A delicadeza de se ser educado leva a calar-nos quando antes devíamos falar. É um legado parental de família urbana cristã que dificilmente se vai perder nos próximos cinquenta anos.
Quando um jornalista, há um par de meses, na sua coluna de ocasião, teve a generosidade de chamar “iletrado” a outrém, que é tudo menos iletrado, supostamente em nome de uma cruzada contra a demagogia, pensei duas vezes se daria a cara pela defesa do visado.
Eu, que detesto esconder-me sob esse manto que é a escrita, onde anonimamente podemos atirar à esquerda e à direita sem ter de nomear quem não queremos;
Eu, que não gosto nada do género de opinião oca que expõe putativos ódios sem revelar nunca o nome ou credo;
E, por isso, não comentei. Em primeiro lugar porque responder à demagogia desperta mais demagogia. E, segundo, porque “iletrado” no século XXI é mesmo o indivíduo que não procura saber da verdade do outro e tende em menosprezá-lo e difamá-lo com argumentação falsa.
Só que a elegância não é a arte dos tolos. É a arte daqueles que, sabendo esperar, são ponderados na análise, equilibrados na argumentação e justos na resposta.
De modo que, qual demagogia, qual carapuça, vou ali ao mar dar um mergulho e regresso com as ideias refrescadas para decidir que livro ler, se o de Ilian Kretinov ou Myscha Idiotov.
Luís Soares Almeida*
- Professor de Português
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