A Casa de Portugal, um local emblemático de Paris, celebra, em todas as oportunidades relevantes, o património lusófono em França. Neste contexto vai realizar uma exposição com o título “Mulher Atlante”, para comemorar o centenário do nascimento de Natália Correia.
A coordenadora geral da exposição, Paula Lisboa- em declarações ao Diário dos Açores - salientou que não seria possível «deixar passar em branco esta efeméride que contou com o trabalho muito empenhado do curador Rui A. Pereira, que idealizou e organizou a exposição». O seu reconhecimento foi extensivo a Ana Paixão, « uma talentosa intelectual, garante da exposição “Mulher Atlante” que possui uma qualidade artística notável, em plena em sintonia com a tradição de excelência que caracteriza os acontecimentos efetuados pela Casa de Portugal e pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Paula Lisboa enalteceu ainda «o importante contributo da Perve Galeria, através de Carlos Cabral Nunes e Nuno Espinho da Silva, pela cedência das obras agora apresentadas». Agradeceu, ainda, a todos os artistas convidados pela qualidade das obras expostas e a dedicação, sem limites, dos trabalhadores da Casa de Portugal.
Paula Lisboa - nas declarações ao Diário dos Açores - revelou que uma das participantes é a pintora Carmo Pólvora, uma das amigas mais íntimas de Natalia , «foi a artísta plástica a quem Natália Correia dedicou o seu último texto de análise crítica sobre arte e onde surgiu a ideia da Mulher Atlante que prepondera em toda a exposição.»
Natália Correia – ao concluir Paula Lisboa o depoimento para o Diário dos Açores, «referiu que Natália fez tudo o que estava ao seu alcance para a construção de um país melhor, não deixando passar em vão os valores da democracia que tão bem expressava nas suas obras literárias e artísticas e nas suas intervenções políticas. A apresentação desta exposição, em Paris é uma homenagem mais que merecida, pois Natália recorria a esta cidade, como uma necessidade de rejuvenescimento».
Por sua vez, o curador da Exposição Rui A Pereira, também, agradeceu a todos quantos contribuíram para a concretização da homenagem a Natália Correia, que se pode enquadrar, nos seguintes versos de um notável poema de Bertolt Brecht: «Do rio que tudo arrasta se diz que é violento./Mas ninguém diz violentas/as margens que o comprimem.”
A diretora da Casa de Portugal – André de Gouveia, Cité Internationale Universitaire de Paris, Ana Paixão é da opinião que «a criação literária,a produção editorial e as intervenções políticas e sociais de Natália Correia são feitas desse rasgo imperioso que agita e derruba códigos e formas de dominação». (…)« Ao colocar em causa todas as formas de poder, de autoritarismo e de mordaça sobre as ideias e sobre os corpos, a missão oceânica da autora de Mudar o Futuro continua atual em territórios e temporalidades distintas»
Louvou a atividade de Paula Lisboa que, «de forma entusiasta ecompetente soube, com o seu saber, e em todas as fases do processo estar presente na idealização geral desta homenagem. «Trazer Natália Correia para Cité Internationale Universitaire de Paris ,- prosseguiu Ana Paixão - « é relembrar a luta que travou pelas liberdades individuais, contra todas as formas de opressão e de domínio continuam a ser atuais num contexto global». (…) A autora de A Madona nos permanentes combates que travou pela diversidade e afirmação sexual, começando pelo direito a dispor do próprio corpo, os princípios de diferença, da inclusão e do respeito, inseridos na Carta de Valores da Cidade Universitária. «Falar de Natália Correia — realçou Ana Paixão- « é uma forma de dar um exemplo, demonstrar a sua ação precursora na luta por princípios que continuam por conquistar e que nunca podem ser considerados como adquiridos».
Além desta exposição - a inaugurar no dia 8 setembro, às 18 horas e que continuará patente até 28 Outubro 2023 - a Casa de Portugal organizará ainda um colóquio internacional em parceria com as Universidades de Paris Sorbonne, Paris Nanterre, Paris 8, Universidades Nova de Lisboa e de Göttinghem, nomeadamente com a Cátedra Almada Negreiros.
A repercussão em França do centenário do nascimento de Natália Correia destaca a sua presença nacional e internacional na literatura e artes plasticas na segunda metade do século XX e, simultaneamente, a dimensão dos valores cívicos, políticos, sociais e culturais que promoveu e nas mais diversas circunstâncias.
António Valdemar *
*Jornalista, carteira profissional numero UM; sócio efetivo
da Academia das Ciências