Os dados para análise da semana: uma ameaça (preocupante) chamada Dengue
À medida que as temperaturas sobem, os casos de Dengue aumentam, colocando várias regiões do globo em situação de emergência de saúde pública.
No Brasil a situação nunca foi tão grave como este ano (2024): até ao dia 25 do passado mês, o Brasil contabilizou 3.921.271 casos prováveis de Dengue, 1.888 mortes confirmadas e 2.218 óbitos em investigação (dados do “Painel de Monitorização de Arboviroses”, do Ministério da Saúde do Brasil).
A título de comparação, 2015, o ano com o maior número de casos dos últimos 10 anos, registou 1.696.340 diagnósticos e 986 óbitos. 2023, o ano com maior letalidade, teve 1.094 óbitos por Dengue.
Em 2019, o dengue foi considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das 10 ameaças à saúde global.
Transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o dengue é uma arbovirose provocada por um vírus da família da febre amarela, do Zika e da febre do Nilo Ocidental. A fêmea do insecto fica contaminada quando pica uma pessoa, ou animal, hospedeiro do vírus. Depois disso acaba por transmitir o vírus a outras pessoas.
Actualmente existem 4 serotipos de vírus do Dengue: DENV-1, 2, 3 e 4. A infecção dá imunidade permanente para a respetiva variante, mas é possível contrair os outros tipos de vírus.
O dengue caracteriza-se principalmente por febre aguda, dores de cabeça, dores generalizadas, náuseas, cansaço e mal-estar.
A OMS estimou, em 2019, em 5,2 milhões o número de casos (sendo mais de 100 os países endémicos), número recorde, que diminuiu com a pandemia de Covid-19.
Em 2023 o número de casos voltou a aumentar, superando o ano mais grave — nesse ano mais de 6 milhões de pessoas contraíram o vírus, em todo o mundo, de acordo com o “Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças”.
As condições para a proliferação do mosquito Aedes aegypti estão óptimas: constantes ondas de calor provocadas pelas alterações climáticas, associadas a elevada urbanização e grande circulação de pessoas em determinadas regiões, contribuem para a expansão das áreas com Dengue.
Em 2023, Itália, França e Espanha, até então livres do vírus, reportaram transmissão local da doença, algo inédito na Europa.
A vacina Qdenga, da japonesa Takeda Pharma, foi aprovada para uso em idades entre os 4 e os 60 anos. Elaborada com o vírus atenuado, a vacina tem uma eficácia de 80,2% na prevenção dos 4 serotipos, e é administrada em 2 doses, com um intervalo de 3 meses. Para quem vai viajar para um destino com Dengue é uma boa medida preventiva.
A Ciência da semana: O vírus da gripe aviária tem-se espalhado em vacas dos EUA, desde há meses
Segundo um artigo da Nature, da semana passada, uma variante da gripe das aves, altamente perigosa, espalhou-se silenciosamente no gado dos EUA, desde há meses.
É provável que o surto tenha começado quando o vírus passou de uma ave infectada para uma vaca, no final de Dezembro ou início de Janeiro. Isto implica uma propagação prolongada e não detectada do vírus – sugerindo que mais bovinos nos EUA, e mesmo em regiões vizinhas, poderiam ter sido infectados.
Para consternação dos cientistas, os dados divulgados publicamente não incluem informações críticas que possam esclarecer as origens e a evolução do surto. Os investigadores também expressam preocupação pelo facto de os dados só terem sido divulgados quase 4 semanas após o anúncio do surto.
A velocidade é especialmente importante para patogénios respiratórios de rápida propagação, que têm potencial para desencadear pandemias.
Em princípio este surto no gado não vai levar a que o vírus ganhe a capacidade de se espalhar entre as pessoas, mas é importante estar vigilante. Numa resposta a um surto, quanto mais rapidamente se tiver os dados, mais cedo se poderá agir.
A Homenagem da semana: prevenção, sempre, sempre, sempre
O profissional da Comunicação Carlos Vaz Marques relatou esta semana um episódio, ocorrido no último dia 27 de Abril.
“Ivo Pogorelich acabara de tocar os Seis Momentos Musicais, de Schubert.
O público da Gulbenkian aplaudia e o pianista não se levantava para agradecer, como é da praxe.
Tinha entrado em palco de máscara, mas retirara-a para tocar.
Quando o aplauso esmoreceu, com o público perplexo, Pogorelich virou-se para a sala e disse três frases:
“Stop coughing. If you are sick go to the doctor. Or stay at home.” [Parai de tossir. Se algum de vós estiver doente, vá ao médico. Ou fique em casa.]
Na peça seguinte, já extra-programa, só por uma vez se ouviu um ligeira tossicadela abafada.
Ivo Pogorelich, que recolocara a máscara, manteve-a até ao fim.”
Em civilização o que é correcto é simples de entender, e fazer, não é…?
Mário Freitas*
*Médico consultor (graduado) em Saúde Pública,
competência médica de Gestão de Unidades de Saúde