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Nova atração nos nossos mares : Cozer um ovo numa fonte hidrotermal

Gui Costa é um conhecido e experimentado mergulhador, ligado à actividade turística, de Vila Franca do Campo, que mostrou, há poucos dias, que os nossos mares poderão ter uma nova atracção, como cozer um ovo numa fonte hidrotermal. Entrevistamos Gui Costa sobre esta curiosidade e aproveitamos para falar sobre a situação da actividade do mergulho na nossa região.

Há poucos dias publicou uma experiência pouco conhecida que pode ser um novo atrativo turístico de mergulho: cozer ovos numa fonte hidrotermal nos nossos mares. Quer contar-nos a experiência?
Na costa Sul, a seguir à Ponta Graça, concelho de Vila Franca do Campo, há fontes hidrotermais subaquáticas. É uma zona baixa, 7 a 10 metros, e, acessível a todos os que as conhecem.
A empresa vilafranquense dedicada ao mergulho, a Azores Sub, costuma lá ir por ser um local em que se pode ter uma experiência agradável e única, que é mergulhar numa zona com actividade vulcânica.
Naquele local a água é ligeiramente mais quente e, em certas zonas, não se consegue pôr a mão na areia por ser muito quente.
Existe lá vida como nos outros locais e é um sítio muito barulhento, fazendo lembrar o som das caldeiras das Furnas.
Aproveitando a temperatura da areia, a ideia de colocar lá ovos a cozer foi quase instintiva.
Colocam-se os ovos enterrados, em contato com as zonas quentes e, ao fim de 40 minutos, estão cozidos, só resta acabar o mergulho e saboreá-los no barco.
Já experimentei, com o meu amigo Paulo Correia, a cozer camarão, e também resulta, apesar de ficar com alguma areia.
Enfim, nada como passar bons momentos no mar.

Temos muitos locais onde se possa fazer esta experiência?
Há alguns lugares na ilha, onde se vê sair bolhas do fundo do mar, nomeadamente e, entre outros sítios, na Praia da Pedreira em Água d’Alto, na zona da Ferraria nos Ginetes e na Praia do Fogo na Ribeira Quente.
Só resta saber se a temperatura é suficiente para cozer ovos.

Como está a actividade turística de mergulho em S. Miguel?
A percepção que tenho é que, enquanto mergulhador amador, privado ou como cliente dos centros de mergulho, o movimento dos centros de mergulho parece-me ser bom na época alta, de Junho a Outubro.
Os centros fazem várias saídas diárias com vários programas que vão desde baptismos de mergulho, cursos de mergulho e mergulhos nas zonas mais interessantes da ilha, como na Galera, no Ilhéu da Vila ou no naufrágio do navio Dori.
Também fazem saídas de “snorkeling” (mergulho em apneia).

Há quem fale no mau tratamento dos bons locais de mergulho na nossa ilha. A que se deve?
Acho que não se está a reconhecer que há potencial, tanto económico como ambiental, da atividade do mergulho, de outro modo haveria mais cuidado na preservação da vida marinha nas zonas litorais da ilha.
Em comparação com um passado bastante recente há uma falta assustadora de vida no mar.
A criação de reservas marinhas costeiras é fundamental não só para repor a situação como também para ir ao encontro das necessidades do sector das pescas.
Para essa falta de vida contribuem certas artes de pesca, como as redes junto à costa, e, alguns tipos de armadilhas que já deveriam ter sido banidas das nossas ilhas, tal como a pesca de palangre, dentro das 3 milhas, o foi.
Estas práticas não trazem vantagens nem a quem as usam nem à natureza e, obviamente, nem às actividades de mergulho, pesca costeira amadora e caça submarina.
Outro exemplo flagrante que degrada o mar é a quantidade de lixo, de terra e de nutrientes arrastados pelas chuvas e pelas ribeiras, fruto de más práticas agrícolas e da falta de protecção dos solos .
O exemplo da Caloura é flagrante considerando que, em cerca de 30 anos, passou de um oásis cheio de vida para um deserto devido ao excesso de exploração.
A Caloura é um local que tem um potencial incrível para ser uma reserva marinha e até poderia ser um viveiro para grande parte da costa Sul da Ilha de São Miguel.
Outro elemento fundamental e essencial para a preservação e conservação da vida do mar é a fiscalização.
De pouco serve haver regras se a prevaricação é constante, e, é possível por haver quase ausência de meios de vigilância.
A apanha e comercialização de lapas no defeso, a utilização de artes proibidas e /ou em locais interditos são um exemplo flagrante dessa situação.

O mergulho nos Açores está bem promovido pelas entidades do turismo?
Responder sim ou não seria correto e incorrecto ao mesmo tempo.
Sabemos o que a “tribo” do mergulho gosta e detesta.
O turismo de mergulho tem aversão a publicidade do tipo “gato por lebre”, ou, “com a verdade me enganas”.
Os Açores com as suas nove ilhas, são nove realidades totalmente diferentes.
Até ilhas que estão à vista umas das outras tem características muito diferentes.
Assim, a promoção terá de ser individualizada. Os mergulhadores, de uma forma geral, procuram águas azuis, cardumes, animais grandes, ausência de poluição, bons centros de mergulho e boas acessibilidades.
Por isso, se compararmos as práticas dos Açores, na promoção do mergulho, com outros locais do mundo, por exemplo a Madeira, podemos perceber que temos muito caminho pela frente.
Inexplicavelmente, os Açores têm adiado a criação de reservas marinhas, essenciais à recuperação da vida no mar, tanto em quantidade como também em diversidade, tem recusado o afundamento de barcos em fim de vida, descontaminados e preparados para o mergulho, cujo objetivo é criar recifes artificiais em zonas de areia e que são um sucesso no Sul de Portugal Continental (em Portimão) ou nas ilhas da Madeira e Porto Santo, e, ainda, não tomou medidas para proteger algumas espécies que, quase desapareceram de algumas ilhas, considerando que vivas valem mais do que apanhadas.
Tem havido algumas iniciativas de extraordinário valor, como os Parques Arqueológicos Subaquáticos, mas poderiam ser mais ambiciosas e arrastam-se no tempo num banho-maria interminável.
Acrescento ainda que as mudanças políticas em nada contribuem.
Independentemente dos diferentes governos terá de haver um mesmo fio condutor nesta matéria.
O ambiente está permanentemente a degradar-se e cada dia a janela de oportunidade diminui.

Relativamente às empresas de mergulho na Região, há quem diga que existem a mais. Qual a sua opinião?
Penso que existe o número certo.
Há um auto ajuste , um encaixe das mesmas no mercado.
A sazonalidade e o local onde se situam os centros de mergulho, ditam a quantidade de centros existentes.
Acrescento, em comparação com outras paragens, que a qualidade dos centros que conheço é muito boa, tanto na competência dos seus profissionais como na qualidade e afabilidade do serviço prestado.

Como vê o futuro da atividade?
Posso afirmar com toda a certeza que hoje há menos vida no mar do que ontem, e, amanhã, haverá menos ainda do que hoje.
É preciso parar e inverter esta situação a bem de todos os que vivem no mar e do mar.
Urge tomar decisões, unir esforços, observar e copiar os bons exemplos, nomeadamente criando reservas marinhas, fiscalizar eficazmente o mar, acabar com certas práticas delapidadoras e nocivas do ambiente para que haja um futuro de prosperidade para o mar e para o mergulho em particular.

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