O novo ano que agora se inicia vem recheado de desafios que podem traçar o futuro do país e dos Açores em vários sectores de actividade.
Desde logo a economia assume-se como vector central, porquanto dela vai depender grande parte do desempenho da nossa convergência, que tem sido fraca na última década.
É verdade que ela cresce, mas outros crescem mais rápidos do que nós e, pior do que isso, muitas famílias não sentem este crescimento e as suas condições de vida não ficaram melhores nos últimos anos.
Não é por acaso que os Açores atingem o valor mais alto do risco de pobreza do país, com mais de um em cada quatro açorianos a viver nas ruas da amargura.
Não fosse o desempenho do turismo e os Açores estariam a enfrentar, nos dias de hoje, novas grandes vagas de emigração.
Mesmo assim, ainda não somos capazes de reter talentos e muitos deles estão entre os 10 mil habitantes que perdemos nos últimos tempos.
Com o PRR e o novo quadro comunitário de apoio é preciso criar condições, em todas as ilhas, cada uma à sua dimensão, para reter pessoas, sobretudo os jovens qualificados, e oferecer melhores condições de vida às famílias.
A inflação, os juros e os baixos salários vão continuar a preocupar-nos em 2024, mas mais preocupante do que isso são os atrasos estruturais da nossa economia, incapaz de produzir valor acrescentado e de gerar maior competitividade.
Uma gestão política errada, nos últimos anos, levou a nossa economia para os confins da falência dos cofres públicos, em que as empresas públicas em catadupa foram as mais culpadas pela acumulação de resultados negativos, de que resultou a falência da SATA e um gigantesco endividamento na Saudaçor, como corolário de políticas erradas e com gestores incompetentes.
O Tribunal de Contas bem que alertou, todos os anos, para o “elevado grau de informalidade” em que muitas das empresas públicas estavam a ser geridas, contribuindo para a travagem do processo de crescimento económico que tanto necessitamos.
Falhamos em muitas áreas de crescimento económico e, agora, que a União Europeia nos dá mais uma oportunidade para recuperarmos dos atrasos a que nos auto-submetemos, somos bem capazes de falhar mais uma vez, porque teimamos em assentar o nosso modelo de desenvolvimento em estratégias erradas e sem que se vislumbre um caminho que possa robustecer a nossa economia e as nossas vidas.
O investimento público é praticamente engolido pela enorme galáxia administrativa que criamos na região, um autêntico monstro que absorve, todos os anos, uma importante fatia do orçamento regional, sem criar riqueza produtiva e tornando o nosso arquipélago numa enorme central burocrática de funcionários públicos.
Tudo isto torna a qualidade das nossas instituições muito pobres, recheadas de responsáveis sem mérito, obedientes aos aparelhos dos partidos e degradando o nosso processo de desenvolvimento.
Vamos a caminho de 50 anos de Autonomia e a percepção que fica é que temos de começar quase tudo de novo, porque tudo o que construímos até aqui é tão frágil, tão clientelar e tão assistencialista, que provoca a fuga de talentos e de recursos qualificados que tanta falta nos fazem.
Desperdiçamos o nosso potencial em lutas partidárias de interesse aparelhístico e nunca em prol dos cidadãos, como mais uma vez se comprova com a presente crise política nacional e regional.
O regime degrada-se, as instituições enfraquecem, os políticos e os partidos descredibilizam-se e o que aí vem não é nada animador.
Basta ver o que nos oferecem as forças políticas para as contendas eleitorais que se avizinham, a começar pela mediocridade das listas de candidatos, cheias de arranjinhos internos, a borrifarem-se para o mérito e para a qualidade da cidadania.
Como dizia Eça em 1867, “em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações”.
Apesar de tudo, bom ano e que haja mais cidadania para pôr na ordem a política desordenada.
A democracia a morrer
Entramos em 2024 com mais um jornal açoriano a fechar as portas.
O “Incentivo”, único diário da ilha do Faial, deixa de publicar em papel e passa a projecto digital.
Passados 20 anos da sua primeira edição, deixa aquela ilha sem jornais, depois de já ter perdido o centenário Telégrafo e o Correio da Horta.
Trata-se de uma morte anunciada, a que se poderão seguir muitos outros meios de comunicação social da região.
Também os nossos colegas do “Açoriano Oriental” e da TSF-Açores estão a enfrentar graves dificuldades, com o ordenado de Dezembro por pagar e o subsídio de Natal a ser distribuído em duodécimos ao longo deste ano, porque os donos do jornal, a Global Media, estão sem dinheiro, incluindo para os centenários “Diário de Notícias”, “Jornal de Notícias” e Rádio TSF.
Os políticos açorianos assistem impávidos e serenos ao definhar da comunicação social e alguns até batem palmas por cada morte proclamada.
Até que um dia serão eles a serem varridos da democracia livre e plural, porque o país há-de ser outro sem a livre expressão de pensamento e de debate da comunicação social.
Por cada jornal que fecha, é a democracia que morre.
Um governo incompetente
António Costa e Pedro Nuno Santos foram incompetentes na questão do subsídio de mobilidade.
Ambos reconheceram, em 2019, que se tratava de um “esquema completamente absurdo, ruinoso para as finanças públicas, uma despesa que subiu de 14 milhões de euros para 70 milhões de euros, que não beneficia nenhum residente nas regiões autónomas”, prometendo que iriam alterar o sistema.
Passaram-se duas legislaturas e nada fizeram, deixando as companhias aéreas a encherem os cofres à custa dos dinheiros dos contribuintes e a prejudicar os cidadãos açorianos, que perdem um dia de trabalho nas longas filas dos CTT para terem acesso ao reembolso.
É importante que se faça este debate na campanha para as eleições nacionais e que os eleitores obriguem os partidos a um compromisso para mudar este sistema obsoleto, inócuo e com exigências estúpidas, como a de obrigar a pessoa que tem o nome na factura a estar presente no balcão dos CTT para receber o reembolso. Tudo como no terceiro mundo!
Um país que não consegue mudar uma coisa tão simples, imagine-se para as coisas complicadas…
É por isso que continuamos na cauda da Europa e até os países de leste já nos ultrapassam nos principais índices de desenvolvimento.
É o que faz estarmos entregues a uma escola de políticos imberbes, imaturos, impreparados e que só pensa na sua clientela e nos seus amigos.
De resto, o povo que aguente!
Osvaldo Cabral
[email protected]