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Depois da tempestade vem a bonança

Os resultados das últimas eleições legislativas, que foram confirmados pelos das eleições do parlamento europeu, demonstram que o campo democrático é, em Portugal, largamente maioritário. Aliás, essa realidade foi, não apenas confirmada, mas claramente ampliada.
Também nas duas eleições, foi confirmado o empate técnico do partidos socialista e social-democrata. Se duvidas havia, ficaram inteiramente esclarecidas. São esses dois partidos que repartem, entre si, a esmagadora maioria dos votos dos portugueses.
Depois das tempestades que caracterizaram os dois actos eleitorais, veio a bonança. Tendo um deles formado governo por uma maioria, extremamente tangencial, e o outro ficado a liderar, numericamente, a oposição. O descontentamento e a desilusão com a política tradicional ficaram, contudo, robustamente representados pelo partido de extrema-direita.
Tendo em conta o que aconteceu na Europa, o nosso país está, para já, numa maré de bonança, mas que lhe endossa grandes responsabilidades. Os partidos maiores têm, assim e em conjunto, a responsabilidade de credibilizar o nosso regime através de uma governança e de uma oposição, responsáveis e dialogantes, que respeitem a alternância democrática e estimulem um civismo activo e não demagógico.
A ascensão da extrema-direita, caracterizada por políticas nacionalistas, xenófobas e autoritárias, tem ocorrido em várias democracias ocidentais. Partidos como a Frente Nacional na França, o Partido pela Liberdade na Holanda, a Alternativa para a Alemanha (AfD) na Alemanha e o Chega em Portugal, para citar alguns, ganharam destaque eleitoral e influência política.
O crescimento desses movimentos não ocorreu no vácuo, antes os partidos tradicionais tiveram uma parcela significativa de responsabilidade nesse processo. A desilusão com esses partidos tem sido um factor crucial para o surgimento da extrema-direita. Partidos que falharam nas respostas, de forma adequada, às necessidades e preocupações da população.
Questões como desemprego, insegurança económica e crise de identidade nacional foram negligenciadas ou/e mal administradas. A percepção de que os partidos, há muito, estabelecidos estão desligados das realidades quotidianas dos cidadãos criou um terreno fértil para movimentos populistas que prometem mudanças radicais e tudo e mais uma bota.
A crise de representação e os escândalos de corrupção também minaram a confiança nos partidos tradicionais. Quando os eleitores percebem que os líderes políticos estão envolvidos em práticas corruptas e que as instituições democráticas não os representam adequadamente, eles tornam-se mais receptivos a alternativas que prometem limpar o sistema e restaurar a ordem e a moralidade, deitando mão, sem escrúpulos, à demagogia desenfreada.
A questão da migração tem sido um ponto de discórdia significativa. Os partidos tradicionais não conseguiram, por norma, formular políticas de migração que equilibrem a segurança e a integração social, antes alimentando temores e ressentimentos entre a população nativa. A extrema-direita utiliza, sem rebuço, esses sentimentos para fomentar um discurso de “nós contra eles”, reforçando a identidade nacionalista e o medo do outro (vejam-se as propostas desta semana do Chega).
Tudo isso se tem passado, “mutatis mutandis”, no nosso país.
Sendo esta bonança, agora, a grande oportunidade para PSD e PS fazerem uma profunda autocritica e assegurarem que não vamos continuar a ter mais do mesmo. Os eleitores estão fartos do lodaçal em que a política se tem vindo a tornar e, se tudo assim continuar, vai aumentar, ainda mais, a abstenção e a fuga para a extrema-direita.
A janela de oportunidade será curta.
Saúdam-se, a nível regional, o desafio lançado por Francisco César, para um pacto de regime para a SATA e a resposta positiva de José Manuel Bolieiro. Esperando-se, agora, que passem das palavras aos actos, iniciando um período de coabitação política e cívica que, realmente, ponha, em primeiro lugar, os Açores e os açorianos.
Bem disso precisamos, todos nós.

António Simas Santos

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