Para a CGTP/IN-Açores, a escassez de trabalhadores qualificados e não qualificados é um problema estrutural, relacionado directamente com um modelo económico assente nos baixos salários e na desvalorização do trabalho e dos trabalhadores.
Aquela estrutura sindical considera que situação é “o resultado de opções políticas e um reflexo directo de um mercado de trabalho que, para muitos, não oferece a dignidade e a estabilidade necessárias para se estabelecer e prosperar na Região.
Conforme posição expressa em comunicado, a CGPT/IN Açores advoga que a falta de mão-de-obra nos Açores está intimamente ligada às más condições laborais oferecidas e à ausência de políticas eficazes de valorização salarial e de estabilidade contratual: “Os dados demonstram que os salários nos Açores são dos mais baixos do país, num arquipélago com um custo de vida reconhecidamente superior ao do Continente. Estes salários não cobrem as necessidades básicas, obrigando muitos trabalhadores – por exemplo, no turismo e na hotelaria – a longas jornadas, para fazerem face às despesas mensais que não param de crescer”, ao que acrescenta que “a exigência de longas e instáveis jornadas de trabalho, muitas vezes, com recurso a trabalho por turnos e horas extraordinárias, para aumentar o rendimento, prejudica o descanso e a vida pessoal e familiar dos trabalhadores, afectando a sua saúde e a sua qualidade de vida” e que “o recurso a contratos a termo, a programas de estágios usados como mão-de-obra barata, e a outras formas de trabalho precário, especialmente em sectores de actividade intensa, desincentiva a fixação de profissionais e de jovens na Região, que procuram no exterior (nacional ou internacional) melhores condições de trabalho e, consequentemente, de vida.”
Assim, defende que a resposta à falta de mão-de-obra passa por valorizar o trabalho, promover salários dignos, combater a precariedade e adaptar as políticas laborais nacionais à realidade insular. “Só assim será possível reter talento, atrair novos profissionais e garantir um futuro económico e social equilibrado para a Região”. Quanto às propostas de alteração à legislação laboral do Governo da República, o sindicato preconiza que “se avançarem, terão um impacto desproporcionalmente negativo na já frágil dinâmica demográfica dos Açores”.
No mesmo comunicado, a CGTP/IN Açores salienta que “ao precarizar as condições de trabalho, as alterações legislativas minam as bases para a fixação de pessoas (naturais ou imigrantes) e para o aumento da natalidade. Estabilizar a população e reverter o decréscimo demográfico exige um compromisso com o trabalho digno, que assegure rendimentos suficientes e estabilidade para a construção de projectos de vida”.
Em conclusão, é defendido que a falta de mão-de-obra nos Açores e o decréscimo demográfico “são duas faces da mesma moeda: um modelo económico que se sustenta em baixos salários e precariedade. As reformas laborais que não atacarem estas debilidades estruturais, mas que, pelo contrário, as acentuarem, não só não resolverão a escassez de trabalhadores, como a aprofundarão, de forma perigosa, hipotecando o futuro demográfico e económico da Região”.