Vai por aí um grande alarido sobre a China e o comportamento, no plano interno e no plano internacional, dos respectivos Órgãos Governativos. Verifica-se com preocupação o crescimento do poder chinês no Mundo e a agressividade demostrada pelas suas Forças Armadas relativamente a Taiwan, antigamente designada com o nome de Formosa, dado pelos navegadores portugueses que primeiro a visitaram. Agora a questão aparece alargada também às Filipinas e à invocação de um pretendido acesso exclusivo aos mares nas suas imediações, que a China invoca como sendo seu e até para isso tem vindo a construir e armar umas quantas ilhas artificiais sobre rochedos por lá existentes.
Convém não esquecer o impacto da China no comércio internacional. Já não deve haver lugar onde não esteja instalada uma loja de produtos chineses, em geral muito baratos e de qualidade crescente. No princípio eram só coisas triviais, mas hoje são já carros eléctricos e até aviões a competir com as marcas europeias e americanas outrora em posição dominante. Longe vai o tempo em que de lá vinham sobretudo camisolas interiores, conhecidas com a designação inglesa de t-shirts, e o Ministro do Comércio da China andava por aí lembrando quantos milhões delas era preciso ao seu país vender para obter divisas para comprar um Boeing ou um Airbus apenas…
Fala-se abertamente de guerra comercial e invoca-se a possibilidade de aplicar pesadas tarifas às importações vindas da China; mas o que os responsáveis temem é que a subida de grau das pretensões chinesas nos arrastem para um conflito armado, de consequências devastadoras. Os dirigentes americanos parece que se preparam já para tal confrontação, para onde podem ser até solicitados pelos seus aliados asiáticos, que estão na linha da frente dos excessos militares da China, seja o Japão, as Filipinas ou até o Vietnam. Não menciono a Coreia do Sul porque ela já tem suficientes moléstias com o seu vizinho acima do Paralelo 38, a Coreia do Norte e a sua feroz ditadura hereditária, sempre a fazer novas provocações com o lançamento de mísseis, enquanto o povo morre de fome.
Espanta-me e até me indigna que haja quem revele simpatias para com tão repugnantes ditaduras, com as quais só outros nefandos ditadores, como o russo, se devem sentir bem. Claro que nas relações internacionais vigora o princípio da não interferência nas questões internas de cada país e por isso temos de conviver todos uns com os outros. Mas há diversas formas de relacionamento pacífico entre as nações e cada um é livre de ter e exibir as suas próprias atitudes e preferências.
A mim sempre me estranhou que o Presidente da China incluísse nos seus roteiros pela Europa uma visita a Portugal. Tive oportunidade de conhecer pessoalmente vários titulares do cargo, não o actual, que já se barricou no cargo em termos praticamente vitalícios. Um deles, cujo nome agora não me ocorre, chegou ao ponto de cantar a cappela, uma canção de amor chinesa, no final de um jantar oficial no Palácio da Ajuda, embalado pela sessão de fados e guitarradas com que os convidados tinham sido brindados… Entretanto, capitais públicos chineses foram adquirindo posições de relevo na venda ao desbarato de empresas e de participações públicas portuguesas, na fase das privatizações, impostas pela troika dos nossos credores após a falência do Estado decorrente da governação socialista do muito justamente lembrado Primeiro Ministro José Sócrates. Com isso ficou Portugal ligado aos interesses da China e o Governo Português tem mostrado a sua preocupação em não hostilizar tal país, ignorando até os compromissos assumidos por ambas as partes em relação a Macau, que está passando por um processo bastante semelhante ao de Hong Kong em termos de supressão das liberdades públicas.
Em alguns casos, até mais recentes, essas visitas mais ou menos oficiais, incluíram a Região Autónoma dos Açores e não faltou quem imediatamente falasse do interesse chinês em eventualmente substituir os americanos na Base das Lajes… Ora, a realidade é que as Forças Armadas Americanas não deixaram as nossas ilhas nem consta que sequer o considerem, mesmo num longínquo futuro. E quando tanto se fala na diáspora açoriana na América, até dá vergonha pensar que haja quem pretenda trazer para aqui os navios de guerra e os aviões da República Popular da China.
A verdade é que a China se fez de novo uma grande potência com a ajuda do Ocidente desenvolvido. O capital europeu e americano correu para o Oriente em busca de oportunidades de investimento, aproveitando excedentes de mão de obra submissa, disposta a aceitar salários baixos; e os governos rejubilaram com a possibilidade de ter o povo contente com o consumo desenfreado de produtos baratos. A entrada da China na Organização Internacional do Comércio veio consagrar a sua inserção nos mercados internacionais, sem considerar o que isso significava de fechar os olhos ao dumping social e ambiental por tal país praticado com sórdidas desculpas. Entretanto a indústria no Ocidente ia desaparecendo e o desemprego aumentava e ainda não está resolvido o problema, antes se agrava sobretudo entre os mais jovens, forçados a atrasar o seu começo de vida própria e dar início a uma família.
A situação vigente resulta de opções tomadas conscientemente – ou terá sido inconscientemente, sem ponderar as naturais consequências? Como quer que seja, agora temos é de enfrentar a situação e correr os riscos e os perigos que dela podem derivar.
João Bosco Mota Amaral*
*(Por convicção pessoal, o Autor não respeita o assim chamado Acordo
Ortográfico)