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Tirar o bacalhau da nossa mesa

Como todos sabem uma das formas antigas que especialmente gente de menores recursos usava para conservar peixe, e que sobreviveu ao longo dos tempos até há poucos anos atrás, era secar o dito (e também a carne, quando havia). Assim nasceu o Bacalhau, o fiel amigo de muitos portugueses, embora hoje essa fidelidade se esteja a dissipar de forma acelerada.
Tal dissipação, não se deve nem ao decréscimo da população portuguesa, nem ao decréscimo notório desta espécie piscícola nos seus habitats marinhos naturais, e nem tão pouco é consequência da subida dos rendimentos daqueles que a pescam ou na sua transformação trabalham. Deve-se apenas ao facto de o seu preço ao consumidor, nos últimos 3 anos, ter mais que duplicado e ter-se assim tornado inacessível para milhões de ex-amigos fiéis, cujos rendimentos atuais (mesmo nominalmente aumentados em alguns casos) lhes tornaram proibitivo o seu consumo.
Pode o sr. Presidente do Governo Regional dos Açores vangloriar-se do facto do rendimento médio dos açorianos ter subido, desde 2019, para pouco mais de 1.100,00€, mas, ao preço a que ascendeu em três anos o bacalhau mais barato (cerca de 17,00€ por quilograma), ninguém com tal rendimento, especialmente com família a acrescentar, pode continuar como seu habitual consumidor … Valha-nos por enquanto o chicharrinho, quando ainda aparece a 2 ou 3 euros!
Como denuncia e bem, em comunicado de 16 de outubro passado, a CPPME, Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas: “O bacalhau vai sair da mesa dos portugueses”.
E, de acordo com o comunicado desta associação empresarial percebe-se porquê. Devido às sanções económicas impostas à Rússia pelas superestruturas da União Europeia, com o apoio do governo português, as empresas portuguesas foram obrigadas a deixar de comprar bacalhau diretamente e a bom preço à Rússia (antes a principal fonte de matéria-prima da indústria bacalhoeira portuguesa), para passar a comprá-lo em condições muitos mais onerosas à Noruega (que também não é membro da União Europeia), país que, por sua vez, o compra à Rússia de forma bem mais vantajosa para as suas próprias empresas.
Em resumo, as sanções económicas da UE impostas à Rússia prejudicam sobretudo os portugueses, cidadãos de um país que está entre os mais obedientes cumpridores daquelas sanções, pouco beliscando o imenso negócio russo do bacalhau, porque a Rússia continua a vendê-lo à Noruega sem restrições. Noruega que, por sua vez, muito ganha com isso, porque se cobra (e bem) pela sua revenda a Portugal, agora que passou a sua intermediária…
Invocando o consumo do bacalhau como constituinte essencial da cultura identitária gastronómica portuguesa, muito acertadamente propõe a CPPME ao governo português, no seu comunicado, a abertura de um regime de exceção ao nível da UE com vista a possibilitar a importação por Portugal do bacalhau russo em idênticas condições às da Noruega.
Por enquanto, no caso do ex-fiel amigo, as mãos portuguesas para o comprar ao melhor preço estão de momento atadas em nome das sanções à Rússia. Mas não só. No caso do gás, de outros combustíveis e da energia, a situação repete-se. E como se não bastasse, mais 70 milhões foram agora mesmo entregues pelo governo português para alimentar a guerra na Ucrânia. E no Orçamento do Estado as despesas militares já subiram para os 2%, a caminho dos 5% até 2030, fundamentalmente com o mesmo objetivo. E na Paz, quanto está de momento a UE a investir? Ninguém sabe. Resumindo: A raiva cega da União Europeia contra a Rússia o mais que tem conseguido afinal, entre outras habilidades, é tirar o bacalhau da mesa dos portugueses…
Mário Abrantes

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