Há cada vez menos dúvidas sobre o desprezo das chamadas Autonomias Regionais, por parte de toda a elite política dos corredores de São Bento.
Cada vez mais se fecha o cerco àquilo que a esmagadora maioria dos eleitos ao parlamento português chama (em segredo) de aberração constitucional, que são as autonomias, paridas e conquistadas a ferro pelos dois povos insulares, madeirense e açoriano.
Em Lisboa (e restante arredores do retângulo), continua a pensar-se que “essa coisa de autonomia, é perigosa demais para a frouxa mentalidade democrática do povo português”. E que a política a aplicar por todas as forças políticas e partidárias do retângulo ibérico, só pode ser a de afogar, aniquilar pouco a pouco, quaisquer atitudes autonomistas ou reconhecimento democrático da existência – inda que constitucional – de pretensões ou reivindicações de governação locais sem a bênção da ditadura da maioria centralista – qual beija-mão salazarista.
Os políticos nacionais, na sua maioria profissionais que precisam constantemente mostrar o seu descontentamento perante ‘desvios autonómicos’ protagonizados pelos seus afiliados insulares, insistem na estafada justificação da ‘soberania nacional’, ridículo e ignorante argumento, historicamente ultrapassado, temporalmente morto desde as revoluções americana e francesa, que nos finais do século dezoito deram à luz a República, libertadora das algemas monárquicas das trevas medievais.
No entanto, toda essa escumalha política, apesar de caminhar para o meio século de Liberdade e Democracia (1974-2024), ainda não interiorizou a descentralização como poder avançado de um estado moderno, cada vez mais forte. Continuam na medíocre mentalidade arcaica do século das trevas. A desconfiança, nas mentes de quase toda a política centralista, é como uma doença crónica sem cura, sem remédio e fatal.
Apenas a ignorância pode alimentar tais medos.
Por mais que tentem disfarçar-se em reais democratas, os ministros, juízes, partidos políticos, deputados e deputadas eleitos por um sistema eleitoral viciado e construído à medida das suas incapacidades, não passam, afinal, de cidadãos complexados, que perpetuam a mesma cultura política do ditador que destituíram há quase meio século. São incapazes de ceder, mesmo no mais franco e honesto diálogo. Na formatação dos seus cérebros, não existe qualquer possibilidade de abertura, alteração, atualização, progresso. Tudo se vislumbra através da própria pequenez.
O permanente desrespeito do poder central pelas instituições democráticas insulares, demonstra a sua falta de educação política nos sistemas democráticos, uma desconfiança permanente num ambiente onde o único argumento se baseia na ‘soberania nacional’, seja em assuntos do Mar, em relações internacionais, em educação superior, em políticas sociais, enfim, todo um oceano de ambiguidades e de ideias carunchadas, em constantes atentados ao pensamento moderno.
José Soares *
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