Desde o Canadá acompanho esta invasão da Rússia ao território ucraniano com alguma calma, mas também com a devida atenção que o assunto merece. Vejo, pessoalmente, esta guerra com muita preocupação, principalmente porque se trata da morte de pessoas, de um país destruído quer fisicamente, quer mentalmente. Certamente, serão precisos imensos anos/ décadas para reconstruir um país em cinzas. A par disso, como todos sabemos, o dinheiro “está caro”. Na Ucrânia e perante a minha impotência de poder fazer algo, só consigo pensar, mesmo que sossegado, nas crianças mortas, nos traumatizados pela violência, nos que perderam as Escolas, os Hospitais e outros espaços comuns destruídos pelos russos. Há famílias que foram separadas e vidas que foram dilaceradas.
Caro leitor, não se sabe quando é que esta guerra vai terminar e como vai terminar. Os temores que tenho são baseados em factos reais: a inflação não pára de subir e todos sentimos isso na pele; o aumento dos preços dos combustíveis e da energia têm impacto no bolso de todos nós; e os bancos, com medo do que se possa passar, aumentam sem parar as taxas de juro e “paga povo”.
São ainda meus temores acerca desta guerra: o aumento dos preços dos cereais, com impacto muito forte na agricultura e na carteira de todos nós e a saúde pública onde já se conjecturam surtos de cólera e outras doenças perigosas.
Não posso deixar de pensar nos adolescentes, nas famílias, nas crianças e nos idosos que todos os dias choram na Ucrânia, perdendo autênticas histórias de vida, muito por culpa dos “loucos de hoje – os tais que mandam no Mundo”. Esta gente necessita desesperadamente de segurança, estabilidade e protecção.
Quero ainda, deixar uma nota. Não querendo meter todos no mesmo saco, e percebendo a necessidade de preencher grelhas de informação, choca-me o facto de se acompanhar este guerra como uma autêntica novela mexicana. Tirando alguns bons exemplos, julgo que alguma comunicação social, e passados mais de 12 meses de conflito, ainda não sabe como “se encontrar” e como “abordar isto”. Mais do que contar os tiros diários, é preciso dar a conhecer os tais impactos que falei acima, o que vai mudar na vida das pessoas e isso ainda ninguém teve a coragem de o fazer.
Onde tem andado esta comunicação social que agora enche páginas, notícias e directos, mas durante décadas não foi capaz de evidenciar os passos que faziam pensar neste desfecho? A relação Ucrânia-Rússia tem um histórico de tensão enorme, foram, aliás, dados muitos sinais claros, desde 2013, por parte da Rússia. Sinais que o mundo, inclusive a comunicação social, ignorou, passando uma borracha como se nada se tratasse.
Por fim, uma palavra para os Açores, que devido à sua condição geoestratégica, poderá ter de assumir um papel central neste conflito. Contudo, o potencial dos EUA é claro, e as suas boas relações com Portugal, fazem-me acreditar que, nós açorianos, podemos andar descansados. Não será, se acontecer, uma situação nova para nós e economicamente até pode ser um bom presságio para a Terceira.
Termino desejando a todos um excelente começo de Setembro, prometendo voltar às novidades sobre a comunidade açoriana/portuguesa a viver no Canadá. Neste momento, os clubes e associações açorianas estão em pausa, a pausa que todos merecem para o devido descanso, prometendo voltar cheios de energia para cumprir os seus recheados planos de actividades.
Rómulo Medeiros Ávila *
* De Toronto, Jornalista-Correspondente do Diário dos Açores