O coronel Vasco Lourenço vem desde há muito a assumir atitudes um pouco estranhas, num protagonismo exagerado e em alguns aspectos contrariando a verdade histórica.
Em primeiro lugar, ele apresenta-se como quase “dono” da Revolução de 25 de Abril de 1974, desvalorizando, por vezes, a intervenção de camaradas militares. Ele é sempre o “maior”, o que não corresponde aos factos.
É verdade que ele participou em reuniões preparatórias do golpe militar, mas encontrava-se colocado no Quartel-General de São Brás, em Ponta Delgada, no dia 25 de Abril de 1974, pelo que não participou, de modo algum, nas operações militares que conduziram ao derrube da ditadura. No entanto, ele fala como se tivesse orientado as tropas no terreno. Não orientou e ainda bem que não orientou, porque talvez o resultado tivesse sido negativo…As honras cabem aqui ao grande capitão Salgueiro Maia.
Depois fala do movimento militar de 25 de Novembro de 1975, que devolveu a pureza inicial de ideias e ideais ao processo revolucionário. E fala para se declarar como principal rosto desse movimento militar, que de facto apoiou, mas também não foi o mais destacado protagonista operacional. Foi o general Ramalho Eanes quem orientou as forças militares naquele dia, como todas as imagens mostram e documentam.
O chamado “Grupo dos Nove”, que esteve na origem do movimento militar de 25 de Novembro de 1975, teve como ideólogo o coronel Ernesto Melo Antunes, que também já tinha sido o ideólogo do Movimento das Forças Armadas e, por consequência, da Revolução de 25 de Abril de 1974. O coronel Otelo Saraiva de Carvalho elaborou o plano operacional. É opinião geral que Melo Antunes era o militar mais culto e com maior preparação intelectual de todos os que participaram no golpe de Estado. Vasco Lourenço não é um homem culto. Basta ver como se expressa nas entrevistas à comunicação social…
O coronel Vasco Lourenço criou com outros militares a Associação 25 de Abril. Até aqui tudo bem. O problema é que ele aos poucos transformou a Associação 25 de Abril num palco de protagonismo pessoal exagerado: ele e a Associação 25 de Abril parecem a mesma e a única coisa…Os outros militares de Abril parecem não existir ou não terem existido.
Vasco Lourenço tem feito declarações infelizes sobre outros militares que participaram na Revolução de 25 de Abril de 1974, nomeadamente sobre o general António Ramalho Eanes. Além de ser uma deselegância, é uma grande injustiça. Ramalho Eanes teve a coragem de se apresentar a sufrágio eleitoral por duas vezes, alcançando a Presidência da República. Os seus dois mandatos foram marcados pelo equilíbrio, pela ponderação, pela honestidade e pela dignidade. Vasco Lourenço nunca foi legitimado eleitoralmente. Teve o bom-senso de nunca se candidatar a qualquer cargo político…
Em conclusão: Vasco Lourenço tem, obviamente, um lugar na história da democracia portuguesa, mas não o lugar de enorme relevo que julga ter. Ele deveria ser mais humilde.
Por último, é preciso realçar que o movimento militar de 25 de Novembro de 1975 não foi de direita: foi, sim, protagonizado por militares conotados ou próximos da esquerda moderada e que já tinham participado na Revolução de 25 de Abril de 1974. O movimento militar de 25 de Novembro de 1975 não foi, nem de perto nem de longe, um “28 de Maio de 1926”, revolução que pôs termo à I República em Portugal e abriu caminho para um longo regime ditatorial.
Subverter a verdade histórica é um erro que nunca resulta, porque mais cedo ou mais tarde a verdade histórica acaba sempre por se impor. Não sou historiador. Os elementos históricos aqui referenciados são todos públicos. Apenas pretendi lembrar o que não pode ser desvirtuado.
Tomás Quental Mota Vieira