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Politicamente (in)Correto

Os Açores estão, por força da sua posição geográfica, da dupla ultraperiferia, da necessidade de harmonização dos seus padrões de desenvolvimento, da natureza vulcânica da sua geologia, sempre prontos para atacar uma emergência, resolver um problema, motivar-se a si próprios para encontrar uma solução.
Os últimos dias colocam a nu a imensa fragilidade do ser humano mas, ao mesmo tempo, a sua resiliência, a sua capacidade de trabalhar em equipa, a sua decisão imediata de se sacrificar em prol do semelhante.
O incêndio no Hospital do Divino Espírito Santo foi uma tragédia, um teste e, por ironia, uma janela de oportunidade.
Uma tragédia na exata medida em que, no seu combate, o reacendimento aumentou exponencialmente o grau de gravidade e de alcance do sinistro, tornando inviável a continuidade da operação do maior estabelecimento de saúde da região, pedra essencial do Serviço Regional de Saúde e âncora de um conjunto de especialidades clínicas que sustentam o quadro de cuidados médicos nos Açores.
Um teste à capacidade de operação das diversas corporações de bombeiros da ilha de São Miguel, que, arregimentando meios físicos, técnicos e humanos, ali concentraram esforços, em conjunto com os profissionais de saúde do HDES. O modo como, por um lado, o incêndio foi combatido e dominado e, por outro, a rapidez e eficácia extraordinárias com que os pacientes internados foram resgatados de uma situação de risco e perigo totais, por força do trabalho coordenado das equipas hospitalares e de segurança, revela, por ironia, preparação invisível para uma tragédia desta natureza e dimensão, e a consciência perfeita e plena do que fazer, como fazer e quando fazer.
Uma oportunidade surgida literalmente das cinzas. Depois de alguns anos de promessas e planos, orçamentos e desenganos, este é o momento para tomar opções políticas de fundo, verdadeiramente estruturantes para o quadro da organização dos cuidados de saúde na Região Autónoma dos Açores. A palavra deve ser dada, com urgência, aos técnicos, para que os decisores disponham de todos os dados.
É financeiramente viável e operacionalmente aconselhável retomar o funcionamento do Hospital do Divino Espírito Santo, reconstruindo e aproveitando, reformulando e reerguendo?
Ou a alternativa dada por esta infeliz oportunidade passa pela construção de um novo estabelecimento de saúde, moderno, funcional, de ponta e de referência, dotando a maior ilha dos Açores de mais um hospital de confiança para profissionais e utentes?
Não é tempo de especular ou de olhar para trás, para o que, eventualmente, já poderia ou deveria estar feito ou, no mínimo, planeado. É tempo de ir ao fundo da questão, de perceber com os técnicos de saúde e com todos os restantes envolvidos no processo qual a solução, num balanço entre espaço, tempo e orçamento, mais compatível com as reais necessidades de São Miguel e – porque não alargar o âmbito – das restantes ilhas açorianas.
Uma palavra para o Conselho de Administração do HDES, na sua peregrina ideia de adotar o modelo de encontros semanais com os jornalistas para atualização de informações mas… sem direito a perguntas.
Ora o princípio essencial da atividade jornalística é “perguntar”. Este é o verbo dos verbos para os profissionais de comunicação social.
O jornalista, como procurador da opinião pública, tem a obrigação de perguntar; aos protagonistas é concedido o direito de responder ou não responder.
Limitar à partida o exercício da atividade jornalística ao modelo de “pés de microfone” é uma atitude inqualificável, incorreta e de absoluta falta de respeito. Não pelos jornalistas, mas pelos cidadãos que pagam os vencimentos aos mesmos membros do Conselho de Administração.
Sugiro aos jornalistas e aos seus meios que, no “briefing” da próxima semana, deixem o CA do HDES… a falar sozinho.

Rui Almeida*

*Jornalista

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