A psicologia comunitária parte do princípio de que a saúde mental é inseparável das condições sociais. Mais do que intervir em pessoas individualmente, atua sobre os territórios, os contextos e as relações onde os desafios surgem. Em Portugal, este campo da psicologia assume hoje um papel crucial na promoção da saúde mental e na prevenção de fenómenos de elevado impacto social como o suicídio, a violência, dependências, abandono escolar, isolamento, exclusão e criminalidade.
Profissionais de psicologia social e comunitária trabalham em proximidade com escolas, autarquias, instituições sociais, associações locais e serviços públicos. Identificam precocemente sinais de risco, impulsionam redes de apoio informal, promovem a literacia emocional e desenvolvem programas de prevenção que evitam e resolvem problemas com consequências humanas e económicas graves.
Paradoxalmente, este é um dos setores mais desvalorizados no nosso país. Com remunerações frequentemente abaixo do justo, vínculos laborais frágeis e reconhecimento institucional insuficiente, tal desvalorização põe em causa a continuidade das equipas e enfraquece projetos que exigem confiança, tempo e proximidade, especialmente junto de comunidades vulneráveis. Reforçar estas e estes profissionais, em termos salariais, contratuais e sociais, é urgente e é garantir políticas públicas mais eficazes, sustentáveis e humanas.
Quebrar ciclos de pobreza e exclusão intergeracional exige continuidade, presença e uma perspetiva de longo prazo. É exaustivo, é frustrante, é um caminho lento, mas o único que constrói sociedades verdadeiramente justas, equilibradas e coesas. Investir na psicologia no contexto social é investir em prevenção em vez de remediação, em saúde em vez de urgência, em comunidade em vez de rutura, em consciência em vez de ignorância.
É URGENTE dignificar a área social!
Joana Amen *
- Psicóloga Clínica e Comunitária