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Politicamente (in)Correto

Todos os anos a história se repete (e ainda bem para os Açores, atalho já!): as reservas atingem níveis próximos do limite, torna-se complicado encontrar disponibilidade de voos de e para as cinco “gateways”, os empresários de aluguer de automóveis enchem os bolsos com preços exorbitantes – porque sabem que as frotas estarão, mesmo assim, quase totalmente ocupadas… – a indústria hoteleira sobe ao limite do admissível (ou até o ultrapassam) as diárias de estadia em hotéis.
Os Açores, de há anos a esta parte, “estão na moda” para os principais mercados emissores.
Um deles, de que nos esquecemos amiúde mas que é absolutamente essencial, porque mais transversal e homogéneo, porque mais próximo e “fiel”, é o mercado continental.
Independentemente das condições em que o turista oriundo do Porto ou de Lisboa (e agora até de Faro, fruto do oportuno e estratégico reatar de ligações diretas sazonais entre o arquipélago a capital algarvia com a Azores Airlines) possa viajar, com “pacotes” mais ou menos equilibrados e negociados previamente pelas operadoras, é um alvo fundamental dos objetivos açorianos nesta indústria.
Quando a Ryanair e a EasyJet estavam no auge da operação, muito se questionava o real poder de compra e, por consequência, o perfil dos que visitavam os Açores beneficiando das tarifas muito “low cost” (sobretudo se se tratasse de bilhetes adquiridos a meses das viagens…), destas companhias.
As estatísticas não mentem e, ao longo dos anos, as linhas aéreas de baixo custo alavancaram sobremaneira todas as épocas turísticas do arquipélago, porque mantiveram regularidade e fiabilidade na operação: voos simplificados nos processos, venda exclusiva de bilhetes “ponto-a-ponto”, boa oferta semanal, aviões de nova geração e pontualidade quase total.
Parecendo que não, estes são aspetos essenciais na avaliação (na primeira de todas) efetuada pelo potencial visitante de ilhas paradisíacas a meio do Atlântico norte mas cujo sonho se pode desvanecer na primeira abordagem importante: a viagem.
E, nesse capítulo, malgrado o desinvestimento das “low cost”, a TAP olha agora para os Açores com outros olhos. Pudera: o seu Presidente conhece bem as linhas com que se cose o grupo SATA, as suas virtudes e dificuldades, e não deixará de perceber na região uma oportunidade significativa e estratégica para que a companhia nacional de bandeira possa estabelecer laços fortes e ofertas diferenciadas.
O principal desafio na capacidade de transporte na entrada e saída dos Açores coloca-se, agora, à Azores Airlines.
Haverá sempre quem considere insuficientes ou mal pensadas as conexões, o número de ligações, a capacidade instalada de transporte de passageiros de fora da região e entre as diversas ilhas.
Haverá sempre quem lembre (e bem…) que o processo de reavaliação e posterior reconversão da frota da SATA Air Açores já deveria ter sido iniciado.
A este propósito, importa olhar para o desgaste da frota, para o número médio de anos de operação de cada aeronave e para o mercado, que hoje permite opções mais económicas e ecológicas, com condições de operacionalidade (menor dispêndio de combustível, tempo controlado em rotação, comodidade de cabine).
E este é um trabalho que está a ser efetuado no “backstage”, nas estruturas técnicas, mas cujo cronograma deve obrigar a soluções e decisões no mais curto espaço de tempo possível.
Quanto à Azores Airlines, urge tomar também decisões de fundo.
Que sejam orientadas e estratégicas.
Que não sejam eminentemente políticas, mas profundamente técnicas.
Que priorizem um plano de gestão operacional de médio e longo prazo (e, neste particular, a reconversão da frota está quase concluída, prevendo-se a entrada em linha de um Airbus A321neo XLR no próximo ano e o gradual “phase out” dos atuais três Airbus A320).
Mas, sobretudo, que coloquem os interesses da região à frente das querelas partidárias de ocasião, dos movimentos sindicais do momento e das conversas cruzadas de bastidores e redes sociais com que muitos medem a intensidade e a viabilidade das suas ideias e opiniões.
Voltaremos em breve ao assunto, transversal e estruturante para a mobilidade dos açorianos e dos Açores, porque o pior que poderia suceder ao grupo SATA seria a designação de um Conselho de Administração de clientelismo político.
A empresa necessita de gente com conhecimentos em diversos campos, que aposte na visão, na estratégia de mercado adaptada ao segmento da aviação comercial e numa organização interna interligada, forte, focada e, sobretudo, motivada.
Entretanto, o mais importante, mesmo, é salvaguardar uma boa operação de verão.
Sobretudo, que não desiluda, que cumpra ligações e horários, que garanta o fluxo acrescentado da época.
Se isso for conseguido, terão sido ganhos o fôlego e o lastro para importantes e decisivas intervenções de fundo.

Rui Almeida*

*Jornalista

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