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O efeito Bolieiro

Três vitórias consecutivas depois, já é possível dizer que, nos Açores, existe um efeito Bolieiro.
Sem ainda chegar aos resultados arrebatadores do tempo de Mota Amaral, mesmo assim começa a ser evidente que o eleitorado gosta do feitio apaziguador do líder regional do PSD, vai aderindo, paulatinamente, à sua forma serena de governar e já se habituou às suas intervenções politicamente nada espalhafatosas.
O resultado das europeias do passado domingo provaram uma PSD de Bolieiro em crescendo e um PS a caminhar para o crepúsculo, precisando urgentemente de reflectir sobre a sua actuação enquanto oposição, papel para o qual ainda não arranjou um registo adequado, muito por culpa de protagonistas desgastados e desacreditados. Francisco César vai ter muito trabalho pela frente, sobretudo para criar uma equipa com outra credibilidade. Bem que poderá aproveitar o recém-eleito André Rodrigues, que foi uma agradável surpresa nestas eleições.
No passado domingo, os açorianos não só reforçaram a liderança de Bolieiro, como também disseram que não gostam que atrapalhem a sua governação.
Deram um aviso aos partidos da oposição, como quem vai dizendo que estão fartos de eleições e não querem mais crises políticas.
A forte abstenção que ainda nos envergonha, apesar da queda de seis por cento, é outro sinal de que os eleitores estão cada vez mais distantes dos partidos, continuando a encarar os assuntos europeus como um suplício a que não vale a pena dar atenção.
É pena darmos este triste espectáculo ao país e à Europa, nós que somos das regiões que mais beneficiam da solidariedade europeia.
Os 75% da abstenção açoriana, mesmo com o voto em mobilidade, estão em linha com a média abstencionista registada nos últimos vinte anos de quatro eleições europeias.
Temos uma média de 74% no cadastro, muito longe da média nacional (65%) e até mesmo da Madeira, que nos surpreende com os seus 58%.
Só há duas ilhas que destoam da nossa média vergonhosa: Flores e Corvo, abaixo da média regional.
Duas ilhas que, mais uma vez, no passado domingo, deram-nos uma lição de participação cívica, especialmente os corvinos, com os seus 37% de abstenção, um registo que nem em 1987 os Açores conseguiam.
O resultado mais glorioso de domingo foi a eleição dos três deputados açorianos, um registo histórico que premeia a coragem dos três jovens em se envolverem no mais alto grau da política europeia, dando-nos esperança, com o seu exemplo, de que há talentos nas novas gerações em que devemos apostar.
Agora, é preciso que não nos desiludem e que agarrem esta oportunidade para defender as nossas causas na maior casa da democracia europeia e, acima de tudo, que estejam em contacto permanente com a população açoriana, dando conta minuciosa do trabalho que estão a desenvolver em Bruxelas e Estrasburgo.
Todos eles, especialmente Paulo do Nascimento Cabral, pela sua reconhecida experiência e competência de anos nos corredores de Bruxelas, têm a obrigação de romper com os estigmas políticos dos partidos, que se fecham muito sobre si próprios, e passem a envolver a sociedade civil e os seus representantes na defesa das causas açorianas no Parlamento Europeu.
O desvio do foco europeu para leste, ignorando o Atlântico e as suas ilhas, é um risco cada vez maior na diplomacia europeia, pelo que, compete aos deputados portugueses, particularmente aos açorianos, fazer lembrar nas instituições da Europa que se deve manter vivo o espírito do artigo 349 do Tratado da União Europeia, em defesa das regiões ultraperiféricas.
É preciso lutar, desde logo, para que não aconteça à agricultura e aos transportes, o mesmo que aconteceu às pescas, com a perda do POSEI, criando-se, ao mesmo tempo, o instrumento de apoio necessário às acessibilidades na nossa região, de pessoas e bens.
Felizmente que os grupos das famílias democráticas continuam em maioria, apesar da subida avassaladora da extrema-direita, dando-nos, assim, esperança de que as políticas de coesão nas regiões mais desfavorecidas tenham continuidade.
Noutro plano, é preciso estudar uma fórmula que eleve a categoria das regiões ultraperiféricas, como a nossa, a círculo eleitoral europeu.
Francisco César alertou, na noite eleitoral, que é uma reivindicação muito difícil, porquanto os partidos nacionais não querem perder candidatos a favor das duas regiões autónomas.
É um receio que se compreende, mas é exactamente para isso que os partidos nos Açores e na Madeira têm a sua autonomia própria, para defesa dos cidadãos locais, pressionando as estruturas nacionais com vista a encontrarem soluções mais dignificantes para os povos dos arquipélagos.
Nota final para a Direcção Regional, do Governo dos Açores, que cometeu uma falha na noite eleitoral, ao começar a divulgar os resultados da região antes das 21 horas. Foi um lapso, certamente, mas foi uma ilegalidade que poderia ter consequências desastrosas para a imagem regional, felizmente corrigida a tempo, depois de a termos denunciado no painel de comentadores da noite das eleições na RTP-Açores.
Fechado, agora, mais este ciclo, é preciso começar a olhar para dentro, depois de uma pausa prolongada sem orçamento regional e sem governação que se visse.
Oxalá que Bolieiro e a sua equipa ganhem novo impulso com estes resultados obtidos no domingo, porque os Açores vão atravessar nos próximos meses etapas demolidoras no que toca à execução de investimentos do PRR e dos fundos comunitários à nossa disposição.
Se falharmos as metas, é mais um contratempo para as nossas vidas, que já não são tão boas como todos aspiram.
Se conseguirmos o esforço, então sairemos todos a ganhar e será mais uma prova de como a Europa tem a ver connosco e nos apoia no essencial.
Não podemos é continuar a dar falta de comparência, como aconteceu, mais uma vez, no passado domingo.
Continuar assim é continuarmos a nos envergonhar a todos.

Osvaldo Cabral
[email protected]

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