(Continuação e conclusão)
Retomemos o Pensamento de José Enes:
“Na Nova conjuntura em que vivemos, da problemática de desenvolvimento e de identidade das comunidades no quadro europeu e global, a Universidade dos Açores tem de encontrar renovado incremento. Não apenas de resposta às questões conjunturais, mas deve ter a capacidade, que lhe advém da sua função histórica de cientificadora da sociedade, de antecipar os problemas e de lhes dar resposta de forma eficaz salvaguardando a identidade das comunidades.” (Enes, 2026, p. 290).
Segundo o Professor José Enes, e os Universitários, de Categoria, com Auctoritas Moral, a Universidade é uma Instituição que se caracteriza pela “Autonomia Científica” e “Autonomia Pedagógica”. O Professor José Enes, também em tudo isso, é Categórico, ao afirmar a Defesa e “Respeito pela Verdade”, com Fundamento Humano, Filosófico, Ontológico e Teológico. A Universidade, para o ser, seja onde for, é – tem de ser – uma Instituição de Verdade e Liberdade de Pensamento e de Expressão do Pensamento, de Formação, edificante, com “respeito pela Verdade” (José Enes) que a Linguagem revela e se manifesta no melhor do Ensino, da Investigação e da Aprendizagem, numa Verdadeira Pedagogia Universitária, que deve estar bem presente nas Metodologias de Ensino e na Didática Universitária. A Metodologia leva-nos ao Logos, à Razão, ao Sentido, à (re)Significação. Tenhamos bem presente a Metodologia, à luz do Pensamento, exarado, de José Enes, desde logo em À Porta do Ser:
“Método que, na sua significação metafórica original, diz caminho para no sentido ativo de caminhar para, ir no encalço de, derivando para as atividades do conhecimento, conservou toda a vida encerrada naquela metáfora. Método não é um somatório de regras que orientam a investigação, mas o próprio ir detetando os vestígios do que se procura. Consequentemente, a direção e o jeito de encaminhar-se e de andar para uma determinada meta depende essencialmente da natureza do que se busca.” (Enes, 1969, p. 18).
Sobre Universidade e Relações Internacionais e Estratégia, citamos as seguintes afirmações de José Enes:
“Mais do que em qualquer outra conjuntura, a Universidade, assumindo a sua autonomia científica e pedagógica, deve reclamar o direito a assumir a sua especificidade de Universidade insular e atlântica. Se os Açores constituem a ocidentalidade geográfica de Portugal, constante e decisivo fator da sua identificação e da sua independência de Estado Soberano, a Universidade insular tem de afirmar nesse quadro estratégico de país da Europa mais ocidental e mais atlântico. “(Enes, 2016, p. 291)
José Enes sempre valorou a Autonomia Científica da Universidade que em seu entendimento é a Verdadeira Autonomia Universitária, aí reside o seu eidos, a sua essência, o seu ser, o Primado da Pessoa. Nunca usou, e muito menos abusou, da autonomia disciplinar que nunca está ao Serviço da Ontologia, do Ser próprio da Universidade, – antes, em Respeito, pela Pessoa, de cada um, – que encontra fundamento na própria Constituição que não fala em autonomia disciplinar, que pode ser usada como instrumento de maldade, seja onde for. No artº 76, ponto 2, da Constituição, podemos ler: “As universidades gozam, nos termos da lei de autonomia estatutária, científica, pedagógica, administrativa e financeira, sem prejuízo de adequada avaliação da qualidade de ensino”. O Professor José Enes e o Professor Gustavo de Fraga tinham sempre uma atitude pedagógica de promover todos, em especial os melhores, os melhores. Sublinhe-se que em toda a sua Proeminente Carreira Universitária, o Professor Doutor Gustavo de Fraga só teve dois Monitores/Assistentes, ainda durante o Curso, nunca lesando, pelo contrário, em tudo, enaltecendo e incentivando, com objetividade, o Valor dos Agentes, e a Excelência dos mesmos para a Universidade dos Açores. Fui, Para Sempre, um desses casos, que muito me Honra, Para Sempre, vindo desses dois Vultos Geniais, os Grande dois Gigantes. da Universidade dos Açores, de todos os Tempos, e todas as pessoas que têm seguido o caminho, construtivo do Bem. Foram líderes do Bem e para o Bem, sempre atuantes.
Afirma José Enes: “A Autonomia universitária tem o seu fundamento na autonomia científica, essa é que é a autonomia verdadeiramente científica” (José Enes, Entrevista ao Jornal Açores/Jornal U, p. IX, 9 de março de 1990).
Neste contexto, pela sua pertinência, retomamos a citação de partes da Entrevista, já referida noutro contexto, mas que tem sempre flagrante atualidade, no domínio das Relações Internacionais e Estratégia, com impacto na vida das Pessoas, dos Países, dos Estados, dos Povos. Daí a citação. A entrevista foi concedida pelo Professor Doutor José Enes, na qualidade de Diretor do “Centro de Relações Internacionais e Estratégia”, “a propósito de um Colóquio realizado, na Universidade dos Açores, em maio de 1989, sobre o tema: “As Relações Transatlânticas no Limiar do Século XXI”. As Relações Internacionais e Estratégia, para além dos Povos e Nações, deve ter em conta as pessoas concretas, a Pessoa-Humanidade, que grita no Corpo e na Alma de cada criança e idosos, e de qualquer idade, que estão sujeitos à Guerra, como na Invasão da Ucrânia pela Rússia, e olhamos para uma União Europeia impotente. Como é possível? As Relações Internacionais e Estratégia não se podem limitar a afirmações de supostos factos, tem de interrogar razões, fazer perguntar e questionar as consciências dos líderes e da chamada “Comunidade Internacional”. A Entrevista que transcrevemos permite compreender aspetos do Pensamento Ontológico, Político e Estratégico do Professor Doutor José Enes, o seu Rasgo e Visão.
“J.U. Uma pergunta, que tem a ver com um forte elemento internacional, e que tenho a curiosidade em fazê-la.
Acha que a PERESTROIKA do Sr. Mikhail Gorbachov é um modo de ocidentalizar a Europa de Leste?
J.E. (José Enes) Bom. Este é um dos temas que o CERIE terá que estudar e foi uma das componentes já deste Colóquio Internacional das Relações Transatlânticas. É um fator de atualidade e que não poderá passar despercebido.
A sua pergunta foca uma das possíveis interpretações do discurso Gorbatochoviano.
Quanto a mim, embora não tenha uma compreensão suficientemente elaborada da “Perestroika”, vejo que a integração da Perestroika nas dominantes da história russa, não aponta para essa interpretação. É que, quanto a mim, uma estratégia do Estado Russo para um confronto com o Ocidente. É, de facto, uma estratégia conjuntural inteligente e que se tem mostrado bastante eficaz mas não no sentido de uma ocidentalização. É no sentido de uma competição com o Ocidente. Não é uma adoção de valores e dominantes culturais do Ocidente que estão na intenção formulada da Perestroika.
Pelo contrário, é realmente uma estratégia de expansão e dinâmica civilizacional, na perspetiva histórica e política da União Soviética. É um Estado das repúblicas soviéticas socialistas.
A Perestroika não renuncia aos valores fundamentais da mundividência marxista da história. Muito menos renuncia ao projeto do Estado Russo elaborado por todo este processo derivado da revolução de 1917”. (Enes, Suplemento “Jornal U”, Jornal Açores, 9 de Junho de 1989)
No livro “A Europa de Leste e a Atlanticidade Portuguesa. As mudanças na Europa de Leste e na URSS e a Conjuntura Euro-Atlântica de Portugal” (Seminário Internacional. 26 e 27 de 1990” (CERIE, Ponta Delgada – Açores, 1990). Nesse livro o Professor José Enes tem publicado um texto intitulado: “Uma Perspetiva Açoriana da Conjuntura Euro-Atlântica de Portugal”. Tencionamos retomar as questões, na interligação entre Ontologia e Relações Internacionais e Estratégia, designadamente a partir do livro de José Enes, Portugal Atlântico, em que as questões da “linguagem” e da “fala”, em sentido pleno, para além, dos meros vocábulos, na Expectativa do Sentido.
(…)
Que Humanidade queremos ser, aqui, nos Açores e no Mundo, no seu Todo, em Verdade, em Transparência e Abertura, em Transcendência, com e perante Deus?
Referências Bibliográficas:
Enes, José (2016). Universidade dos Açores. Ideia Fundadora e Implementação. Ponta Delgada: Universidade dos Açores.
Enes, José (2015). Portugal Atlântico. Lajes do Pico. Companhia das Ilhas.
Enes, José (1990) “Estudo de Ordenação Estatutária para a U.A”/Entrevista a Medeiros, Emanuel Oliveira (1990). .”, In “Jornal U”, Suplemento do Jornal “Açores”. Ponta Delgada: Impraçor, SARL. pp: IX, XIII. (9 de março.
Enes, José (1969). À Porta do Ser. Lisboa: Difusão Dilsar.
Ratzinger, Joseph (2011). Os Fundamentos Espirituais da Europa. Lisboa: Autores e Letras e Coisas, Lda.
Vários (1990). A Europa de Leste e a Atlanticidade Portuguesas. As mudanças na Europa de Leste e na URSS e a Conjuntura Euro-Atlântida de Portugal. Seminário Internacional. 26 e 27 de julho de 1990. Ponta Delgada. Universidade dos Açores. CERIE.
*Doutorado e Agregado em Educação, Especialidade de Filosofia da Educação
Centro de Estudos Humanísticos da Universidade dos Açores
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
Emanuel Oliveira Medeiros*
Professor Universitário