Diário dos Açores

Fome a aspirar o pão da paz

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porque todos os dias se morre
e por tantas vezes sem saber a seminal razão

- as guerras as bocas mordem
morre-se de angústia do ódio que se alimenta
- do ódio feito   uma paixão

esquece-se o Holocausto Hiroshima Nagasaki

a terra é um berço onde todos
nos aconchegamos e adormecemos
com alguém a rezar-nos ao ouvido
a lenga-lenga de um terço que os crentes
entoam para nos desviarmos da tentação da ganância humana
que o que colhe destrói

neste tempo ao homem nada lhe faz doer
- a dor desamparada de um velho   
- o soluço angustiante de uma criança
- ambos apanhados entre uma bala e uma parede
a ruir numa rua onde se combate por mais um metro de chão

que não servirá para plantar trigo ou cevada
ou a raiz de uma árvore para crescer e ser o dado fruto num futuro
para saciar  a fome de quem aspira o pão da paz
- não há lados – na guerra  -  apenas mortes
o argumento é vago   apenas deslegitima e desumaniza o universo
onde todos deviam caber

nada se resolve ao amor pelo outro
-colhe o desdém e a indiferença
e a suposta fé a religião professada
não cumpre a imagem  a palavra criada pelo deus benigno

a bondade passa a ser uma metáfora
e apenas a  discórdia reina
e não há deuses que unifique

-apenas criada uma nuvem de fumo
para obscurecer  sentimentos de quem governa    os devia ter

uma vida nada vale se essa vida
não for trocada por um ar de bondade
e não tiver – no homem – nas pontas dos seus dedos
o poder de acariciar a ferida de uma face
que o punho de uma arma


riscou sem piedade

 

Victor de Lima Meireles

 

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