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Não podemos falhar

Estamos num período crucial para o futuro dos Açores em que não podemos falhar.
Cometeram-se muitos erros neste meio século de Autonomia Política e Administrativa, ao ponto de, ainda hoje, estarmos longe da convergência europeia ou nacional e de atingirmos níveis de desenvolvimento que embalem os Açores para outros patamares.
Temos, agora, mais uma oportunidade no novo ciclo de apoio comunitário e não podemos cometer os mesmos erros e desperdiçar a janela de prosperidade que nos voltam a oferecer.
É proibido falhar, sob pena de nunca mais termos outra oportunidade e de deixarmos às futuras gerações um encargo clamoroso que só nos envergonha.
O nosso maior receio tem a ver com os sinais, que não são lá muito optimistas.
Vemos pouca mobilização e motivação da sociedade política e civil para a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o Açores 2030.
A percepção que fica é que não há estratégia, orientação, nem medidas mobilizadoras para as grandes transformações desejadas.
A nossa economia continua a enfrentar enormes fragilidades, suportando um Estado regional que paga a más horas, que se atrasa na aprovação de incentivos e que, paradoxalmente, vai engordando a sua máquina administrativa à mesma velocidade que aumenta a sua dívida bruta.
E isto não fica por aqui.
A região vai ter que absorver a elevada dívida da SATA, vai ter de pagar a dívida dos hospitais, está há um ano a atrasar o pagamento do IVA turístico aos municípios, que são mais uns milhões, o mesmo acontecendo com o pagamento a fornecedores, que são outras dezenas de milhões.
Com uma população a envelhecer, jovens a emigrar e uma máquina pública monstruosa, lenta e burocrática, com mais de 20 mil funcionários, pouco resta à nossa região para fomentar a produtividade e competitividade.
Quando o mundo vai avançando, nós vamos dando sinais de lentidão e retrocesso.
Enquanto as grandes auto-estradas marítimas vão potenciando os países que delas se aproveitam, nos Açores andamos a proteger uma oligarquia nos transportes marítimos entre o Continente e os Açores, com um modelo obsoleto e castrador da economia regional, em que os privados, se quiserem avançar com os seus negócios, têm que pedir favores ao poderoso cartel de operadores, reguladores que não regulam e governos que limpam as mãos, para fretar um navio.
Quando a Europa e o mundo aproveitam a evolução tecnológica e a Inteligência Artificial, nós, nos Açores, nem conseguimos uniformizar o sistema informático do Serviço Regional de Saúde.
O dinamismo económico da nossa região é tão fraco que nem sabemos gerir o nosso maior activo nas acessibilidades, a SATA, aproveitando o ciclo de crescimento do turismo.
Até a única empresa pública que dá lucro, dá-se ao luxo de distribuir os dividendos pelos accionistas e logo a seguir vai à banca contrair dívida para fazer investimentos!
O contribuinte açoriano é amanhado e aceita tudo.
A sociedade açoriana está a demonstrar, ano após ano, enormes debilidades nos seus níveis de desenvolvimento, com ilhas cada vez mais desertas (85% da população está concentrada em três ilhas), com gente cada vez mais velha, menos gente qualificada, incapacidade de reter talentos, fluxos migratórios na ordem de 1 milhar por ano, empresas descapitalizadas e cidadãos com baixos rendimentos.
Tudo isto é potencialmente insustentável, especialmente numa região que não produz o suficiente para se pagar a si própria.
O recurso permanente ao financiamento exterior torna-se numa opção inevitável, mas incomportável pelos níveis de esforço financeiro que estamos a deixar como herança a futuras gerações.
Desde 2017 a dívida financeira pública, reconhecida pelo Governo dos Açores, medida em percentagem do PIB regional, cresceu uma média de 4,4% ao ano, tendo passado de 41,1% em 2017 para mais de 60% em poucos anos.
A economia açoriana via sendo impulsionada aos fogachos, especialmente no Verão, derivado aos sectores do turismo e actividades conexas, mas sem que isto se reflicta, com forte impacto, no rendimento da população em geral.
As pressões inflacionistas e as taxas de juro deixaram muitas famílias e empresas debilitadas, algumas das quais já sem possibilidades de recuperação.
É cada vez mais difícil convergir a nossa economia com a nacional, porque no mercado produtivo regional persistem problemas estruturais na internacionalização do tecido produtivo e, como tem alertado o Conselho Económico e Social dos Açores (CESA), no baixo nível de qualificação, que limita o desenvolvimento da região, com fortes implicações na baixa produtividade.
A permanente taxa de escolaridade muito longe da média nacional, especialmente no ensino secundário, é outro factor limitativo do desenvolvimento regional.
É claro que os políticos traçam outro retrato, mais optimista, do nosso estado económico e político.
Mas também sabemos que, muitos deles, não vivem no mundo real.
E quando não se sabe ler os sinais da realidade que nos rodeia, é certo que vamos ter problemas graves pela frente.
Não é isto que desejamos, principalmente nesta fase crucial para dobrarmos o cabo das tormentas.
A oportunidade é agora ou nunca.
Estamos proibidos de falhar.

Osvaldo Cabral
[email protected]

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