“Temos de procurar alternativas à redução das rotas da Ryanair”
Diário dos Açores

“Temos de procurar alternativas à redução das rotas da Ryanair”

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Gilberto Vieira, Associação de Turismo em Espaço Rural

Estamos a terminar mais um ano e é quase seguro que vamos ter o melhor ano de sempre em turismo. No caso específico do turismo rural, como foi este ano?
Se o ano turístico é bom para o arquipélago, é praticamente seguro que também é um bom ano para os diferentes segmentos da oferta de alojamento turístico. No caso concreto das unidades que integram a Casas Açorianas - Associação de Turismo em Espaço Rural, o ano de 2023, apesar de ainda faltarem dois meses para o seu final, podemos já, com alguma segurança, considerar que foi um bom ano – um ano em que crescemos no número de hóspedes, no número de noites dormidas nos nossos alojamentos e tivemos também um ligeiro crescimento do preço médio por quarto ocupado.
Gostava, no entanto, de deixar um alerta: é expectável que quando forem conhecidos os resultados finais deste bom ano turístico, alguns irão criticar e fazer a apologia, que parece estar de novo em voga, de que temos turismo a mais e que estamos com um turismo massificado mas, evidentemente, essa ideia está longe de ser verdadeira.
Temos alguns picos de procura como é o caso da época de Verão, mas isso acontece porque a procura turística nos Açores sofre ainda de uma grande sazonalidade, pelo que durante alguns meses do ano, em especial durante a época de Inverno, o alojamento turístico apresenta taxas médias de ocupação ainda bastante baixas. Por isso mesmo ainda temos muito espaço para crescer em toda a região.
Às entidades responsáveis pela promoção turística da nossa Região gostava de chamar a atenção para o facto de a sazonalidade turística com que os empresários açorianos do sector do turismo se debatem ser um problema grave, uma situação que acarreta desequilíbrios na gestão das unidades, comprometendo a fixação de profissionais qualificados por falta de trabalho durante o ano inteiro. Por isso penso que a Visit Azores deveria criar vários programas específicos, que poderiam até ser apoiados financeiramente, direccionados a alguns mercados emissores que com maior facilidade possam enviar turistas nestas épocas de mais baixa procura.

O que é que perspectiva para o próximo ano, com a redução dos voos da Ryanair?
Quanto ao próximo ano, a instabilidade que se vive, com guerras em várias áreas do globo e o impacto que podem ter sobre o preço de alguns produtos, nomeadamente o combustível mas também os cereais, entre outros, pode manter a inflação a um nível elevado as taxas de juro também altas, o que poderá vir a ter um efeito negativo nas contas das famílias e, como tal, na sua disponibilidade para viajar. Estas são situações importantes a que devemos estar atentos e que nos impedem de perspectivar claramente o ano de 2024.
No entanto, ser tudo correr como até aqui, sem agravamento dos conflitos, o ano 2024 poderá ser, para os Açores, idêntico a 2023 ou até ligeiramente superior.
Sempre que se fala em redução de voos, estamos a falar na redução de acessibilidades ao arquipélago e, evidentemente, isso é preocupante, até porque somos um território descontinuado, uma região insular, onde os turistas só podem chegar por via aérea.
Quanto à redução dos voos da Ryanair, teremos de estar atentos e procurar alternativas para as rotas que vão sofrer com essa redução ou procurar mais parceiros aéreos em outras rotas que venham a compensar essas possíveis perdas.
Gostava também de salientar que aguardamos, com preocupação moderada e alguma expectativa, a conclusão do processo de privatização da Azores Airlines, uma companhia aérea que é e sempre foi de grande importância para os Açores, e nesse sentido esperamos que a Região possa beneficiar da expansão de rotas e, por essa via, de novos fluxos turísticos que a companhia possa aportar à região.       

 A Terceira vai ter uma promoção própria com o contrato-programa agora anunciado entre o Governo dos Açores e a Câmara do Comércio de Angra, no valor de 2,1 milhões de euros. Onde é que a Terceira deve apostar?
Sempre que se fala em promoção turística tenho vindo a afirmar que a promoção nunca é de mais, e este contrato-programa fica abrangido por esta minha forte convicção. Quanto aos mercados emissores onde a Câmara do Comércio de Angra deve vir a apostar, o primeiro conselho que deixo é que deve haver uma coordenação com as acções que a Visit Azores pensa vir a fazer, para não haver sobreposições nem desperdício de recursos que são sempre escassos, e também para evitar que vários destinos dentro do Arquipélago estejam a concorrer entre si. Aliás, será até saudável e eficaz que em alguns casos possam existir sinergias.
Quanto aos mercados propriamente ditos, não podemos nunca esquecer nem menosprezar o nosso principal mercado que é o nacional - isso seria um erro. Porém, sabemos que a ilha Terceira é atractiva para diversos mercados internacionais, e aqui eu olhava para um ou outro país europeu e analisava também a possibilidade de ser feita uma aposta em alguma região dos EUA, tendo sempre em conta as acessibilidades disponíveis.   

Qual é a situação presentemente da Associação Casas Açorianas? Tem havido mais adesões? Que perspetiva para o futuro da Associação?
Como sabemos o associativismo no geral não passa pelo seu melhor momento, e a Associação de Turismo em Espaço Rural, não é excepção. Precisamos de uma maior participação dos nossos associados, para continuarmos a crescer e a poder defender, junto das diferentes entidades, os interesses de uma área do alojamento turístico dos Açores que tem um passado, tem um presente e sem dúvida terá um futuro importante na oferta da Região.
Dito isto, salientava que as características muito próprias destas unidades que, como se sabe, são de pequena dimensão e estão dispersas por todo o território, acabam por ser a sua maior valia. Porém, ao mesmo tempo, essas características são também aquelas que as deixam mais isoladas e por isso com mais dificuldades de se fazerem ouvir pelas diferentes entidades, o que aumenta a sua necessidade de estarem organizadas numa Associação com as características da nossa.
Respondendo mais directamente à sua pergunta, as unidades integradas na nossa Associação de Turismo em Espaço Rural, que representam uma capacidade superior a 600 Paxs, pertencentes a 50 associados e com actividade e oferta em todas as ilhas dos Açores.       

 O turismo rural tem contribuído, desde há vários anos, para a notoriedade e sustentabilidade dos Açores. Acha que é um sector que merecia mais atenção das autoridades regionais?
Eu diria que quando algum dia se escrever a história do turismo açoriano, o Turismo em Espaço Rural terá forçosamente de fazer parte dessa história, dado que foi este segmento que acabou por ser, em muitos casos, o “pontapé de saída” para a oferta de alojamento e até para dar a conhecer e promover várias das ilhas do nosso arquipélago. Foi, por isso, o “arranque” para o muito que já é hoje a realidade da nossa oferta turística, em especial a mais ligada à sustentabilidade ambiental e territorial, à preservação da natureza e da nossa cultura.
A Casas Açorianas – Associação de Turismo em Espaço Rural – foi, provavelmente, uma das primeiras marcas turísticas dos Açores a contribuir para a promoção desta actividade económica fora do nosso território e por isso faz também ela parte desse acervo histórico futuro.    
Estou convencido de que se falar com qualquer empresário associado das Casas Açorianas, ele lhe dirá que este sector de actividade merece mais atenção por parte das entidades oficiais, tanto regionais como locais, pelo papel que desempenha e pelo contributo que dá para o progresso do turismo nos Açores, porque queremos sempre mais atenção para podermos fazer melhor.
No entanto queria deixar claro que não nos sentimos propriamente abandonados, temos um contrato programa com o Governo Regional, e vários protocolos com diversas entidades e municípios. Sentimos que somos considerados e ouvidos quer pelas entidades oficiais quer pelas nossas parceiras Associações do sector e por muitos outros sectores da sociedade.    

Qual a sua perspectiva sobre o futuro do turismo na nossa Região?
Se olharmos para o que era o turismo nos Açores, há umas décadas atrás para o desenvolvimento que teve, e para o que ele é hoje, apesar de alguns erros que se foram cometendo, muitos dos quais por desconhecimento do que é esta actividade económica e como ela é vulnerável e sensível, não poderei deixar de estar optimista.   
Temos ainda “muito chão para caminhar”, como se costuma dizer, no turismo nada está terminado, e a um mau pode seguir-se um bom, uma tendência que os turistas possam ter hoje, pode ser diferente amanhã, estamos num mundo de rápidas inflecções e teremos de estar sempre preparados para dar a resposta certa.      
Gostaria, no entanto, de reafirmar como muitas vezes tenho feito que o turismo em espaço rural conquistou desde à muito o seu espaço, na oferta turística açoriana, e damos um contributo forte para a sustentabilidade do território que é um trabalho inacabado, e este é o grande desafio que todos os açorianos e em especial as autoridades regionais tem de fazer de forma continuada.     
O arquipélago dos Açores é um território frágil, que “tem de ser cuidado como se fosse um jardim de rosas”, com carinho e muitas cautelas, até para honrarmos a certificação de “Destino Turístico Sustentável” e é isso que sempre defendemos até porque estamos convictos que esta é a mais valia para nos diferenciarmos da globalização crescente da oferta turística.
jornal@diariodosacores.pt

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