No dia 6 de Junho de 1975, em pleno “verão quente”, durante o PREC (Processo Revolucionário Em Curso), realizou-se uma grande manifestação na cidade de Ponta Delgada, com cerca de dez mil participantes, segundo as estimativas então difundidas.
Não vou fazer considerações políticas sobre o chamado “6 de Junho”, sobre as suas causas e as suas consequências. Limito-me a dizer que foi um acontecimento ainda não totalmente conhecido e esclarecido, quanto à sua organização, ao seu enquadramento e à sua motivação. Só com maior distanciamento no tempo a História, no seu justo critério, poderá dizer o que foi realmente o “6 de Junho”.
Eu não participei no “6 de Junho”, mas assisti a essa grande manifestação na maior cidade açoriana, precisamente junto ao Palácio da Conceição, onde então funcionava o entretanto extinto Governo Civil de Ponta Delgada. O antigo Liceu Nacional de Antero de Quental, hoje Escola Secundária, ficava e fica nas imediações. Nessa tarde tão “quente” de emoções, o estabelecimento de Ensino Secundário foi encerrado e os alunos mandados para casa. Eu, então muito jovem, fiquei a ver aquela enorme concentração de pessoas vindas de todos os pontos da ilha de São Miguel.
O que eu presenciei não coincide totalmente com algumas versões que tenho visto serem apresentadas por várias pessoas, algumas das quais tenho a certeza de que não participaram nem viram a manifestação, mas fazem considerações e afirmações sem conhecimento de causa, portanto.
Vou dizer objetivamente e honestamente o que vi e que recordo bem. Para mim, o “6 de Junho” reuniu três manifestações ao mesmo tempo, com objetivos não totalmente coincidentes ou até mesmo diferentes. Havia manifestantes que gritavam pela independência do arquipélago, outros defendiam uma autonomia político-administrativa para as ilhas e outros ainda reivindicavam melhores condições para a lavoura. Entre essas três manifestações, que coincidiram no dia e na hora portanto, não sou capaz de dizer qual era a mais significativa. Vi também elementos mais exaltados e elementos mais calmos.
Conhecia muitos dos manifestantes, vários já falecidos. Jamais me atreveria a citar aqui nomes, todos têm o direito de se manifestar.
O “6 de Junho” teve o seu enquadramento histórico, político e social, num tempo muito conturbado e confuso da vida portuguesa, com excessos de idealismo em todos os lados. Não valorizo nem desconsidero esse acontecimento. Penso apenas que o “6 de Junho” hoje não seria possível, por várias razões, desde logo porque as pessoas já não lutam tanto por ideais, como no passado.
Tomás Quental Mota Vieira