Faz hoje exactamente uma semana que sugerimos aqui um novo modelo de ‘governance’ para a SATA, porque nunca deveria estar dependente dos políticos.
Escrevemos, então, o seguinte: “O Grupo devia ter um Conselho Geral da Holding, composto por personalidades de reconhecido mérito da região, especialmente empresários de sucesso, que, por sua vez, nomeava um órgão executivo para a Azores Airlines e outro para a Air Açores, para que uma não contaminasse a outra, como acontece. Os gestores responderiam apenas ao Conselho da Holding, desligando-se, assim, da tutela política. É que a política e a incompetência de muitos gestores e secretários regionais foram o cancro da SATA”.
Poucos dias depois o Governo dos Açores anunciava a criação de um “Conselho Estratégico” para a companhia, composto por 7 a 9 personalidades a designar.
Desconhecemos como irá funcionar este “Conselho Estratégico”, mas só o facto de não poder designar os órgãos de administração já é um mau começo.
Como se viu, no mesmo dia o governo nomeou um ex-Director Regional para a presidência da companhia, voltando-se à tentação política antiga de designar pessoas da área governativa para liderar uma empresa sempre em crise.
Podem escrever na pedra: não vai dar certo!
O histórico da gestão SATA é mais do que conhecido. Enquanto ela estiver politizada, nunca mais se endireita.
É escusado virem, agora, com o argumento de que os prejuízos têm a ver com as OSP e outras desculpas.
Trata-se de um problema de gestão empresarial, que não existe na SATA, continuando-se na gestão política, que a destrói todos os dias.
As permanentes intromissões da tutela levaram mesmo à queda do Secretário dos Transportes no mandato anterior de Bolieiro, enquanto que os dos governos do PS deixaram um rasto de destruição e ruína.
Apesar das receitas da companhia continuarem a bater recordes (mais 35% no ano passado), ela não sai do passivo sem uma profunda reestruturação, que os gestores políticos não têm coragem de fazer ou são impedidos de fazer.
A actual estrutura de custos da SATA é incomportável para a sua dimensão e tem um impacto em todo o grupo, afectando a Air Açores, que deveria estar fora deste tipo de gestão.
Mesmo enfrentando bons ventos, como o aumento das receitas e poupança de combustível, há outros factores, nos gastos operacionais, que necessitam de atenção.
A própria empresa é a primeira a reconhecer que a descida e estabilização do preço do petróleo, comparativamente a 2022, permitiu mitigar algum do impacto do aumento da operação e influenciou os gastos com combustível no ano passado, responsável por 29% de custos da companhia, resultando num aumento de 3%, aproximadamente 2,3 milhões de euros.
A empresa reconhece, igualmente, que os Gastos com Pessoal, incluindo a componente de custo de cedência de pessoal entre empresas do Grupo SATA, apresentaram um aumento de 9 milhões de euros, correspondendo a um crescimento de 21% em relação a 2022, principalmente pelo aumento de rubricas dependentes da atividade operacional, atualização de tabelas salariais e ao descongelamento de carreiras, um assunto que vai estar sempre em cima da mesa das administrações pelas acções fortemente reivindicativas dos vários sectores laborais.
O único caminho para salvar a SATA é tirá-la das mãos dos políticos.
Durante dois (longos) meses o governo teve oportunidade para desenhar uma solução mais robusta e credível, que operasse na SATA uma aterragem suave e duradoura.
Mas preferiu borregar.
Osvaldo Cabral
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