesmas
“A Universidade dos Açores é uma realidade viva e atuante que desde a sua primeira hora começou a afetar a vida de toda a sociedade que habita nestas ilhas.
Todavia, para que ela seja o que deve ser, isto é, o órgão de crescimento cultural, de progresso científico e inovação tecnológica ao serviço da promoção pessoal, social e económica, da salvaguarda do homem e do seu habitat, da melhoria das condições de vida e da realização equilibrada das aspirações da pessoa humana, a nossa Universidade deverá reproduzir em si mesma as estruturas e o funcionamento de um organismo vivo. Ela não poderá ser um órgão vital da nossa comunidade, se ela poria não for comunitária” (pp. Enes, 2016, 40-50). A Universidade deve ser e ter, na sua essência, uma “vida comunitária”
“(…)cooperação científica e pedagógica”(…) “hábitos de trabalho e convivência” (…) “pelo respeito à Verdade” (…) pelo esforço diligente e consciencioso, pela admiração recíproca, pela defesa da legalidade dos atos e dos direitos da pessoa humana, e pela procura incansável das soluções corretas e inovadoras.” (Enes, 2016, p. 41”) [negritos no original].
A Universidade tem de estar ao Serviço da Verdade, para proteção humano-divina da Pessoa Humana. José Enes fala, com fundamento do Ser, na “validade e vigência jurídica da própria existência humana.” (Enes, 2016, p. 97).
Há que regressar à Dignidade como Princípio principial irredutível. Apesar disso é preciso que o Direito esteja ao Serviço da Justiça e da Humanidade da pessoa concreta. Razão Histórica e Pessoal – na pessoa de todos, em singularidade e universalidade, S. João Paulo II defendeu, de modo clarividente, e intransigente, os Direitos das Pessoas e dos Povos, na sua vida e na sua Obra, designadamente em Memória e Identidade (2005). Questões de que temos de fazer Memória. Há muito que afirmo o perigo de se eclipsar a “Memória Institucional”. Há muito e muito que o afirmo, também em relação à Universidade dos Açores – e a muitas outras instituições -, e a Obra de José Enes valida, à saciedade, tantas vezes fala e escreve sobre historicidade, como evidenciação de Memória, e “respeito pela Verdade”.
No Discurso de José Enes está bem patente a preocupação com a “humanidade”:
“Se, por um lado, as especialidades científicas e tecnológicas, mediante a observância dos seus métodos e a prossecução dos seus objetivos, constituem um ilimitado poder de progresso da humanidade; por outro, se aqueles critérios e objetivos não forem enquadrados, moderados e subordinados pela dimensão jurídica e se esta não estiver ao serviço da salvaguarda da inviolabilidade da vida humana, aquele poder transforma-se no maior perigo da destruição que até agora ameaçou a humanidade.” (Enes, 2016, p. 97).
(Continua)
Observação: As referências bibliográficas serão publicadas no Texto III.

Emanuel Oliveira Medeiros*
Professor Universitário

*Doutorado e Agregado em Educação, Especialidade de Filosofia da Educação
Centro de Estudos Humanísticos da Universidade dos Açores
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

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