Quem paga o jornalismo?
A pensar naqueles que têm andado distraídos recordo que raramente o jornalismo foi pago pelos seus consumidores.
A principal fonte de financiamento tem sido a publicidade, mas em muitos casos o exercício da colecta, edição e difusão de informação é subsidiado por entidades públicas e mecenas privados.
Isto passa-se em todos os mercados, incluindo as democracias mais adultas. No séc. XX como no período do séc. XXI que já conhecemos.
Em Portugal o Estado e os contribuintes apoiam o serviço público de Rádio e TV e a agência que é a principal fonte de notícias de toda a Comunicação Social.
A informação de TV e Rádio privadas é integralmente paga pela publicidade e existem vários meios suportados financeiramente por privados.
Na economia dos media nacionais a percentagem da contribuição dos consumidores é baixíssima.
Ver o governo dos Açores a criar uma subvenção atribuída às empresas de media baseada nos salários pagos aos seus jornalistas não me choca.
Nem vejo que seja desconforme com as modalidades de financiamento em prática noutras circunstâncias.
Se não forem os organismos públicos (e aqui incluo as autarquias) a ajudar a pagar o jornalismo acabaremos por tê-lo resumido às empresas de media cujos projetos de comunicação sejam convergentes com interesses económicos e políticos dos mecenas.
Sei que se associa o financiamento público a um controle político dos media, mas o que se passa, hoje em dia, com a RTP, a RDP e a Lusa é demonstração mais do que suficiente para contrapor ao estereótipo.
Seja como for imaginemos o que seria o panorama mediático se o jornalismo apenas fosse suportado pelos mecenas que sabemos estarem disponíveis.
Hoje em dia, o perigo da independência do jornalismo não provém dos poderes políticos. Provém dos poderes económicos.
Luís Paixão Martins*
*Consultor de Comunicação. Fundador da LPL